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Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing (FBM).
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Data:
01/08/00
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A AL em ritmo de Fox

A vitória do ex-executivo da Coca-Cola, Vicente Fox, para a presidência do México, nas primeiras eleições livres após 71 anos de governo do Partido Revolucionário Institucional (PRI), poderá dar novo e decisivo impulso à integração latino-americana. A primeira declaração de Fox, que deverá ser empossado em dezembro próximo, não deixa dúvidas quanto ao caminho a ser trilhado pelos mexicanos sob o seu comando. "Vamos acelerar o processo de integração da economia mexicana com a dos demais países latino-americanos", disse ele. E isso muda tudo.

Nos últimos anos, apesar do discurso favorável à América Latina, o México manteve sua política externa alinhada com a dos Estados Unidos, o que lhe rendeu a entrada para o Mercado Comum da América do Norte, o Nafta; e com a da União Européia, o que lhe valeu um acordo comercial e de investimentos privilegiado.

Houve, também, no início deste ano, uma discreta aproximação com o Brasil e o Mercosul.

A verdade é que o México e o Chile estavam "desgarrados" dos demais hermanos do subcontinente, atraídos pelo sonho de entrar no fechado "clube" do Primeiro Mundo pela estreita porta do Nafta. Os mexicanos foram aprovados no vestibular de ingresso. Já os chilenos, impacientes, aguardam a sua vez.

Com as recentes eleições de Fox, no México, e de Lagos, no Chile, esse panorama começou a mudar. Os chilenos já anunciaram a intenção de integrar-se ao Mercosul até o final deste ano e os mexicanos, talvez decepcionados com o papel de primos pobres do Primeiro Mundo, já sonham com um retorno à América Latina.

Surpreso com a votação recebida nas urnas, e com a facilidade com que os eleitores "sepultaram" a eficaz máquina de propaganda do PRI, Fox captou a mensagem do eleitorado, que quer o pleno desenvolvimento econômico, social e político, mas sem pressa e com identidade cultural própria. Em outras palavras, os mexicanos disseram não ao continuísmo do candidato oficial do PRI por receio de, em pouco tempo, transformarem-se em canadenses latino-americanos.

Por tal motivo, em suas primeiras declarações como presidente eleito, Fox procurou tranqüilizar seus eleitores com a promessa do retorno à América Latina. A escolha feita pelo PRI foi fazer do México o primeiro país em desenvolvimento a ser admitido no Nafta, em companhia dos Estados Unidos e do Canadá. Mas, devido às óbvias diferenças entre a sua economia e a dos outros dois parceiros, coube-lhe nesse bloco, por enquanto, apenas o papel de primo pobre. A alternativa, ensaiada por Fox, é voltar a colocar o seu país no "clube" dos emergentes, que são prestigiados tanto por norte-americanos como por europeus.

Pode-se concluir disso tudo que, em escala menor, aconteceu com o México o que poderá suceder a toda a América Latina, caso o cronograma para a criação da Alca (Associação de Livre Comércio das Américas), previsto para 2005, não seja revisto. Em tal contexto, o caso mexicano e a conseqüente frustração do seu povo, após o apressado ingresso no Primeiro Mundo, é exemplar para todas as demais nações latino-americanas e do Caribe.

Daí a promessa feita por Fox a seus conterrâneos. Condições para transformá-la em realidade o México as tem de sobra: é líder natural e interlocutor privilegiado da América Central, do Caribe e até de alguns países andinos; tem excelentes relações com o Mercosul; e seu setor produtivo tem mais em comum com os do Brasil, da Argentina e do Chile do que com os dos Estados Unidos e Canadá.

O único ponto fraco de Fox é a falta de quadros para administrar o México. Mas isso não chega a ser problema. Em pouco tempo, ele poderá completar sua equipe atraindo os melhores e mais experientes funcionários da máquina do PRI.


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