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Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing (FBM).
E-Mail
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Data:
01/08/01
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O Protocolo de Gênova

Aos poucos, em meio a violentas manifestações, vão surgindo os primeiros traços daquilo que será o futuro perfil da globalização, evidentemente, com um caráter bem mais humanista do que a atual. Curiosamente, os maiores protestos contra o que ainda podemos chamar de globalização selvagem tem partido de entidades localizadas em países mais industrializados e não - como seria de se esperar - de nações mais pobres. Ao contrário do que analistas internacionais têm dito a respeito dos resultados práticos da recente reunião do G-8 (grupo que engloba as sete nações mais industrializadas do mundo e a Rússia), realizada sob forte aparato de segurança, em Gênova, na Itália, os avanços obtidos em tal encontro foram notáveis. Só o isolamento diplomático do governo americano, na questão do redução da queima de combustíveis fósseis, já é suficiente para atestar o sucesso do evento. Mal tinha acabado a reunião de cúpula do G-8, os representantes diplomáticos da União Européia e do Japão, apoiados por boa parte dos países emergentes, dentre os quais Brasil, Austrália, e México, aprovaram, em Bonn, na Alemanha, no encerramento da Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas, que se realizou simultaneamente com o G-8, a redução em 5,12% do atual nível de queima de combustíveis fósseis até 2012. É pouco, criticaram os defensores do meio ambiente, mas, sem dúvida, é um começo promissor.

Embora esse tenha sido o avanço mais palpável, ocorrido nesses dois eventos internacionais, não foi o único. A inclusão do continente africano na globalização da economia, o perdão total das dívidas externas dos 23 países mais pobres do mundo, boa parte deles localizados na África; e a formação de um fundo, sob a administração da ONU, para combater a malária, a tuberculose e a AIDS, foram as outras boas novidades, anunciadas em Gênova.
Tudo somado (as boas intenções, o perdão da dívida dos mais pobres e a redução na queima de combustíveis fósseis, ainda que pequena) não é pouco. Além disso, ao que tudo indica, os protestos contra a chamada globalização selvagem estão longe de terminar.
O que conhecemos hoje como globalização, cujos motores são a integração regional e a formação de grandes blocos comerciais, não é exatamente uma novidade na História Ocidental. Já houve processos semelhantes, embora de natureza diferente. Os romanos, por exemplo, realizaram, com sucesso, a primeira globalização política de que temos notícia. Depois, sob os escombros do Império Romano, a Igreja Católica fez, com igual êxito, a globalização religiosa européia, durante a longa Idade Média. Ambas foram realizadas à força.

No entanto, as globalizações que se seguiram - a artístico-humanista, no período do Renascimento italiano; a geográfico-mercantil, mais ou menos à mesma época, com os grandes descobrimentos, feitos, inicialmente, por Portugal e Espanha, e, depois, pela Holanda, França e Inglaterra; e a tecnológica, fruto das seguidas revoluções industriais, que começaram com o vapor, na primeira metade do século 19, na Inglaterra; - já tiveram um caráter mais pacífico.
A globalização econômica a que estamos assistindo, neste início de século 21, está sendo feita em cima das demais. Portanto, sua tendência futura será a de cada vez mais incorporar todas as coisas boas das anteriores e de, aos poucos, depurar as ruins. Assim sendo, mais cedo ou mais tarde, ela mostrará sua face humana!


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