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Autor:
Samir Keedi
Qualificação:
Professor, autor do livro Transportes e seguros no comércio exterior e tradutor do Incoterms 2000.
E-Mail
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Data:
02/03/01
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BRASIL 2000 - FINALMENTE O ANO DO COMÉRCIO EXTERIOR

O milênio acabou e, finalmente, neste seu último ano, antes muito tarde do que nunca, parece que o país acordou para o comércio exterior. Acho que se pode concluir que o paciente ainda respira e que breve, talvez, possa sair da UTI e sobreviver sem os cabos e tubos de oxigênio, levando uma vida normal.

No ano 2000 o Brasil voltou a ter esperanças e o crescimento retornou. Isto a despeito de toda a contra-força realizada pelo governo ao longo dos últimos anos, evitando a sua ocorrência. Pena que isto não tenha sido devidamente combatido pela iniciativa empresarial privada, sempre submissa aos caprichos de poucos encastelados nos gabinetes governamentais e que parecem desconhecer o que ocorre no Brasil real.

Conforme já notado, ao que tudo indica, finalmente o MINCEX-Ministério de Comércio Exterior já é uma realidade, só faltando a sua oficialização e promoção do secretário da CAMEX a ministro. Parece que isto não muda muito, mas já pudemos ver uma voz mais ativa no comércio exterior, e devidamente respeitada. As medidas para a valorização das exportações, geradas em Brasília, nasceram há pouco na maternidade ENAEX 2000.

O ano 2000 também trouxe a tona, mais do que em qualquer outra época em nossa história, a relevante discussão e ação sobre a mudança de trajetória da nossa matriz de transporte já envelhecida e calcada basicamente sobre o veículo rodoviário. Este é um modal de extrema importância conforme todos nós reconhecemos, mas utilizado de forma inadequada. É de farto conhecimento que não se pode sobreviver sem este modal, mas a sua utilização deve seguir uma lógica que beneficie a nação, agindo dentro de parâmetros bem definidos, ou seja, de auxiliar dos demais modais, valorizando a multimodalidade e a intermodalidade, ou seja, uma atuação mais nobre do que a atual.

A privatização da malha ferroviária, bem como a atenção e investimentos realizados nas hidrovias brasileiras, abre um novo caminho para o transporte de nossas mercadorias para e dos nossos portos e aeroportos, além de melhorar a distribuição nacional, abrindo perspectivas excelentes para o futuro.

Também faz parte desta perspectiva e breve futuro a nossa armação. A nossa marinha mercante praticamente desapareceu nas últimas duas décadas, tendo recuando de cerca de 30% de participação no nosso comércio na década de 70 para os míseros cerca de 1% hoje. Isto a despeito de termos uma das maiores costas marítimas mundiais, e estarmos confinados nas nossas ligações terrestres ao comércio com poucos países, estando os mais importantes compradores e fornecedores situados além-mar.

De qualquer modo, também melhor agora do que no quarto milênio, perdendo também o terceiro, a distribuição física de nossas mercadorias tem na cabotagem uma nova esperança, que neste quesito a nação é campeã já que um de nossos ditados mais famosos é de que a esperança é a última que morre, e na realidade nunca morre, o que daria uma excelente tese de doutorado para saber porque isto ocorre, embora estejamos, após 508 anos, tentando chegar ao terceiro mundo que deixamos já há muito.

A cabotagem foi redescoberta e cresce a olhos vistos, tentando fazer a sua parte e ajudando a reduzir o custo Brasil, tanto interna quanto externamente. Pena que, mesmo já não tendo mais marinha mercante, não tenhamos aberto a cabotagem oficialmente para a iniciativa privada estrangeira, o que aceleraria o processo de substituição dos modais para algo mais lógico do que o que ocorre hoje. Ficamos enterrando o pescoço num buraco na terra, como faz o avestruz, fingindo que a cabotagem está sendo feita por empresas brasileiras, apenas porque elas conservam os seus nomes e sedes nacionais e não foram, neste sentido, incorporadas às empresas controladoras.

Dentro do novo espírito que toma conta do governo, a da salvação nacional via comércio exterior, temos até um novo discurso e impulso da construção naval via condições ditas privilegiadas, de modo a tentarmos voltar a um mercado no qual já fomos príncipes, pois muitos se lembram de que o país já foi o segundo maior construtor de navios do mundo, tendo deixado escapar esta condição e quebrado toda a nossa indústria naval.

Esperamos, no entanto, que todo este discurso não seja mais uma vez de simples passagem demagógica e que o país, finalmente, entre em rota de crescimento acelerado e lógico, reconhecendo que também tem um povo, e não apenas governo.

É preciso voltar a sonhar com a meta de 100 bilhões de dólares de exportação, cujo primeiro passo já foi dado em 2000 com crescimento de mais de 15% nas nossas vendas externas. Precisamos nos mirar no grande irmão do norte, que só de déficit na balança comercial tem cerca de 300 bilhões de dólares ao ano, enquanto a nossa exportação não chega sequer a 20% apenas do seu déficit, e nem a metade das exportações mexicanas.


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