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Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente do Conselho Deliberativo da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB).
E-Mail
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Data:
02/04/02
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Um plano B para a Alca

Depois que George Bush impôs sobretaxas às importações de aço, o Itamaraty teve que colocar em prática um plano alternativo ao cronograma oficial de implantação da Alca. Ele já havia sido previsto e sua adoção estava à espera do momento certo que veio com a nova onda protecionista americana.

O plano B para a Alca parte de uma premissa realista. É a de que com ou sem a Alca o Brasil terá de dobrar suas exportações até 2005 e triplicá-las até o final da década. Dessa forma, a eventual adesão à Alca - dentro do prazo previsto no cronograma ou fora dele - ganha importância menor.

Recentemente, ao comentar a nova recaída protecionista americana, o presidente Fernando Henrique Cardoso deixou claro que se, por qualquer motivo estranho à sua vontade, o País ficar fora da área de livre comércio das Américas, isso não será nenhuma tragédia.

A resposta da diplomacia comercial brasileira veio rápida: acordos, que já estavam sendo negociados e que daqui para frente serão acelerados, com Chile, México, Comunidade Andina e China. Obviamente, também faz parte do plano B criar uma zona de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia, a qual também foi atingida com as restrições ao aço.

Para o Brasil, mais importante do que entrar para a Alca é ampliar a sua participação no comércio internacional de mercadorias e de serviços.

E há dois bons motivos para isso: o tamanho do mercado interno e sua capacidade de expansão e o dinamismo do setor exportador, puxado pelo excelente desempenho dos manufaturados e do agrobusiness, desde a desvalorização do real, em janeiro de 1999.

É bom notar que a "explosão" dos manufaturados e dos produtos agrícolas e agroindustriais destinados à exportação se deu apesar da elevadíssima carga tributária (34% do PIB) que incide sobre o setor produtivo e em boa parte também exportador.

Há dois fatores adicionais que, com certeza, darão novo impulso ao comércio exterior: tributos, contribuições e taxas, que hoje oneram em cascata os produtos de exportação, serão gradativamente retirados da cadeia produtiva; e, dos novos projetos de expansão industrial, em estudo no BNDES, quase a metade visam exclusivamente ao mercado externo.

Essa mudança qualitativa ocorreu nos dois últimos meses de 2001 e causou surpresa, já que, do início do Plano Real até aquela data, os grandes projetos industriais concentravam-se apenas em infra-estrutura (telecomunicações e energia) e em setores voltados exclusivamente para o mercado interno.

Mais um dado importante indica o acerto da diplomacia comercial brasileira em adotar o plano B para a Alca. Recentemente, a Fiesp divulgou os dados iniciais da competitividade industrial brasileira.

Os primeiros estudos mostram que a margem bruta de lucro (sem os impostos) da indústria paulista é o dobro da média brasileira e quatro vezes maior do que a mexicana. Em relação à média americana, contudo, ela ainda é dez vezes menor.

A Fiesp prepara a divulgação dos dados comparativos em relação às médias empresas da União Européia e dos "tigres" asiáticos, os quais complementarão o quadro geral.

Em tal cenário, nada mais acertado do que buscar acordos no âmbito da América Latina para aumentar as trocas intra-regionais, com ou sem o Mercosul, com ou sem a Alca.

Da mesma forma que o Brasil, Chile e México também estão assustados com o abrupto final do mal-sucedido "affaire" entre Estados Unidos e Argentina, seguido de um incompreensível endurecimento por parte dos negociadores do FMI.

Para evitar futuras surpresas, nada melhor do que diversificar ao máximo, desde já, as trocas comerciais, os parceiros e os fluxos de investimento.

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