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Autor:
Marly Monteiro de Carvalho
Qualificação:
Professora Doutora do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP. Pesquisadora da Divisão de Economia e Engenharia de Sistemas do IPT. Graduação, Mestrado e Doutorado em Engenharia de Produção.
Data:
04/07/00
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Programas de Qualidade e Sua Eficácia

Nos últimos anos, empresários e especialistas da área de qualidade questionam a eficácia dos Programas de Qualidade e tentam mapear as possíveis causas de fracasso. O pequeno impacto quantitativo das melhorias obtidas frente ao volume de recursos investidos, parece ser um problema frequente. Embora reconheçam os vários benefícios intangíveis que um programa de qualidade proporciona, estes não têm sido fortes e visíveis o suficiente para justificar os investimentos nesta área.

Um novo movimento para a qualidade tem chamado a atenção das empresas nos últimos anos: o Seis Sigma. Diferente de algumas iniciativas de TQM, as empresas que utilizam o Seis Sigma alardeiam cifras milionárias de ganhos obtidos com a sua implementação, fruto de avaliações financeiras requeridas tanto para selecionar projetos quanto para avaliar o sucesso.

O conceito de Seis Sigma foi introduzido e popularizado pela Motorola em sua missão de reduzir defeitos na fabricação de produtos eletrônicos. Seguida pela General Electric-GE e outras empresas de classe mundial, o Seis Sigma rapidamente se difundiu, não só em ambientes de manufatura, mas também no setor de serviços. Na GE, por exemplo, a aplicação do Seis Sigma é agora tão vigorosa na GE Capital, quanto no negócio de manufatura. A AlliedSignal também tem iniciativas significativas em serviços financeiros e comerciais.

Utilizando o conceito estatístico de dispersão no próprio nome, o Seis Sigma dá grande ênfase às ferramentas estatísticas. Ele foi concebido com a missão de solucionar os problemas dos diversos produtos, processos e serviços da empresa, reduzindo a variabilidade até a obtenção da difícil meta de 3,4 defeitos por milhão. Tecnicamente, significa que os limites de especificação estão à distância de 6 desvios-padrão da média, assumindo uma distribuição normal, permitindo um deslocamento de 1,5 desvios-padrão em relação à média.

Os projetos de melhoria seguem um disciplinado processo de 5 fases: definição, medição, análise, melhoria e controle, similar aos programas de melhoria contínua tradicionais. Embora as ferramentas utilizadas não sejam novas, o enfoque Seis Sigma agrega valor pela sua harmoniosa integração ao gerenciamento por processo e por diretrizes, mantendo o foco nos clientes, nos processos críticos e nos resultados da empresa.

Os projetos de melhoria são conduzidos por times treinados nas ferramentas Seis Sigma. São profissionais de diversas áreas da empresa, de engenheiros a contadores, que trabalham nestes projetos, com ajuda de especialistas dedicados de 50% a 100% do tempo a projetos de melhoria. Estes especialistas dedicados são conhecidos por diversos nomes em diferentes companhias, tal como black belts (faixa-preta), na GE e na Motorola, mestres em melhorias de processos, na AlliedSignal, ou líderes de redução de variabilidade, na Polaroid.

Além destes especialistas, a GE, por exemplo, tem feito treinamentos adicionais, que tem a intenção de envolver todos com o Seis Sigma. Obviamente, isto requer um significativo investimento, além de black belts e master black belts, green belts recebem treinamentos similares ou reduzidos. Diferentemente, não se espera que os green belts gastem a maioria de seu tempo nos projetos de melhoria.

No mercado globalizado, a correlação da competitividade aos níveis de defeito tem aumentado e aquelas empresas que tem desempenho inferior a 308,537 defeitos por milhão (2 sigma) não são consideradas competitivas. Neste cenário, como fica a competitividade das empresas brasileiras?

Sabe-se que, apesar dos esforços em qualidade empreendidos pelo empresariado brasileiro serem significativos, assumindo a liderança na América Latina no que concerne às normas de qualidade, ainda existe um longo camaminho a percorrer. tirando algumas ilhas de excelência, as taxas de defeitos praticadas ainda são aferidas em porcentagens. Além disto, existem alguns gargalos de ordem sistêmica à implementação do Seis Sigma no país, como a baixa escolaridade da mão-de-obra em diversos setores da economia. A participação dos trabalhadores é imprescindivel e o treinamento necessário exige um nível de escolaridade adequado, o que dificultará a popularização deste programa no curto prazo.


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