.
Autor:
Paulo Skaf
Qualificação:
Presidente da ABIT - Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção
E-Mail
.
Data:
05/05/01
As opiniões expressas em matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição do Empresário Online. Proibida a reprodução sem a autorização expressa do autor.

ALCA: Uma Nova Visão Estratégica para o Brasil

No momento em que as relações entre os blocos comerciais vêm ocupando grandes espaços na pauta das discussões internacionais, o assunto ALCA merece de todos nós uma análise estratégica, elevada ao âmbito mais alto dos interesses nacionais.

Em primeiro lugar, a Área de Livre Comércio das Américas será formada, de uma forma ou outra. É, acima de tudo, uma conseqüência previsível do processo de globalização ao qual o Brasil, juntamente com os demais países do mundo, está diretamente submetido.

A formação de blocos econômicos já se tornou uma realidade e as Américas, no contexto de um Brasil efetivamente líder do Mercosul, constitui terreno fértil para a inserção do País no mercado mundial. A questão estratégica que se coloca já não é mais "se" ou "quando", e sim "como" e "qual" será o papel do Brasil na formulação das regras e na formatação desse novo bloco comercial.

Muito se tem afirmado que devemos postergar a implantação da ALCA, ou mesmo que a Área será a perpetuação da influência norte-americana em nosso comércio e o passaporte definitivo para a invasão dos produtos norte-americanos no mercado brasileiro. Outros afirmam, que a ALCA representa aceitar a falência da indústria nacional. Prefiro afirmar que a ALCA será aquilo que resultar das negociações -- negociações estas em que nosso poder de barganha é grande como nunca foi, dada a nova realidade político-econômica brasileira.

Não acredito que a implantação da ALCA será um processo fácil, ou mesmo que o Brasil deva aceitar o destino e acomodar-se, torcendo para que tudo dê certo no final. A minha visão é diametralmente oposta a esta idéia. Acredito simplesmente que o Brasil não pode ter apenas uma posição reativa e defensiva já que temos plenas condições de sermos pró-ativos e agressivos. Os protecionistas não somos nós nestas negociações. Em todos os setores onde somos competitivos os EUA aplicam uma diversidade de barreiras que efetivamente nos tiram de seu mercado. Temos de fazer valer nosso peso e exigir a eliminação de subsídios agrícolas, cotas têxteis antidumping para o aço e exceções importantes para açúcar e o álcool.

Não podemos ficar parados ou plasmados A ALCA que nós queremos representará a oportunidade para nossas indústrias exportarem mais, gerarem novos empregos, tornarem-se ainda mais competitivas e ampliarem a presença no maior mercado do planeta, os Estados Unidos. Sem contar com as inúmeras novas possibilidades que se abrirão junto aos mercados mexicano e do restante da América Latina e do Caribe.

Portanto, entendo que o Brasil deva adotar uma postura de vanguarda em relação a ALCA. Devemos assumir nosso lugar como líderes pró-ativos e exigentes. Só assim, sem medos, poderemos colocar, desde já, as questões que nos afligem e que consideramos fundamentais para a efetiva implantação da liberdade de mercado, tão propalada mas pouco praticada por quem as defende.

Acharia ótimo iniciar as conversações colocando à mesa nossas exigências de abertura. Se fizermos desta forma, vamos inverter os atuais papeis e expor as posições daqueles que têm medo, de verdade, do mercado livre.

Uma última palavra aos que defendem a postergação da ALCA até que as reformas estruturais ocorram no Brasil, dentre as mais urgentes, a fiscal e tributária: a esses eu quero dizer que a ALCA será uma grande aliada, porque pressuponho que o governo brasileiro não vá querer que o Brasil continue exportando impostos, e comprometa-se com o livre comércio hemisférico, praticando juros exorbitantes, impostos em cascata, alta carga tributária, taxas alfandegárias e tarifas portuárias absurdas como as vividas atualmente no Brasil.

Portanto, em lugar de nos defender da ALCA cabe ao Brasil, de imediato, assumir o papel de liderança nas negociações, buscando intensificá-las - o que não significa ceder - muito pelo contrário. Intensificar as negociações implica exigir reciprocidade daqueles que demandam abertura e nada oferecem para obtê-la. Na minha opinião, a ALCA que nós queremos representa um instrumento de pressão e uma oportunidade para que o crescimento e a modernização do nosso País, de fato, ocorram.


.

© 1996/2002 - Hífen Comunicação Ltda.
Todos os Direitos Reservados.