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Autor:
Carlos Roberto Bizarro
Qualificação:
Sócio-diretor da Bizarro & Associados Desenvolvimento Empresarial.
E-mail:
[email protected]
Data:
05/06/03
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O Lado Positivo da Guerra

Passamos por outro pesadelo, que trouxe medo, retração da economia e insegurança. A Guerra do Golfo acabou deixando dúvidas, vitória mal resolvida, vencidos e vencidos. A economia mundial, que já andava debilitada mesmo antes do adensamento da conjuntura política, agora se agravou ainda mais. Se o ditador iraquiano morreu, ninguém sabe, ninguém viu. E a guerra acabou ou só começou? Especialistas não sabem, deixando essa tarefa aos futuristas de plantão.

Os rumos da economia global são ma incógnita e a expectativa de crescimento do PIB americano em 2003 (cerca de US$ 9,2 trilhões) baixou de 3,6% para 2,5% e o global, previsto para 3,5%, para 1,5%. Assim fica difícil mensurar o impacto do conflito na economia mundial.

Nesse clima de tensão, empresas brasileiras já acostumadas a trabalhar com cenários pessimistas, se defrontam com uma velha conhecida: a incerteza, que desde as prévias das eleições do novo governo, elevou o dólar, aumentou o risco Brasil a níveis inaceitáveis e cortou o crédito internacional. Porém, desde sua posse, uma euforia patriótica permeia a economia brasileira e tem dado sinais de crescimento, segundo o ministro do Planejamento, Guido Mantega.

Os efeitos surgiam mesmo antes da guerra começar. No Brasil, o índice Bovespa fechava em alta e o dólar operando em queda livre. O otimismo predomina com a queda do IGP-M na segunda prévia de abril e a disparada dos C-Bonds, principais títulos da dívida externa brasileira. O risco Brasil, que ultrapassou 2000 não pára de cair, mantendo-se abaixo da barreira psicológica de 900 pontos, conseqüente retomada da confiança no país. Mas não se pode dizer que isso seja só reflexo da guerra, mas principalmente, da confiança no novo governo, pois o Brasil voltou a ser uma boa opção de investimentos externos.

A geopolítica do petróleo deverá ser redesenhada e poderá reduzir a dependência mundial concentrada na Arábia Saudita, Iraque, Irã, Kuwait e Emirados Árabes, que produzem 21 milhões de barris por dia, dos quais 84% são de consumo da Opep e 27,6% do globo. Segundo o diretor internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, "o Brasil não deverá ser afetado no seu abastecimento, pois somos quase que auto-suficientes em combustível e nossos maiores fornecedores não estão na área de conflito". O aumento do petróleo no mercado internacional acabará pressionando outros mercados, podendo influenciar o dólar e gerar mais inflação, provocando o aumento dos juros. Com isso, o consumidor fica mais tímido e o comerciante mais cauteloso. Esse é um círculo vicioso, velho conhecido brasileiro. O ideal é esperar, preservar o fluxo de caixa e postergar investimentos duvidosos. O Banco Central deve esperar até maio ou junho, antes de tomar qualquer medida para cortar juros, que em março foram reduzidos em 0,25%, reflexo da fraqueza econômica.
Não se pode ignorar o fato de que a progressiva democracia brasileira repousa quase que passiva diante da ditadura mundial comandada pelos americanos. Porém, segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, as boas relações entre os dois países estão fortalecidas. Tanto que a recente viagem do ministro Antonio Palocci ao FMI, Banco Mundial e Wall Street foi um sucesso e o Brasil foi elogiado como um país que demonstrou força econômica durante o período que coincidiu com guerra e novo governo.
Crescem as entradas de recursos externos, animando os investidores estrangeiros, trazendo resultados positivos para nossas empresas. O pós-guerra oferece novas oportunidades de negócios oriundas da necessidade de reconstrução do Iraque para o Brasil, que goza de respeitabilidade internacional na área da construção civil.
Diante de um cenário global ainda duvidoso e para mitigar os efeitos da recessão econômica com o fim do reinado Hussein, a tomada de empréstimos e o uso de linhas de crédito para exportação são alternativas imediatas sugeridas para melhorar o caixa. O crédito para exportação deve ser aproveitado, pois o leque de opções para produtos brasileiros será ampliado. E por se falar em crédito e dívida, o governo americano sugeriu aos países em dificuldades, que adotem a Cláusula de Ação Coletiva (CAC) através da qual não precisam mais da anuência da totalidade dos credores para repactuar os pagamentos de suas dívidas externas, bastando a concordância da maioria.
Outra medida importante diz respeito aos impostos, que levam a empresa brasileira a uma encruzilhada: ou paga salários, fornecedores, matéria prima, insumos etc. ou recolhe impostos. Assim, grande parte dos contribuintes pessoas jurídicas tem se esquivado do pagamento. Enquanto continuam deitados em berço esplêndido na expectativa de soluções governamentais, empresários brasileiros devem optar por uma reavaliação fiscal e financeira com um Planejamento Tributário eficaz que elimine desperdícios e permita uma redução da carga tributária de até 30%, dentro da absoluta legalidade.

Vamos torcer para que o conflito esteja terminado, caso contrário, se a maior potência econômica mundial sucumbir, certamente levará no bojo a economia mundial, inclusive a nossa.

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