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Autor:
Lília Barbosa Cozer
Qualificação:
Sócia Diretora da Cozer Connsultoria Capacitação e Desenvolvimento Empresarial Ltda.
E-Mail
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Data:
05/12/03
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Empreendedorismo Corporativo: Utopia ou Realidade?

O empreendedorismo é caracterizado pela capacidade de criação, foco e resultados. A criação advém do sonho ou da imagem mental materializada na crença. O foco origina-se na visão sistêmica que se destrincha na exata intenção de todos os atos do empreendedor. Os resultados surgem a partir da ação criativa focada e sabiamente persistente. A aparente obviedade das assertivas acima nos leva a questionar por que as empresas não têm em seu cerne o empreendedorismo e a afirmar que grande parte delas jamais alcançará o patamar desejado de empreendedorismo corporativo. Outras foram empreendedoras quando estavam em seu estágio de crescimento, na maturidade; existem apenas lampejos de empreendedorismo, quando há.

O historiador francês Fustel de Coulanges disse: "Devemos avaliar atentamente a excessiva dificuldade que havia entre as populações primitivas para fundar sociedades regulares. O vínculo social não é fácil de ser estabelecido entre seres humanos tão diversos, tão livres, tão inconstantes. Para lhes dar regras comuns, para instituir decretos e fazer aceitar a obediência, para obrigar a paixão a ceder à razão, e a razão individual à razão pública, é certamente indispensável que exista algo mais forte que a força material, mais respeitável que o interesse, mais seguro que a teoria filosófica, mais imutável que uma convenção; algo, enfim, que exista igualmente no fundo de todos os corações e nestes se imponha com autoridade.

E isso é a crença. Nada mais poderoso existe sobre a alma. A crença é obra de nosso espírito, mas não encontramos neste a liberdade para modificá-la a seu gosto. A crença é de nossa criação, fato que o ignoramos. É humana, e julgamo-la sobrenatural. É efeito do nosso poder, e é mais forte do que nós. Está em nós, não nos deixa, e nos fala a cada instante. Se nos manda obedecer, obedecemos; se nos indica deveres, submetemo-nos. O homem pode dominar a natureza, mas está sempre sujeito ao seu próprio pensamento."

Para o empreendedorismo corporativo ser uma realidade, é preciso que os funcionários acreditem que são capazes de criar, acreditem que a organização em que trabalham o valorizará pela sua visão e suas ações. Eles precisam acreditar que são muito mais que funcionários, precisam crer que são empreendedores para si e na visão dos gestores. Grandes empresas perdem grandes profissionais por não terem a sensibilidade de saber com lidar com os empreendedores corporativos: pessoas que têm visão, garra, transformam uma idéia em um produto ou serviço em um piscar de olhos, materializam o que sonham e geralmente sonham em mudar o status quo de onde quer que estejam. São pessoas que se envolvem tanto com o que fazem e com a organização que se esquecem de que são funcionários. São pessoas que amam a liberdade de pensar e agir e se, por acaso, tentam colocá-lo numa redoma, elas a quebram, porque não suportam o comando asfixiante dos falsos líderes, que aparentemente os enaltecem, mas na realidade desejam castrá-los para que não os alcancem.

Jamais se submetem ao conformismo ou à aparente segurança porque amam os desafios. Na realidade, acreditam que os desafios são degraus de uma escada que os levará ao sucesso. São os desafios sobrepujados que os tornam vivos e felizes. Eles são vencedores porque entram na batalha da vida por amor a uma causa acreditando veementemente na vitória. Eles têm uma crença tão forte em si que nada, nem ninguém consegue frear a sua busca de realização e criação, seja na empresa ou fora dela.

Descortinamos outro lado igualmente importante ao contexto: a crença dos líderes em seus profissionais. Os gestores também precisam acreditar no poder de transmutação de seus profissionais e, mais do que acreditar, findar com o medo de que os empreendedores corporativos ganhem o seu lugar. E, para esse medo ruir, é preciso que o gestor transforme-se em um empreendedor. Todas as pessoas podem ser empreendedores. A diferença é que alguns têm em seu cerne a mudança. É algo tão natural e espontâneo que impressiona aqueles que o observam. Outros precisam aprender a ser a mudança e para isso há necessidade de mais esforço, concentração, crença e leveza nos pensamentos. Os caminhos serão diversos, mas o resultado será o mesmo, indubitavelmente. A maior dificuldade está nas próprias pessoas despertarem para a necessidade de mudança de atitude pessoal perante os problemas e oportunidades. O que permeia os seus pensamentos retratará o resultado de suas ações e o seu grau de empreendedorismo.

Não é fácil conduzir uma mudança pessoal em todos os colaboradores de uma organização porque a mudança pessoal nasce da vontade individual. Por mais que a organização deseje, crie mecanismos e meios de desenvolvê-la, se o funcionário não quiser verdadeiramente, nada acontecerá. Jack Welch disse “estratégias não valem nada se não tivermos boas pessoas”. Por isso, se você deseja que sua empresa seja impregnada pelo empreendedorismo comece pelas pessoas, observe-as, avalie-as, dê-lhes liberdade de criação e ação, dê-lhes a oportunidade de sonharem, de apaixonarem-se pelo que fazem. Façam que elas se sintam importantes e realmente comprovem sua importância através do reconhecimento, da prática diária. Para que isso ocorra, é importante considerarmos outro contraponto: a cultura empresarial, que é retratada pelas ações conjuntas de líderes e liderados, pelas políticas proclamadas e efetivas, pelo modelo de gestão desejado e posto em prática, pelos valores existentes. A cultura empresarial é determinante para o nascimento ou morte do empreendedorismo.

O empreendedorismo corporativo é uma realidade para empresas e profissionais arrojados, corajosos, que desafiam a aparente estabilidade e as probabilidades do que é certo ou errado, que persistem em suas crenças e acreditam em sua intuição, tendo a ética como norteadora dos seus caminhos. Em contrapartida, será sempre uma utopia para as empresas e os profissionais que não crêem em suas próprias visões, que não dão asas aos seus sonhos e, principalmente que sucumbem ao medo de perder.

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