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Autor:
Marcelo Schneck de Paula Pessôa
Qualificação:
Engenheiro-eletrônico, professor doutor da Poli/USP e diretor de Informática da Fundação Vanzolini.
E-mail:
[email protected]
Data:
06/01/00
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A Falha do Bug

Nunca a informática teve tanto destaque na mídia. Entre fogos de artifícios, danças folclóricas, contagens regressivas em todas as partes do mundo, nesta virada de ano, o temor ao Bug do Milênio fez com que tivessem mesmo destaque os plantões da defesa civil, do controle aéreo e dos técnicos em informática informando o que estavam fazendo em suas empresas. O próprio governo e associações de classe fizeram campanhas para acalmar a população, demonstrando segurança e indicando que nada iria acontecer.
Ano 2000. O mundo não acabou, não faltou luz, os telefones quase funcionam e a TV não parou. "Então gastamos dinheiro à toa ?" dizia uma manchete que o Bug foi um fracasso. Jornalistas e funcionários do governo americano diziam que essa era a "Fraude do Ano 2000" ou a "Neurose do Milênio". Gastou-se US$ 100 bilhões com o Bug, US$ 7 bilhões só nos EUA (quase 1% do PIB brasileiro), à toa?
Não, muito pelo contrário, o Bug foi uma vitória! Foi uma demonstração de que, se todos se unirem em torno de uma causa, as pessoas podem se organizar, realizar trabalhos sistematizados e praticamente garantir o sucesso de um empreendimento. Houve, em boa parte das organizações, uma mobilização muito grande em torno da prevenção ao Bug, envolvendo não somente o pessoal da informática, mas também seus usuários que são hoje quase todas as pessoas nas empresas.
Mesmo com todo esse cuidado tivemos alguns problemas: nos EUA satélites militares do Pentágono ficaram três horas fora do ar; na França, satélites militares dos sistemas de transmissão de dados nas usinas nucleares de Shika, Onagawa e Fukui. Aparelhos médicos falharam em hospitais na Noruega e na Suécia. Na Inglaterra, máquinas de cartão de crédito falharam. Na Jamaica, houve um apagão de cinco a seis horas. Na Internet, os mapas de previsão meteorológica do serviço nacional de tempo francês e do observatório naval americano apresentaram ano 19.100. Aqui no Brasil, os sistemas de entrada de pacientes em um hospital em São Paulo e de outro em Recife falharam, obrigando a operação manual. Também falharam os equipamentos de pedágios em várias estradas. Isso somente para citar algumas ocorrências.
Felizmente para todos nós as falhas foram insignificantes perto do perigo que corremos se não tivesse sido realizado todo esse trabalho de adequação. Merece também ser destacado que os plantões dos profissionais eram parte de um plano, o denominado Plano de Contingência, que foi elaborado com a finalidade de deixar todas as pessoas devidamente treinadas para saber o que fazer, como agir, no caso de qualquer anormalidade. Hoje, nossas vidas dependem fortemente da eficiência dos computadores mesmo nas atividades mais insignificantes.
Que esta seja uma lição para todos nós. Para os técnicos em informática realizem seus trabalhos com planejamento, organização e sistematização. Para a alta administração das empresas exigirem mais qualidade e garantia de funcionamento dos sistemas, desenvolvidos com planejamento e sem atropelos. Para a população em geral, ficar atenta aos serviços prestados daqui para frente, sempre verificando datas e cálculos que envolvam datas, reclamando imeditamente no caso de falha. Novas datas "perigosas" podem vir e o computador erra se estiver mal programado.


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