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Autor:
Leonardo Bon
Qualificação:
Diretor geral da Extreme Networks Brasil
E-Mail
[email protected]
Data:
06/09/01
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Certificações Corporativas: Confiabilidade ou Lucro Fácil
(Há casos em que a outorga de certificações tornou-se um negócio paralelo dos grandes fabricantes de tecnologia)

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À medida em que as redes de computador vão se tornando mais complexas e estratégicas para o negócio das corporações, nada mais natural do que estas corporações aumentem a cada dia o nível de exigência técnica da parte das revendas e empresas de serviços. De fato, enquanto a venda de "commodities" envolve quase que exclusivamente marketing e logística, a entrega de soluções de alto valor agregado e grande componente tecnológico – como é o caso dos switches, roteadores e demais sistemas de redes - depende de requisitos que só as empresas mais bem preparadas podem oferecer: técnicos com certificação, engenheiros e executivos com habilidade para entender o negócio do cliente e articular a solução de tecnologia adequada.
Ocorre, todavia, que, partindo desta situação inegável, alguns competidores do mercado de infraestrutura estão hipertrofiando de tal modo a questão das certificações, que há casos em que a outorga destas credenciais já se tornou um negócio à parte. E há até algumas empresas que cobram a peso de ouro a certificação, ao passo que, em grande parte, seus treinamentos são oferecidos pela web, sem que o treinando em questão tenha sequer a oportunidade de tocar em um equipamento."

"É um paradoxo notável: a certificação - que deveria ser objeto até de esforços financeiros do desenvolvedor de tecnologia (afinal, ele é o maior interessado na disseminação de sua cultura) transforma-se, desta maneira,- em mais um integrante do portfolio de grandes fornecedores de hardware, e é muitas vezes imposta aos "country-managers" como um dos entes a serem considerados em suas metas para o próximo quarter.
Tudo bem, "business is business", poder-se-ia argumentar, e não estou aqui para contradizer o velho bordão capitalista. Deixemos de lado o fato de esta hipertrofia trazer uma certa distorção, ao menos aparente, naquilo que seria o negócio-fim destes fornecedores em questão. Vamos apenas considerar a questão da certificação "lucrativa" sob o ponto de vista de alguns de seus efeitos no mercado."

"Em primeiro lugar, é de se perguntar até que ponto a certificação transfere ao usuário final aquele nível de garantia que só o fabricante pode oferecer. Afinal, se o fabricante "certifica", seria de se esperar que a responsabilidade por eventuais derrapadas também pudesse ser cobrada diretamente deste certificador. Mas neste, caso, onde é que ficaria a responsabilidade da revenda? Ora, se a responsabilidade final não couber àquele agente que atua diretamente junto ao usuário, a impressão que fica é de um usuário com nível menor de garantia, já que, freqüentemente, é mais difícil para o fabricante compartilhar o seu dia a dia.
Longe de querer esmiuçar todos os pontos do problema, estas considerações básicas servem pelo menos para provocar o debate sobre as políticas vigentes de certificação, entendendo aqui a certificação apenas como um indicador de qualidade de serviço e não como um título de distinção àquelas empresas que adquirem produtos educacionais ou atingem tal ou qual meta de vendas."

"E, ampliando ainda mais o debate, seria interessante discutir quem paga a conta destes títulos de certificação, que chegam a movimentar alguns milhões de dólares em negócios. Se o fabricante da solução transfere a questão cultural para o departamento de vendas como um "add-on" no pacote a ser entregue, é de se esperar que a revenda vá transferir o novo encargo, a fim de proteger suas margens. E neste caso, a fatura vai diretamente para o colo do usuário.
Para concluir, vamos sair da posição do advogado do diabo. As certificações são fundamentais para fechar o elo de confiabilidade que deve envolver todos os elementos da cadeia de fornecimento e aquisição de tecnologia. Hipetrofias à parte, vamos render um viva às revendas que se certificam."

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