.
Autor:
João Amato Neto
Qualificação:
Professor do Departamento de Engenharia de Produção da Poli-USP
E-Mail
[email protected]
Data:
06/10/00
As opiniões expressas em matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição do Empresário Online. Proibida a reprodução sem a autorização expressa do autor.

As Organizações Virtuais como Redes Globais de Empresas

O conceito de organizações virtuais pode ser entendido, em uma primeira aproximação, como uma forma de cooperação entre empresas ou organizações, constituindo, assim, verdadeiras "redes dinâmicas de cooperação", que por meio da utilização das novas tecnologias da telemática (a internet, por exemplo), têm os seguintes objetivos: viabilizar o acesso a novos mercados, sem os tradicionais limites de espaço e de tempo; elevar o poder de competitividade dos parceiros componentes desta rede virtual; possibilitar inovação e a exploração de novas oportunidades de mercado globalizadas.
A grande novidade trazida pelas organizações virtuais refere-se ao fato de que, por meio dos modernos recursos da informática e da telemática (infovias), torna-se possível a agilização de negócios e de transações inter-empresariais em uma velocidade jamais vista ao longo da história. Destacam-se as seguintes razões estratégicas para a adoção do modelo das organizações/empresas virtuais na análise da competitividade: compartilhar recursos, instalações e, eventualmente, competências, a fim de ampliar o alcance geográfico ou tamanho aparente que um concorrente pode oferecer a um cliente, e dividir os riscos e os custos de infra-estrutura para candidatar-se à concorrência.
Uma empresa virtual pode ser entendida por meio de dois pontos de vista: um funcional e outro institucional. Do ponto de vista institucional, a empresa virtual é uma combinação das melhores competências essenciais de empresas legalmente independentes que cooperam entre si. Elas são conectadas pelo uso das modernas tecnologias da telemática, durante um período de tempo necessário para a realização de um objetivo específico de negócio (business purpose), sem considerar as fronteiras das empresas independentes ou dos países a que pertencem. Isso é realizado com dificuldades, do ponto de vista de mecanismos de controle governamentais.
Nesta nova configuração de redes de empresas, cada membro tem acesso aos recursos existentes em toda a rede. O risco de cada empreendedor, especialmente no caso de grandes projetos, é dividido entre os parceiros da rede.
Pelo lado do cliente final, ainda que ele visualize somente um fornecedor (não se importando quanto à forma de se construir a cadeia de valor), há a expectativa de receber produtos de menor preço e melhor qualidade, ter mais possibilidades de escolha e contar com melhores serviços.
Em termos funcionais, uma característica essencial da empresa virtual é a concentração em competências essenciais (core competence), que são coordenadas de forma dinâmica e orientadas para a solução de problemas, por meio de uma base superior da Tecnologia da Informação. Assim, uma empresa virtual é uma qualidade que se pode aplicar de uma forma ou de outra às organizações já existentes.
Especificamente no casdo do Brasil, as oportunidades também parecem ser ilimitadas, por se constituir em uma economia emergente, com um mercado consumidor potencial de mais de 160 milhões de habitantes e com um Produto Interno Bruto de cerca de U$ 700 bilhões. As expectativas de novos investimentos diretos por parte de grandes grupos transnacionais, somadas às expectativas de uma ampla reforma do Estado brasileiro e consequentes investimentos públicos na melhoria da infra-estrutura de telecomunicação e transportes, deverão criar um cenário favorável para novos empreendimentos.
Apesar de todo este quadro otimista referente às expectativas de novos investimentos diretos e de restruturação do Estado e da própria economia brasileira, há ainda uma série de restrições e barreiras que se colocam ao processo de modernização da nossa economia como um todo, assim como às possibilidades de criação e desenvolvimento de redes de cooperação inter-empresas e/ou organizações virtuais.
Além dos entraves de ordem político-institucional, que ainda impedem maior agilidade do Estado brasileiro na tomada de decisões relativas às várias frentes de reformas (fiscal, administrativa, previdenciária, agrária etc.), existe também, até mesmo como consequência dos anteriores, entraves mais específicos, relativos à precariedade e à obsolescência da infra-estrutura de transporte e de telecomunicação no Brasil.
No que diz respeito à utilização em maior escala do potencial oferecido pela Internet, as limitações referem-se à falta de investimento nas modernas infovias de telecomunicação, que passam pela utilização mais intensa das fibras óticas e de sistemas digitais, em substituição aos atuais sistemas analógicos.
Neste sentido, as autoridades deste setor já estão anunciando investimentos de US$ 90 bilhões em telecomunicação no Brasil até o ano 2002, sendo que, desse total, US$ 15 bilhões deverão vir da iniciativa privada e o restante do PASTE - Programa de Recuperação e Ampliação do Sistema de Telecomunicações e do Serviço Postal, investimentos estes que se destinam a reverter o quadro atual (bastante desfavorável, ainda) e assim preparar o País para um salto qualitativo nos próximos anos, a fim de viabilizar uma infra-estrutura adequada para que as empresas possam competir em um contexto de economia globalizada.
Há que se destacar, também, um outro fator que poderia ser considerado uma séria barreira para a criação e o desenvolvimento de redes de cooperação. Tal fator refere-se à cultura empresarial predominante e que poderia ser caracterizada, ainda que de uma forma bastante simplista, por um comportamento empresarial individualista, de perspectivas de curto prazo e de lucros imediatos, de grande desconfiança com relação ao estabelecimento de alianças estratégicas, parcerias ou outros tipos de associações inter-empresariais.


.

© 1996/2002 - Hífen Comunicação Ltda.
Todos os Direitos Reservados.