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Autor:
Alex Monteiro
Qualificação:
Diretor da Thames Language Development
E-mail:
[email protected]
Data:
07/06/03
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A Entrevista em Inglês

Terça-feira, seis e meia da tarde. Depois de quinze minutos de espera na recepção, de ter tomado água e café, lá está você, diante do selecionador de RH da empresa, do diretor americano ou do headhunter. Ele se aproxima, sorridente, mão estendida e diz "Hi, my name’s Harry Jones. Come on in". Nesse momento não há saída: o idioma tem que estar na ponta da língua, e a sua chance naquela vaga pode depender de sua habilidade em falar bem ou não o inglês.

Muitos profissionais perguntam como comportar-se e o que dizer numa entrevista em inglês - e qual a probabilidade de serem bem-sucedidos. Se você sente-se como uma vítima do idioma de Tio Sam, aqui vão algumas dicas para não errar na hora de mostrar sua segurança e seu domínio nesse momento tão crítico.

O que você diz pode ser mais importante do que como dizê-lo. Porém, saber dizê-lo de forma eficiente o torna mais cobiçado pelo mercado: muitos profissionais perdem o fio da meada do que vão dizer porque não dominam bem a língua, não tem vocabulário mais rico ou não conseguem deixá-lo na ponta da língua para uso imediato.

Mostre que seu inglês é bom o bastante para suprir as necessidades do cargo pretendido: se você vai participar de negociações, espera-se que você seja fluente. Se seu cargo exige somente leitura de documentos, você deve ser um bom leitor. Idéias abstratas são passadas com mais dificuldade numa entrevista em inglês, pois a tendência é possuirmos menos palavras para fazê-lo. Pratique algumas dessas idéias antecipadamente, através de perguntas – por exemplo, Quais foram minhas maiores conquistas este ano? – e faça uma relação das palavras que você conhece e principalmente das desconhecidas. Pesquise o vocabulário e exercite seu uso – há bons dicionários em CD-Rom que podem ajudá-lo a melhorar a pronúncia. Mas não esqueça: quando lhe fizerem esta pergunta, os profissionais de RH buscam conhecer seus valores, prioridades e crenças. Tudo o que você disser pode ser aproveitado para avaliar não somente o seu inglês mas também sua personalidade.

Palavras grosseiras e aquelas que você não domina devem ser removidas de seu vocabulário. Aprenda também a diferença entre gírias – como tira, para policial e expressões idiomáticas – por exemplo, "na hora h". A gíria pode ser inadequada e politicamente incorreta, enquanto a expressão idiomática é mais natural numa língua e portanto melhor aceita pelo ouvinte. Utilizá-las mostra ao entrevistador que seu inglês é mais afiado, capaz de expressar as sutilezas.

Pronúncia e sotaque são duas coisas com as quais há preocupação exagerada. Saber pronunciar bem as palavras independe do sotaque – há uma constante obsessão com as diferenças entre o americano e o britânico – e a não ser que você tenha morado muitos anos em país de língua inglesa, suas
chances de ter influência do sotaque brasileiro são bem grandes. A questão é determinar o quanto o sotaque atrapalha a compreensão do que você diz.

O bom falante de inglês deve estar atento à algumas deselegâncias mais sutis: alguns vícios de linguagem (quando você fala ‘tipo assim’, ‘sabe’ – ‘kind of’, ‘you know’) são adquiridos principalmente por profissionais que viveram algum tempo no exterior, assimilaram tais vícios e os repetem sem critério, certos de estar abafando. Bom mesmo é aprender como dar pausas mais adequadas – importantes quando falamos e precisamos de alguns segundos para organizar melhor nossas idéias para seguir adiante. Ficar só no ‘Well...’ ou ‘I mean...’ e então dizer coisas irrelevantes com certeza não irá impressionar o entrevistador.

Se por um lado as pausas corretas são benéficas, falar muito depressa talvez não o ajude a conquistar a vaga. O seu delivery – o ritmo pelo qual você verbaliza suas idéias – está muito mais ligado à eficiência na escolha das palavras e entonação correta que necessariamente a velocidade, como se fosse um locutor de rádio narrando uma partida de futebol. Bons oradores conseguem manter a atenção de seus ouvintes através de recursos mais sutis, como pausas dramáticas e variação no tom de voz. Isto vale para o inglês também.

Ouça atentamente o que lhe é dito ou perguntado e não hesite em pedir para repetir quando a mensagem não for clara. Como seu tempo para elaborar a resposta pode ser maior, pense sobre o que vai dizer, e evite limitar sua resposta a um simples ‘yes’ ou ‘no’ se houver espaço para uma resposta mais elaborada. Isto significa interação com o entrevistador ou os outros candidatos, e saber fazer perguntas é tão importante quanto respondê-las corretamente.

Mostrar conhecimento do vocabulário utilizado no mundo dos negócios ou termos técnicos da sua área de atuação conta muitos pontos. O entrevistador pode, num determinado momento, usar um termo extremamente comum – ‘blue chips’, por exemplo – e esperar que você saiba o que significa. Sua reação pode ser a de quem não entendeu e desconhece o termo ou responder com desenvoltura, dentro de um padrão esperado. Uma excelente maneira de manter-se atualizado – inclusive sobre os fatos – é ler revistas como Business Week ou Forbes e assistir programas de TV a cabo com regularidade na CNN, BBC ou Bloomberg. Lembre-se, claro, que estas atividades só produzem efeito se você já tiver nível de conhecimento suficiente para entender o vocabulário básico. E atenção: o uso de bom vocabulário por si só não indica que o candidato seja fluente. A escolha de palavras adequadas, pró-ativas, com conotações positivas podem contribuir para causar o impacto desejado.

Ousadia no uso de estruturas mais avançadas pode agregar valor à sua imagem. Quando falamos uma língua estrangeira, podemos parecer menos exatos e precisamos de mais palavras para dizer algo que expressaríamos mais rapidamente em nossa língua materna. A melhor maneira de estreitar este ‘gap’ é através da prática regular – com professor, ou na ausência dele, com um grupo de amigos com nível de conhecimento de inglês igual ou superior ao seu. Algumas horas semanais podem fazer a diferença entre falar o idioma com menor ou maior segurança e evitar o nervosismo na hora "h".

Quem conhece bem outro idioma sabe ‘se virar’ melhor. Diante de um entrevistador, por exemplo, ele é capaz de dizer o que quer – mesmo sem saber todas as palavras – através de um sinônimo ou uma frase ou exprima a mesma idéia. Isto é chamado competência estratégica. e pode criar uma excelente oportunidade para você mostrar flexibilidade e aptidão ao lidar com situações em que seu inglês possa estar aquém do exigido.

Outras competências estratégicas auxiliam a ter uma melhor leitura, ouvido e escrita, embora muitos acreditem que ao simplesmente memorizar mais palavras poderão falar melhor. Nem sempre isso é verdade: as competências estratégicas permitem um salto qualitativo na comunicação em idiomas estrangeiros e a memorização sozinha não garante que o idioma estará sempre disponível.

A qualidade daquilo que se diz em inglês pode ser medida em situações inesperadas: há alguns entrevistadores que optam por realizar entrevistas por telefone. Pode parecer estranho num primeiro momento, porém é justamente deste modo que muitos profissionais resolvem seus problemas no dia-a-dia do trabalho. É sensato, então, esperar que você saiba se comunicar sem poder ver quem está do outro lado da linha, se seu trabalho exigir esta tarefa.

Outro tipo de atividade muito utilizada por selecionadores em recursos humanos é a dinâmica de grupo em inglês. As tarefas tem por objetivo avaliar sua capacidade de envolver-se numa discussão, debate ou negociação no idioma e podem, por exemplo, apresentar um case específico em marketing ou finanças. A solução do problema é alcançada em grupo, o qual prioriza e toma diferentes decisões à medida em que a atividade avança. Ser um bom ouvinte leva a entender melhor os pontos de vista de outros participantes, e certamente irá exigir linguagem de termos técnicos específicos, como divergir, concordar, pedir e dar esclarecimentos, etc. Há vasta bibliografia disponível para auxiliá-lo a conhecer melhor esta área do inglês.

Fazer avaliações regulares contribui para conhecer melhor seu nível de inglês. Testes reconhecidos mundialmente como o americano TOEFL (Test of English as a Foreign Language) ou o britânico IELTS (International English Test System) atestam qual a sua capacidade para falar, escrever e compreender o idioma e podem ser realizados em várias cidades do país. Além de retratar com precisão seu nível de conhecimento, eles podem ser citados em currículos e são importantes credenciais de referência internacional. Servem também como meta a ser atingida no conhecimento de inglês, hoje de uso tão corrente em muitas empresas quanto o português.

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