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Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing (FBM).
E-Mail
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Data:
07/08/01
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Acelerar a Integração

O momento para acelerar a integração da América do Sul é mais do que oportuno. O recém-empossado presidente peruano, Alejandro Toledo; a renúncia de Hugo Banzer, da Presidência da Bolívia, por motivos de saúde, e a conseqüente posse do vice para completar o mandato; e o apoio, já tantas vezes explicitado, pela Venezuela e seu presidente, Hugo Chaves, ao diálogo entre os países do subcontinente, formam, em seu conjunto, um campo extremamente favorável à ação da diplomacia brasileira, no sentido de acelerar o intercâmbio comercial e o fluxo de investimentos entre Mercosul e Comunidade Andina.

A forma como isso poderá ser feito não tem muita importância - união aduaneira entre os dois blocos ou simplesmente concedendo-se preferências mútuas por meio da redução progressiva de alíquotas de uma série de produtos e mercadorias - desde que o assunto seja debatido com seriedade entre todos os países, inclusive Equador, Colômbia, Suriname e República da Guiana. Os esforços que vierem a ser empreendidos pelo Itamaraty nesse sentido servirão, no futuro, de base para qualquer tipo de integração, seja regional, feita bloco a bloco, seja por meio da adesão pura e simples de cada nação à Alca.

As vantagens de se iniciar o mais rapidamente possível essas negociações são várias. A principal delas é a necessidade de compensar a queda das trocas comerciais entre Brasil e Argentina e de ambos com o Paraguai e o Uruguai, em conseqüência da crise de nossos vizinhos portenhos. Num primeiro momento, tal estratégia daria um fôlego maior ao Mercosul, que sairia fortalecido por algum tipo de acordo com a Comunidade Andina. Por sua vez, no médio prazo, os países-membros desse bloco - Colômbia, Venezuela, Peru, Bolívia e Equador - ganhariam duplamente: primeiro com a possível recuperação do Mercosul, o que aumentaria o fluxo de mercadorias e de investimentos no sentido Mercosul-Comunidade Andina; e, posteriormente, teriam mais economia de escala, imprescindível para a futura abertura dos mercados, com a formação da Alca.

A segunda - e talvez até mais importante do que a primeira - vantagem é estratégica e poderá beneficiar, já a partir de 2002, ambos os blocos sul-americanos. Trata-se da criação de um espaço alternativo para atrair os investimentos estrangeiros de risco. Explicando melhor: os indicadores mundiais disponíveis até o início deste segundo semestre permitem traçar um cenário medíocre para os próximos dois ou três anos. A economia japonesa está longe de recuperar-se, a européia ressente-se da "freada" americana, após duas décadas de crescimento contínuo; por sua vez, os americanos esperavam um empurrãozinho, dado pela União Européia, o que parece improvável. O panorama entre os emergentes também não é muito animador. Os "tigres" asiáticos tiveram uma recaída, após a decepção com a retomada nipônica, que acabou não se concretizando; e com a crise política que se prenuncia na Indonésia. Até mesmo a China, que tem resistido a todas as crises recentes, já registrou os primeiros indicadores recessivos.

A persistirem esses sinais negativos, os investimentos de risco tenderão a se retrair e a permanecer em aplicações seguras em seus países de origem. E isso acabará por se refletir na América Latina, com as prováveis exceções do México e do Chile. É nesse contexto que Mercosul, apesar da crise platina, e Comunidade Andina podem transformar-se em espaço alternativo seguro e rentável para o capital de risco estrangeiro. Trata-se de criar uma sinergia econômica entre os dois blocos sul-americanos de tal sorte que a visibilidade política e institucional supere amplamente a soma dos seus mercados internos.

É um desafio, sem dúvida. Mas vale a pena tentar.


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