.
Autor:
Silvio Roberto Isola
Qualificação:
Presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (Sindigraf-SP).
E-mail:
[email protected]
Data:
08/11/03
As opiniões expressas em matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição do Empresário Online. Proibida a reprodução sem a autorização expressa do autor.

Premissas para Aumentar Produtividade do Trabalho

O estudo que acaba de ser divulgado pela Organização Mundial do Trabalho (OIT) — no qual a produtividade dos trabalhadores brasileiros está muito aquém dos índices registrados no primeiro mundo e até em nações da América Latina, como a Colômbia — tem total coerência com a situação observada na indústria gráfica nacional. Neste setor, a relação média de faturamento/ano por funcionário é de US$ 33 mil (dados do ano 2000), enquanto nos Estados Unidos é de US$ 134 mil. Ou seja, o trabalhador gráfico norte-americano gera quatro vezes mais receita bruta do que o brasileiro.

O próprio estudo da OIT encarrega-se de demonstrar que esses índices não depõem contra a qualidade, a dedicação e o empenho dos trabalhadores brasileiros. Ao contrário, demonstra que, na média de todos os setores de atividades, eles trabalham mais horas do que, por exemplo, um francês, italiano, suíço, alemão, norueguês, dinamarquês ou belga, embora produza apenas o equivalente a 25% do total dos colegas desses países.

A questão está explícita num dos mais importantes itens do estudo da OIT: "A produtividade de um trabalhador não está relacionada só com sua capacidade técnica ou esforço. Tecnologia, ambiente econômico e situação social do país têm papel central nos índices". Ou seja, isto explica, em grande parte, o porquê de, segundo o relatório, nosso pátria estar há 20 anos estagnada em termos de produtividade dos trabalhadores. Ausência ou inconsistência de políticas públicas de saúde, educação, juros altíssimos para investir em tecnologia e crédito escasso estão dentre as principais causas.

No caso específico da indústria gráfica brasileira, a produtividade dos trabalhadores, de US$ 33 mil, está acima da média nacional (incluindo todos os setores de atividades) indicada no estudo da OIT, de US$ 14,3 mil/ano. Embora o índice do parque gráfico ainda não seja o ideal, principalmente se comparado aos de outros países, reflete alguns avanços: investimentos em tecnologia, máquinas e equipamentos (superiores a US$ 6 bilhões nos últimos 10 anos); melhoria da formação profissional, em particular no âmbito do Senai (em São Paulo, por exemplo, a Escola Theobaldo De Nigris já ministra curso superior); e processo de normalização, que impactou a produtividade e qualidade, a cargo da Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica (ABTG), braço do setor na ISO Internacional.

É preciso, porém, continuar avançando, pois alertas como o contido no relatório da OIT devem ser assimilados e vistos como a oportunidade de corrigir os erros. É claro que as políticas públicas de educação, saúde e inclusão social, dentre outras, são importantes para melhorar o nível cultural e técnico dos trabalhadores. Porém, a iniciativa privada não pode lavar as mãos, pois também deve fazer sua lição de casa. Nesse sentido, o Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (Sindigraf-SP) vem-se empenhando em oferecer às empresas, com subsídio de 90%, cursos técnicos do Senai-SP, para os trabalhadores, e de processos de gestão, da ABTG, para os executivos e empresários.

A prioridade é atender às pequenas e médias empresas, grande maioria no setor. Das 15.178 gráficas existentes no Brasil, 13.630, ou seja, 90%, têm até 19 funcionários, representando 30% da força de trabalho. Considerados os estabelecimentos com até 100 colaboradores, significam cerca de 98% do total de empresas e mais de 55% dos trabalhadores.

Além de ampliar a formação técnica e a educação continuada, também é necessário quebrar o paradigma do antagonismo atávico entre empresas e trabalhadores. Diálogo, comissões mistas de conciliação, negociações equilibradas e baseadas nos interesses comuns de prosperidade e a busca de soluções voltadas à qualidade e produtividade representam o novo modelo de relações trabalhistas. Tudo isso é imprescindível para reverter o quadro apontado pela OIT, de estagnação da produtividade do brasileiro. É cada vez mais preocupante, no teatro de operações da guerra de competitividade do mercado global, constatar que, enquanto ficamos parados, a produtividade dos trabalhadores no mundo cresce, na média, 1,9% por ano.

.

© 1996/2003 - Hífen Comunicação Ltda.
Todos os Direitos Reservados.