.
Autor:
Carlos Roberto Bizarro
Qualificação:
Sócio-diretor da Bizarro & Associados Desenvolvimento Empresarial.
E-Mail
[email protected]
Data:
09/04/03
As opiniões expressas em matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição do Empresário Online. Proibida a reprodução sem a autorização expressa do autor.

Otimismo Brasileiro

Um crescimento da economia nacional da ordem de 4,5% e a geração de 10 milhões de empregos prometidos pelo presidente Lula, já começam a surtir um certo otimismo no empresariado brasileiro. Alguns indicadores despontam neste início de ano, como a ligeira valorização do real. O dólar comercial registrou, na primeira semana de janeiro, a menor cotação desde 17 de setembro, fato atribuído, em parte, ao fluxo cambial positivo e ao esvaziamento da bolha especulativa inflada por boatos e temores dos últimos meses.

O controle da inflação e a estabilidade de preços, principais objetivos econômicos do novo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles também somam pontos ao novo governo. Meirelles, em seu discurso, enfatizou "que o papel do Banco Central é convergir os índices medidos de inflação para as metas fixadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O regime de metas inflacionárias é o melhor modelo para o BC e o principal instrumento de política monetária para controle da estabilidade de preços. É fundamental que trabalhemos para preservar a credibilidade, afastando qualquer dúvida quanto ao combate à inflação", afirmou. Além disso, segundo Meirelles, "a implantação do câmbio flutuante e a adoção do regime de metas se constituem em um marco entre os países emergentes". Outro ponto positivo, segundo ele, é que ao Banco Central cabe manter os juros em nível suficiente para o controle da inflação. A Pesquisa Focus estima uma inflação de 12,64% para 2002 e de 11% para 2003. O índice calculado para 2002 superou o teto máximo previsto pelo governo no acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Para 2003, a meta de inflação no acordo firmado com o fundo é de 4%, podendo oscilar 2,5% para mais ou para menos. Henrique Meirelles promete a defesa da moeda e da soberania nacional que deve orientar de forma "inequívoca e permanente" o trabalho da autoridade monetária. Para ele a tarefa principal do BC é "manter a inflação baixa".

Mal o ano começou e o índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) apresentou o melhor desempenho do mundo, comparado com os 74 principais mercados. Subiu 13,71% em dólar na primeira semana de 2003, superando 12 mil pontos pela primeira vez, desde junho último. A melhora de percepção do Brasil, com o risco-país (que mede a confiança dos investidores no Brasil) atingindo o menor patamar desde junho do ano passado, foi responsável pela valorização dos ativos domésticos, beneficiando o mercado acionário. As expectativas são bastante positivas, diante do comprometimento do atual governo com o controle das metas de inflação, com a austeridade fiscal, equilíbrio permanente das contas públicas, etc.

Esta reação dos investidores mostra-se favorável aos primeiros passos do governo petista. Após a histeria que abalou o cenário econômico desde meados do ano passado, finalmente, o mercado financeiro começa a dar sinais de recuperação. São esperadas captações de empresas e bancos de cerca de US$ 535 milhões, operações essas que indicam que as linhas de crédito internacionais podem estar de volta. As declarações do Ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de que se for preciso elevará a meta do superávit primário do setor público consolidado neste ano, têm agradado ao mercado, o que nos leva a crer que a crise que assolou o país no ano passado, diante da perda de confiança dos investidores financeiros na economia nacional, já tenha sido superada.

Outro crescimento, embora tímido de apenas 0,5%, foi registrado em novembro, em relação a outubro, na produção industrial em todas as comparações, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico (IBGE), Os indicadores registram crescimento de 2,1% de janeiro a novembro e de 1,4% nos últimos 12 meses. Os segmentos exportadores foram os que demonstraram melhor desempenho, seguidos das indústrias: mecânica (20,4%), metalúrgica (11,9%), material de transporte (14,8%) e química (13,7%); borracha (16,4%) e perfumaria, sabões e velas (16,6%).

Muitas empresas de outros segmentos adiaram seus projetos de 2002, em função da Copa do Mundo e das eleições. Nesse começo de ano, entretanto, já podemos sentir um certo entusiasmo e também urgência em retomar o crescimento. As empresas voltaram a empregar e a média de dezembro (embora muitos temporários) foi de 2,5 mil novas vagas por dia. Porém, já nos primeiros dias de janeiro - tradicionalmente desaquecido em termos de trabalho - a média já atinge a 3,2 mil novas oportunidades de contratação por dia, parâmetro bastante alentador.

Embora reconhecendo a melhora do humor dos mercados, acredito que ainda seja precipitado qualquer julgamento, pois precisamos esperar para ver como se comporta o governo Luiz Inácio Lula da Silva, uma vez que tanto a cotação do dólar quanto o risco Brasil tiveram acentuada alta durante a corrida eleitoral. Somente após o anúncio do plano de governo o mercado sentiu-se aliviado de suas maiores ameaças: moratória e fim da responsabilidade fiscal. Outro fator que favoreceu a recuperação da Bovespa foi o baixo preço das ações das empresas nacionais, que acabaram atraindo o capital estrangeiro. As expectativas em cima da reforma da previdência e da tributária também animam o mercado, que se sentiu caminhar em direção ao precipício da desesperança.

Porém, a confiança demonstrada ao governo Lula tem facilitado a captação de recursos nos mercados estrangeiros, e se continuar assim, melhoram as expectativas inflacionárias sobre o quadro interno e externo e a política de juros pode também afrouxar mais cedo.

Se persistir o otimismo que tomou conta do mercado financeiro neste início de ano, com a queda do dólar e do risco-país, as expectativas assustadoras de uma inflação galopante em 2003 podem se reverter já no início do novo governo, depois de subirem feito um rojão desde setembro, sob o efeito perverso da valorização de 53% do dólar americano.

No entanto, as declarações da nova equipe econômica melhoram o cenário do mercado financeiro, arrefecendo os ânimos. O compromisso de combate à pobreza e a iniciativa de levar adiante as principais reformas agradaram os investidores internos e externos.

O tão esperado aquecimento econômico com inclusão social e a meta de fazer o País crescer com a estabilidade monetária são premissas nas quais todo empresariado tem que acreditar, pois a fase de transição já começou e com ela o empresário deverá ser criativo e austero com seu planejamento tributário, cujas taxas tendem a aumentar para viabilizar os projetos sociais no novo governo. Enquanto o mundo todo teme o terrorismo e a eminência de uma terceira guerra mundial, no Brasil o maior terrorista é a alta carga tributária. Não é novidade o fato de que o governo só vê como alternativa, reforçar sua arrecadação, via aumento da carga tributária, para atender a necessidade de satisfazer seus compromissos. Mas o maior problema é a maneira como ela se compõe. Mais do que oportuno, dentre outras medidas emergenciais para minimizar a aflição dos empresários, é preciso que cada um reveja seu negócio, pois, é possível se conseguir uma considerável redução da carga tributária, de maneira absolutamente legal.

.

© 1996/2002 - Hífen Comunicação Ltda.
Todos os Direitos Reservados.