.
Autor:
Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto
Qualificação:
Colaborador da Fundação Carlos Alberto Vanzolini
Autor:
Alonso Mazini Soler
Qualificação:
Gerente de prática de consultoria tecnológica da Hewlett Packard Consulting do Brasil
Data:
11/07/00
As opiniões expressas em matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição do Empresário Online. Proibida a reprodução sem a autorização expressa do autor.

A função empreender

Ichak Adizes, importante pensador da administração empresarial radicado nos Estados Unidos, identifica quatro funções básicas no processo de tomada de decisões das gerência das organizações, sejam elas empresas ou outras instituições: Produzir, Administrar, Empreender e Integrar. Essa postulação nos parece um verdadeiro ovo de Colombo sobre a questão do que é necessário para uma gestão eficiente e eficaz.

Essas quatro funções básicas têm relacionamento preferencial com as diversas características da atividade organizacional, da seguinte forma: a função P está associado à atividade de produzir, ao propósito da organização, àquilo para o qual a organização foi concebida e direciona sua existência (identifica-se com as perguntas "o quê?", "quanto?"). A função A está associada com a sistematização, a adoção de rotinas e a programação das atividades da organização, de modo que as coisas certas sejam feitas no momento e intensidade certos (identifica-se com a pergunta "como?"). A função E está associada à questão da antecipação do futuro, do planejamento e do empreendedorismo (identifica-se com as perguntas "por que fazê-lo?", "para que fazê-lo, "quando?", "onde?"). A função I está associada aos aspectos de interdependência e afinidades organizacionais. Trata-se do desenvolvimento da consciência orgânica capaz de promover a sinergia na organização (identifica-se com as perguntas "quem?", "com quem?"). Vê-se, pois, que os variados aspectos da atividade organizacional exigem, para promover devidamente a qualidade de seus respectivos processos de tomada de decisão, um ‘mix’ adequado da essência das quatro funções básicas no seio do corpo administrativo.

Segundo Adizes, pode-se também associar essas funções básicas aos seguintes efeitos: o P à eficácia a curto prazo, no sentido de promover a orientação e foco adequado ao propósito da organização; o A com a eficiência a curto prazo, proporcionada por uma correta administração dos vários aspectos do empreendimento em desenvolvimento; o E pela eficácia a longo prazo, no sentido do melhor aproveitamento das oportunidades futuras; e o I na eficiência a longo prazo, imaginando que esse aproveitamento seja feito de maneira harmoniosa.

Um interessante exercício de raciocínio pode ser feito para imaginar quais as conseqüências da indesejável predominância excessiva ou ausência de cada uma das funções básicas no estilo das gerências da organização. Uma gerência exclusivamente P enfoca sua tarefa com extrema dedicação e diligência, mas não dispõe de qualquer habilidade administrativa, de planejamento e/ou de integração com seus colaboradores. Reage prontamente aos estímulos da organização, mas carece de eficiência. Por outro lado, uma gerência exclusivamente A provocará excesso de burocracia e controles, mesmo que em detrimento aos resultados do negócio. A gerência exclusivamente E pode ser comparada a um "incendiário" que alimenta a organização com novas idéias a todo momento, sem contudo conseguir planejar qualquer conjunto de ações mais estruturado capaz de implementá-las. Já a gerência exclusivamente I caracteriza-se pela simpatia à prática da "politicagem" e está fadada à geração de conflitos entre seus colaboradores. Adizes costuma definir essas disfunções gerenciais como os estilos de "anti-gerência" e alerta para que se reconheçam nas gerências das organizações profissionais que se complementem em termos de estilo gerencial e que se integrem em prol da qualidade das decisões a serem tomadas.

Há que se notar que, em nosso País, essas funções aparentemente não têm sido reconhecidas como igualmente importantes. De fato, à função P muita atenção tem sido dada já há bastante tempo, com a proliferação das escolas de engenharia. O mesmo se pode dizer quanto à função A, em tempos mais recentes, porém disseminada por um número ainda maior de escolas de administração. A função I, embora em menor grau, costuma também ser abordada nas disciplinas referentes à administração de recursos humanos e afins. Já a função E tem sido tradicionalmente tratada como o primo pobre pelo nosso ensino universitário, embora uns poucos exemplos de gerências com tal capacidade sejam tratados freqüentemente com veneração pela imprensa e pela mídia, tanto quanto são estudados e analisados nos seus pormenores pelo meio acadêmico. Seus feitos? A capacidade de transformar sonhos em realidade. Bill Gates e sua Microsof tanto quanto Jeff Bessoz e sua Amazon.com são exemplos desse homens que conseguiram tirar proveito do futuro.

De volta ao ambiente nacional, de fato, excetuando-se esforços isolados como os do SEBRAE e do REUNE - Rede para o Ensino Universitário do Empreendedorismo, notável iniciativa do empreendedor mineiro Fernando Dolabela, pouco se tem falado, em termos acadêmicos, da importância do empreendedorismo. Nossas escolas de engenharia, por exemplo, historicamente preparam seus alunos para serem empregados de grandes empresas, sem nenhuma visão quer do empreendedorismo voltado à criação de negócios e empregos, quer para o intra-empreendedorismo gerador de colaboradores parceiros das organizações. Isto provavelmente decorre da própria inexistência de uma cultura empreendedora no nosso ambiente universitário, realidade que necessita ser modificada, a exemplo do que acontece nos países líderes, onde se incentiva o surgimento de novos negócios e oportunidade em institutos de pesquisa privados associados às universidades.

Felizmente, parece que, embora tardiamente, o Brasil está acordando para essa realidade. O próprio governo federal, ao lançar o programa Brasil Empreendedor, parece dar mostra disso. Outro bom exemplo está no apoio proporcionado pelo Ministério do Trabalho e Emprego à Fundação Vanzolini para desenvolver o Projeto E - Fórum Virtual de Educação para o Emprego e o Empreendedorismo, como parte do programa de educação à distância daquela instituição. Esperamos que esse despertar esteja realmente ocorrendo e se propague por toda a nação como forma de criação de novas oportunidades, combate ao desemprego e projeção do país a um novo patamar de realizações e progresso.


.

© 1996/2002 - Hífen Comunicação Ltda.
Todos os Direitos Reservados.