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Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing
E-Mail
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Data:
12/04/01
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Racionar a má gestão

Alegria de pobre dura pouco, diz o ditado popular, e com toda a razão. Mal tivemos tempo de "curtir" as boas notícias - a economia brasileira, de acordo com os durões do FMI, está menos vulnerável a crises externas; o Produto Interno Bruto (PIB) fechou o ano 2000 na casa dos 1,085 trilhão de dólares; e a renda per capita brasileira chegou a seis mil e 500 dólares no ano passado - , quando fomos avisados pelas autoridades competentes da iminência de dois racionamentos: o de água e o de energia elétrica.
Pois é, parece que o aval dado pelo FMI, uma espécie de "ISO-9000", não se aplica às crises internas. Contra elas e contra a improvisação, a política de "apagar o incêndio" e tocar para frente; os desperdícios de toda ordem e a má gestão que, infelizmente, ainda são regra entre nós, não foi inventado ainda qualquer tipo de prevenção.
A "culpa" pela iminência dos dois racionamentos, como de costume, foi para o pobre São Pedro. Ele, na versão do governo, fez chover pouco durante o verão, recém-encerrado, e com isso mananciais, lagos e represas das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste estão com seus níveis abaixo das médias históricas para o período.
A desculpa oficial é, de acordo outra máxima da sabedoria popular, "para inglês ver", (não convence ninguém), pois é do conhecimento dos especialistas que há ocorrência de verões secos, de tempos em tempos.
Ora, será que as empresas que captam água potável na região mais populosa do País e o órgão controlador dos níveis dos lagos e das represas não sabiam disso?
Bem, mas vamos aos fatos. Desde o ano passado, havia previsões de que o verão de 2001 poderia ser seco. Apesar disso, as empresas nada fizeram, além de torcer contra a meteorologia. No ano passado, escrevi artigo sobre a necessidade de se fazer uma campanha permanente para educar o consumidor brasileiro contra todos os desperdícios, de água, de energia elétrica, de comida, de material de construção, de lixo etc.
Além disso, sugeri a construção de uma rede de poços artesianos, que seriam usados em casos de emergência. Apesar do imenso esforço da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), pouco foi feito em termos de troca da velha rede de distribuição de água, a ponto de 30% de toda a água captada perder-se em vazamentos antes mesmo de chegar às torneiras.
Em relação à energia elétrica, a situação é mais crítica. Há pelo menos uma década, a iniciativa privada do setor e a sociedade vêm alertando o governo para a necessidade de se investir em geração. Em vão. As termelétricas planejadas não saíram do papel. E a recente autorização obtida pela Aneel (agência reguladora do setor) para importar energia da Argentina e do Paraguai poderá transformar-se em grave problema, caso os dois linhões de transmissão de Itaipu fiquem com sobrecarga de energia.
A possibilidade disso acontecer não é pequena e, em tais casos, as linhas de transmissão "caem", causando enormes apagões. E por que isso? Simplesmente porque o governo atrasou as obras de implantação do terceiro linhão.
Deixo aqui, portanto, minhas sugestões às autoridades dos dois setores: façamos, de maneira perene, campanhas educativas de uso racional de água e energia; e adotemos uma política de incentivo financeiro para os consumidores (empresariais e residenciais) que economizem esses dois itens, ao mesmo tempo, tão vitais quanto passíveis de esgotamentos de suas fontes, no curto prazo.


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