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Autor:
Carlos Alberto Pompeu de Toledo Soares
Qualificação:
Diretor da G. Capts Consultoria
Data:
12/07/00
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Parente, uma solução aparente

O nosso "próximo" mais próximo está na família. É no seio familiar em que se encontram em antagonismo os maiores problemas que o homem pode encontrar e também as maiores soluções e proteções que o homem pode conseguir.

Na vida empresarial, muitas vezes se encontram laços de família compartilhando de um mesmo negócio. Mas até que ponto isso vale a pena?

Investido com o nome de segurança e garantia, é muito comum um empresário contratar um parente em detrimento de um desconhecido qualquer. Subentende-se que o parente não o lesará de forma alguma, ou seja, um problema a menos com que se preocupar. Será verdade?

Os problemas colaterais de se contratar o parente surgem, porém, rapidamente. Nem sempre o parente é profissionalmente tão habilitado quanto um outro qualquer, que seria escolhido de acordo com os requisitos do cargo disponível; então, certamente já teremos algumas dificuldades ou a perda da qualidade, essencial nos dias de hoje.

No início da relação, o patrão deixa de cobrar do parente com o mesmo empenho, pois é um dos seus, a quem geralmente deve um respeito diferenciado. O empregado, por sua vez, como não é cobrado exatamente na medida necessária, naturalmente tende a relaxar, principalmente porque tem poucos riscos; se alguém tiver de ser mandado embora, sabe que é o último da lista.

Essa omissão das duas partes logo começa a prejudicar os resultados do negócio, e quando o patrão resolve tomar as rédeas e cobrar por tudo que não vinha cobrando, a retórica é recebida como uma desfeita ao parente.

A razão inicial, o quesito confiança, por sua vez, faz cair por terra toda a precaução natural do empresário que naturalmente vai abrindo a guarda, crente que seu contratado olha para o seu negócio como ele. E realmente este assim o faz, mas não com a preocupação que ele tinha antes, mas sim com a mesma do empresário no momento atual. Moral da história, os dois estão com a guarda baixa e é exatamente quando outros atuam em prejuízo da empresa.

A coisa se complica então quando a informação das dificuldades ultrapassa as paredes da empresa indo ter diretamente junto ao resto da família que, por sua vez, passa então a julgar e a tomar um partido.

Nesse momento, surge um novo vilão, a política da informação: aquilo que um quer que o outro saiba é dito arrolando novos personagens que acabam se tornando medianeiros de informações que um não tem coragem de dizer ao outro diretamente. E aí meu amigo, foi posto fogo no estopim, a política surda rapidamente prolifera por todos na empresa.

Quando o empresário resolve então dar um basta, tem de se reportar a toda família, tentando justificar sua atitude. Demitir um parente então é como mandar um filho para fora de casa.

Por mas que se diga no começo que a relação será estritamente profissional entre parentes, assim como entre amigos, isso nunca será possível. Os laços que ligam as partes transcendem os interesses do negócio. O parente é aquele que mais conhece nossas fraquezas, nossos defeitos e não tardará o momento em que no meio de uma acalorada discussão, remonte-se a um passado de um ou de outro. E aí vem o tiro mortal, quando um toca na ferida do outro, trazendo à baila aquele assunto que só um parente sabe qual é.

A questão do valor também tem um tratamento diferente; o parente empregado sempre se acha no direito de receber proventos melhores, pois conhece as capacidades da empresa e, além disso, seu patrão conhece suas dificuldades e acaba sentindo-se constrangido, tendo constantemente que elevar seus vencimentos. A tal questão da confiança aí adquire um valor muito maior do que deveria; afinal, supõe-se que qualquer funcionário deva ser de confiança. Então por que pagar mais por ela?

Devemos pensar quinhentas vezes antes de empregar um parente. Há muitas outras formas de ajudá-lo, seja apresentando-o a outras pessoas que possam contratá-lo, seja propiciando a ele o aperfeiçoamento com cursos de atualização etc.

Você acha que não é bem assim? Com você será diferente? Ok, nos falamos depois...


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