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Autor:
Jordão de Gouveia e Gerson Salvador Papa
Qualificação:
Presidente e Assessor da Presidência do SINESCON - Sindicato Nacional das Empresas de Serviços de Concretagem.
E-mail:
[email protected]
Data:
12/09/03
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Os "Piratas" da Construção Civil

É incrível a capacidade tupiniquim de se criar subterfúgios. Até mesmo em áreas técnicas, que exigem controles e precisão, observamos distorções mercadológicas. O concreto dosado em central é uma prestação de serviço exercida dentro de normas técnicas e responsabilidades claramente definidas, pelas 130 concreteiras idôneas do país. O concreto dosado em central representa cerca de 13% do consumo de cimento no Brasil, equivalente a 17 milhões de metros cúbicos/ano, em nível nacional. Em alguns lugares, a participação do concreto dosado em central pode chegar de 60% a 70% do total de concreto utilizado e, em outros, a 10% ou menos do concreto utilizado.

Para manter o alto padrão dos serviços oferecidos, o investimento de uma concreteira é muito alto e sua operacionalidade depende de controles rígidos e precisos de qualidade. As centrais estão preparadas para dosar com precisão qualquer tipo de concreto, seja qual for sua especificação. A partir da década passada, a evolução das centrais foi muito significativa com a adoção de sistemas de automação; de programas de controle que agem deste o contrato de prestação dos serviços; controle dos traços; dosagem e programação, que mudaram de forma sensível o concreto. A empresa necessita estar rigorosamente em dia com o recolhimento de impostos e obrigações sociais, pois deve fornecer cópia destes documentos ao cliente/construtor, para que o mesmo obtenha o "habite-se" da obra. É obrigatória também a existência de responsável técnico perante o CREA, cujas centrais mantêm laboratórios em atividade constante. A qualidade do concreto é a equação perfeita da qualidade dos insumos, da tecnologia e da mão-de-obra especializada. A soma destas alterações possibilita a existência de um concreto com uma qualidade muito superior.

Apesar de Legislação Especifica, Normas Técnicas rigorosas, Registro no CREA etc. é surpreendente constatar a atividade de empresas e indivíduos inescrupulosos, que simplesmente vendem os serviços de concretagem a empresas e pessoas desatentas, como se efetivamente fossem uma concreteira legalizada e dentro dos padrões exigidos por Lei. Após a venda, esses "piratas" procedem à compra dos serviços de uma empresa conhecida, quase sempre com características técnicas reais, porém com serviços inferiores no quesito qualidade e, portanto, mais baratos, o que coloca em risco a obra e vidas humanas. O concreto adquirido é então repassado pelos "piratas" às suas vítimas, que ao receberem um caminhão betoneira de uma concreteira conhecida, acreditam (erroneamente) estarem adquirindo serviços daquela empresa. Ledo engano, pois esta não é realidade. Na verdade seu fornecedor é o pirata (pseudo concreteiro), verdadeiro cliente da empresa prestadora de serviço.

Somente, porém, quando o construtor necessita da documentação técnica ou fiscal é que descobre a fraude, pois a concreteira não tem nenhum documento em seu nome, uma vez que a aquisição dos serviços foi feita por terceiros - o pirata atravessador.

Nosso alerta, portanto, é para coibir essa fraude impiedosa, conscientizando o construtor de certificar-se de estar realmente adquirindo serviços de uma empresa idônea e estruturada, com Responsável Técnico, Registro no CREA, Central Dosadora de Concreto, Caminhões Betoneira, Contrato de Sub-Empreitada de Construção Civil etc. E tem mais: preço baixo pode significar prejuízos irreparáveis ao imóvel. A qualidade dos serviços exige um planejamento adequado, ou seja, o plano de concretagem com a participação ativa da central e da obra se tornou um elemento fundamental para o resultado final. Isto só é possível com um diálogo sério, honesto, preciso e transparente entre comprador e fornecedor, que possibilite ganho a todos da cadeia construtiva. É preciso conscientização e responsabilidade por parte do construtor.

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