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Autor:
Luis Felipe Cortoni
Qualificação:
Sócio-gerente da LCZ Desenvolvimento de Pessoas e Organizações.
E-Mail
[email protected]
Data:
13/01/4
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Para sobreviver no Mercado de Trabalho

O que mudou nos ambientes organizacionais nos últimos 20 anos e o que se exige de um profissional nos dias atuais?

    Cena 1

  • 7h30 chegada ao local de trabalho

  • papéis e pastas nas gavetas

  • máquina de escrever elétrica (esférica, última geração)

  • preparar transparências para apresentar na reunião do setor

  • pedir uma ligação para a telefonista

  • fazer trabalho prévio para participar no curso gerencial de trabalho em equipe (40h de duração)

  • aviso de aumento de salário vindo do departamento de pessoal

  • almoçar num dos 4 restaurantes da empresa, aquele do seu nível hierárquico

  • pedir um relatório de dados ao CPD

  • discutir com O&M uma norma de utilização da máquina “Xerox”

  • estar no oitavo posto (de cima para baixo) dos 10 níveis hierárquicos existentes

  • 17h15 retorno para casa

    Cena 2

  • 9h chegada ao local de trabalho

  • micro ligado, 60 novos emails

  • vídeo-conferência com parceiros da Venezuela, USA, e

    Hong Kong (o inglês do oriente é incompreensível!)

  • reunião com o pessoal da categoria de produtos e do processo de supply chain

  • 25’ de visita à intranet para preencher formulário de auto-avaliação de desempenho

  • reunião com célula de trabalho para tomar decisões técnicas e de gestão de pessoas

  • elaboração de relatório de custos da célula para enviar ao gerente

  • conference call com fábrica e Departamento de Marketing para update de lançamentos de produtos

  • verificar as metas para estimar o bônus do mês

  • estar no meio dos 3 níveis hierárquicos existentes

  • e o almoço??

  • 21h retorno para casa mais cedo por causa de compromisso familiar

    Quantos anos separam as duas cenas acima? Não é difícil de dizer: apenas 20 anos. Quantas diferenças! A única igualdade é a presença dos protagonistas. Por isso interessa ressaltar aqui não as mudanças ocorridas nestes anos e que transformaram os ambientes tão drasticamente, estas todos nós conhecemos ou experimentamos.

    No entanto, parece sempre muito mais importante discutir e refletir sobre que tipo de exigências são feitas aos protagonistas das cenas de hoje do dia-a-dia organizacional, para que possam ter um desempenho adequado para sobreviver e obter sucesso profissional, em comparação àquelas exigidas dos protagonistas de ontem.

    Isto porque aprendemos, depois de muitas mudanças, que as estruturas e modelos de gestão organizacionais mudaram muito mais rapidamente do que nossa capacidade de nos adaptarmos a eles, e além disso, diz-se nos meios organizacionais que as pessoas são o patrimônio mais importante das empresas hoje. Portanto, nunca é demais buscar entender o que as empresas esperam/exigem dos seus “colaboradores” hoje.

    Algumas exigências feitas hoje são velhas conhecidas: trabalho em equipe, competência interpessoal, falar outro idioma, visão de resultados e de custos, estilo participativo... Quer dizer, vem sendo desenvolvidas e discutidas com mais ênfase nos últimos 15 anos.

    Outras são inéditas, por isso mais recentes: trabalhar em/com grupos virtuais, autonomia decisória, trabalhar sem supervisão permanente, desempenhar-se em estruturas matriciais, ter visão de processo, falar outros idiomas...

    Acrescente-se a elas a pressão por resultados, a vivência cotidiana com o ambíguo, o intangível, o anacrônico, o virtual, o efêmero, o estressante, o rápido, e teremos um quadro fiel da luta pela sobrevivência de muitos nas organizações de hoje.

    Obviamente os impactos em cada um de nós são diferentes. Alguns desenvolvem comportamentos adequados e se adaptam rapidamente sem problemas, outros sofrem para conseguir isto, outros acabam não conseguindo, porém mudam “a reboque”. Mas todos fazem esforços para decodificar as exigências, buscar entendê-las e transformá-las em comportamentos adaptados e esperados pela empresa. Este processo de busca das pessoas é intenso e interminável, assim acontece o desenvolvimento humano.

    Uma das fontes de apoio a ele tem sido, inegavelmente, as explicações teóricas, as metáforas, os depoimentos de líderes de sucesso, as analogias com o esporte, a literatura de auto-ajuda, os treinamentos alternativos... todos elaborados como tentativas válidas de ajudar a compreensão da realidade organizacional de hoje e dar pistas de sobrevivência para o amanhã às pessoas.

    No entanto, estas fontes não são iguais nem em profundidade nem em intenção explicativa; esta parece ser também uma característica do contexto de hoje se comparado ao de ontem. É preciso que os profissionais desenvolvam para isso outra última exigência que pode ajudar em todas as outras: a visão crítica. Somente com ela poderão selecionar as informações/explicações deste tipo que chegarão a eles em uma velocidade e quantidade sempre crescentes. Poderão identificar as “soluções” milagrosas, simplificadoras ou “de banca de aeroporto” e muitas vezes enganosas, que oferecem rapidez sem muita perda de tempo com reflexões profundas, supostamente demoradas e portanto indesejadas.

    Sobreviver e desenvolver-se no contexto organizacional de hoje tornou-se, portanto, um exercício complexo e ambíguo: de um lado estar pressionado para adaptar-se rapidamente às exigências de desempenho e de outro estar exposto a uma grande quantidade de fontes não muito sustentáveis de explicações e soluções, que não tratam o comportamento humano na empresa com a profundidade e na complexidade que lhe é inerente.

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