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Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente da Associação dos Dirigentes de vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing (FBM).
E-mail:
[email protected]
Data:
14/12/99
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A Inflação "Gregoriana"

A inflação, medida pelo IGP-M, acumulou de janeiro a novembro nada menos do que 17,97%. Alarmados pelo risco da volta daquilo que o ex-ministro Mário Henrique Simonsen chamava de inflação "gregoriana" (referência à ânsia de elevar preços que toma conta de todos quando o calendário mostra o início de cada ano), que é causada e alimentada pelo próprio governo, os burocratas já começaram a mandar recados. O primeiro deles foi dado pelo próprio presidente Fernando Henrique Cardoso, pedindo aos empresários que não repassassem as altas das tarifas publicas ou administradas (energia elétrica, derivados de petróleo, álcool, água, pedágio e telecomunicações, dentre outras) aos preços dos produtos fabricados por eles. Como se isso fosse possível.

Ouvidas as ponderações empresariais, dando conta de que não poderiam continuar a segurar os repasses da elevação das tarifas públicas para os preços das mercadorias e serviços indefinidamente, teve início um tímido debate sobre as verdadeiras causas que pressionaram a alta das tarifas públicas adiministradas pelo governo e controladas por agências tipo Aneel (energia elétrica), ANP (combustíveis e derivados do petróleo) e Anatel (telecomunicações).

O presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Andrea Calabi, ameaçou pôr o dedo na ferida, ao sugerir para o próximo ano a revisão de algumas cláusulas dos contratos de concessão firmados entre o governo e empresas vencedoras dos leilões de privatização, mas foi prontamente contido pelo ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga. Com isso, Calabi deixou escapar, nas entrelinhas da entrevista, a "pista" que poderá nos levar às causas das altas excessivas nas tarifas públicas: a total falta de controle sobre as empresas que compraram as ex- estatais produtoras de bens e serviços públicos.

Mas, vejamos quais foram os "vilões" dos virtuais 18% de inflação acumulada de janeiro a novembro, no conceito do IGP-M. Petróleo (leia-se gasolina e principalmente óleo diesel que movimenta a frota de caminhões de carga), álcool, energia elétrica e carne bovina. Desses itens, o único que não tem os preços administrados e teoricamente controlados pelo governo é a carne.

A desculpa dada pelos burocratas do governo para explicar as altas de 60%, 30%, 40% e 20%, respectivamente, é mais ou menos a mesma.

No caso do petróleo, a culpa foi jogada para a elevação das cotações ocorrida no mercado internacional (US$ 25/26 o barril). Eles só esqueceram de dizer que a produção brasileira de petróleo já responde hoje por mais de 70% do consumo, segundo dados da Petrobras. Já no que se refere ao álcool, a explicação dada foi a de que os preços estavam defasados. Quanto à energia elétrica, o raciocínio foi mais ou menos o seguinte: o setor precisa investir em transmissão e distribuição para evitar a ocorrência de novos "apagões" como o de março passado.

No fundo, a questão pode ser resumida da seguinte forma: em janeiro, o governo resolve, enfim, acabar com a desastrada política do câmbio sobrevalorizado. Passado algum tempo, inicia a política de recomposição violenta das tarifas públicas (gasolina, diesel, álcool, energia, pedágios, telefones etc.) para poder arrecadar mais. Simultaneamente, pede ao setor privado que evite ao máximo repassar tais aumentos para os preços das mercadorias. Protela ao máximo a reforma tributária e ameaça com novo arrocho fiscal para conter a inflação, Já vimos esse filme.


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