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Autor:
Marcelo Schneck de Paula Pessôa
Qualificação:
Engenheiro-eletrônico, professor doutor da Poli/USP e diretor de Informática da Fundação Vanzolini.
E-mail:
[email protected]
Data:
15/12/99
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Bug Do Milênio:
O que se deve esperar na virada do ano?


Ano 2000. Além do charme do número redondo e todas as superstições que isso pode acarretar, como o fim do mundo, chegada de novos salvadores, nesta virada de ano, ainda existe o Bug do Milênio que está virando capa de renomadas publicações, disputando espaço com as beldades femininas.

O que cada um de nós como cidadãos temos a fazer? Em primeiro lugar, não há nenhuma razão para pânico. Moramos em um país tropical, com muito sol; estamos em pleno verão e portanto, não há necessidade de fazer previsões, como os norte-americanos, e estocar combustível para calefação. Nada disso. A preocupação deve ficar restrita aos aparelhos eletrônicos controlados por computador e, mesmo assim, somente aqueles que manipulam datas.

O problema é que, hoje em dia, o computador está em toda parte e nosso dia-a-dia depende deles: na injeção eletrônica do carro, no videocassete, no terminal de caixa do banco, no telefone, nos equipamentos que distribuem energia elétrica... Bem, no que o "Bug" poderá nos afetar?

Podemos dividir nossa preocupação em transtornos e riscos.

Transtornos são aquelas coisas que, se ocorrerem, vão apenas nos atrapalhar mas não possuem maiores consequências, como por exemplo, o videocasste que pode programar errado a hora da gravação de algum programa; ou as emissoras de televisão ou de rádio que podem sair do ar porque seus equipamentos entraram em pane (quem sabe, isso talvez seja até um benefício!)

Riscos são aquelas ocorrências que podem provocar graves consequências como perdas financeiras ou mesmo acidentes sérios. Nessa categoria estão a área financeira, a de transporte, a distribuição de energia elétrica, as telecomunicações e a saúde. Vamos analisar por partes.

Em primeiro lugar a área financeira, graças ao brilhante trabalho do Banco Central, é a que mais se preparou e vem trabalhando nisso há muito tempo. Todos os bancos estão adequados ao ano 2000 desde dezembro de 1998. Em 99, com a ajuda de Febraban - Federação Brasileira dos Bancos, foram realizados muitos testes de integração interbancária. Evidentemente, a tecnologia da informação é uma ferramena estratégica para o trabalho dessas entidades e foi muito bem cuidada. Portanto, nada de se preocupar com relação a isso, nada de tirar dinheiro do banco por precaução.

Na área de transporte, há o metrô, os trens, os ônibus, os automóveis e os aviões. A preocupação maior é com relação à aviação, pois, uma pane pode causar perda de rota e provocar acidentes. Os responsáveis por essa área já realizam testes e garantem que não devem ocorrer problemas. Os demais meios de transporte não devem provocar maiores transtornos por possuírem baixo grau de sistemas computacionais e, no caso de falha, apenas param de funcionar.

A área elétrica é mais procupante, pois hoje a vida fica complicada sem energia elétrica. Não estamos preparados para viver sem ela. A Anatel, o organismo do governo que coordena as geradoras e distribuidoras de energia, acordou tarde, mas fez a lição de casa realizando muitos testes e afirma estar preparada para a virada.

A área de telecomunicações também afirma estar preparada, segundo a Anatel, o organismo de controle de área. Foram realizados também muitos testes de verificação e aparentemente está tudo bem.

Finalmente, a área de saúde, é uma espécie de lanterninha dos setores de risco. Nos hospitais existem duas categorias de equipamentos que podem falhar como consequência do ano 2000: os sistemas administrativos que cuidam da operação dos hospitais e os equipamentos médicos. Os primeiros poderão, no máximo, causar irritação aos pacientes devido à operação manual se o computador falhar. Os últimos são equipamentos como tomografia computadorizada, as máquinas nas unidades de UTI e equipamentos de análise laboratorial. O único risco que pode ocorrer, é uma falha em um equipamento que realiza monitoração direta do paciente. Os demais podem apenas impedir a realização de um diagnóstico ou de uma ánalise. Os hospitais que tiveram a mínima preocupação de inventariar os equipamentos existentes, separar aqueles que apresentam riscos e preparar um plano para operar sem os mesmos, não vão ter nenhum problema.

Portanto, como cidadãos, nossa função é ficar alerta para a questão do ano 2000 questionando nossos fornecedores de produtos e serviços, verificando as possibilidades de falha. O maior problema será na própria virada do ano, quando a maior parte das pessoas estará com os amigos em casa ou a passeio, bem longe das máquinas que podem fallhar. Qualquer falha que houver, deverá ser fortuita, e o restabelecimento da normalidade será muito rápido.

Assim, senhores, bem-vindos ano 2000, sem temores quanto ao Bug do Milênio!


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