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Autor:
Alvin Toffler
Qualificação:
Assessor de presidentes e primeiros-ministros de vários países e CEOs de importantes empresas em todo o mundo.
E-mail:
[email protected]
Data:
16/10/03
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Será Que a "Nova Economia" Existe de Fato?

"Na Terceira Onda, o conhecimento é a principal forma de capital. Você e eu podemos usar o mesmo conhecimento ao mesmo tempo. Este fato, por si só, derruba o alicerce dos pressupostos tradicionais acerca do capital e abre um rombo na própria definição de economia como a ciência da alocação de recursos escassos"

As tremendas oscilações nos preços dos mercados de ações em toda a parte na primavera de 2000 - por causa de colapso dos preços das ações de empresas ligadas à Internet na Nasdaq e outros mercados de ações; do encontro de cúpula, realizado em clima tenso, dos líderes europeus em Lisboa ; e por causa da disseminação explosiva do Love Bug, o "vírus do amor" - deu nova vida à discussão que há muito tempo vinha se desenrolando discretamente entre investidores, funcionários governamentais, líderes empresariais e o público em geral no mundo inteiro, de Seul a São Paulo. Será que a "nova economia" existe de fato?

De um lado, ainda encontramos fundamentalistas financeiros que insistem que o colapso no preço das ações de empresas de alta tecnologia prova que a nova economia é mais exagero do que realidade. Os preços ensandecidos das ações de tecnologia avançada eram apenas uma bolha, semelhante à Tulipomania holandesa do século 17.

O outro lado argumenta que está acontecendo uma verdadeira revolução - a mais profunda desde a Revolução Industrial. Cada vez mais, a riqueza está baseada no conhecimento, não nos fatores clássicos de terra, trabalho ou capital, e, portanto, as antigas maneiras de determinar o valor de uma ação deixaram de ser adequadas.

Ambos os lados desse debate estão equivocados. Ambos estão errados porque o mercado de ações, sendo movido por uma mentalidade de rebanho, não é, de modo algum, espelho ou medida das realidades econômicas subjacentes.

Os fundamentalistas financeiros também estão errados porque não chegam a entender a profundidade da transformação que está ocorrendo nas empresas e nas economias. Em todas as empresas, mesmo em algumas das maiores organizações da "velha economia", vemos mudanças de alto a baixo não apenas na tecnologia, mas em tudo: mudanças que acontecem desde a estrutura organizacional até mudanças nos sistemas de pagamentos, o rompimento das antigas fronteiras que definiam os diferentes setores da economia, o achatamento da hierarquia, a criação de alianças estratégicas em escala mundial, o avanço rumo à globalização e não podemos senão concluir que desconsiderar todas essas transformações simultâneas e cumulativas é muita ingenuidade.

E é duplamente ingênuo ignorar as mudanças que estão ocorrendo no próprio capital. Não só o capital na velha economia era tangível, como também implicava em "rivalidade". Na Primeira Onda, ou sociedades agrárias, a principal forma de capital era a terra. Se eu cultivasse a minha terra, você não podia cultivar a sua plantação na mesma terra ao mesmo tempo. Era ou você ou eu, nunca ambos. O mesmo era - e ainda é - verdade para o capital nas economias industriais da Segunda Onda. Você e eu não podemos usar a mesma linha de montagem ao mesmo tempo.
Tudo isso se inverte nas economias da Terceira Onda, nas quais o conhecimento é a principal forma de capital. Você e eu podemos usar o mesmo conhecimento ao mesmo tempo e, se o usarmos com criatividade, podemos até mesmo gerar mais conhecimento.

Esse fato, por si só, derruba o alicerce dos pressupostos tradicionais acerca do capital e abre um rombo na própria definição de economia como "a ciência da alocação de recursos escassos". A economia, a despeito de suas pretensões, não é uma ciência. E o conhecimento não é um recurso escasso.

Portanto, vovôs e vovós, existe, sim, uma nova economia. E ela é, sim, verdadeiramente revolucionária. Mas é precisamente por isso que o outro lado da discussão também está errado. Os defensores da nova economia prognosticam o momento como um crescimento econômico contínuo, suave e constante.
Revoluções não avançam suavemente. A idéia de que a revolução digital irá gerar anos de prosperidade sem extrema turbulência e grandes convulsões é, portanto, tão ingênua quanto a noção de que a nova economia não existe.

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