.
Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente do Conselho Deliberativo da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB).
E-Mail
e-mail: [email protected]
Data:
17/05/02
As opiniões expressas em matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição do Empresário Online. Proibida a reprodução sem a autorização expressa do autor.

Adeus à Alca

Integrar as três Américas num único bloco de nações soberanas e democráticas, de diferentes níveis de desenvolvimento, mas com expectativas de, ao longo do tempo, diminuir gradativamente as disparidades regionais de renda, graças ao intercâmbio comercial (desgravado de barreiras alfandegárias) e, também, ao fluxo de investimentos, parece, hoje, um sonho cada vez mais distante da realidade dos fatos.

A resistência do Congresso americano em aprovar a via rápida, mais conhecida como fast track (delegação de poderes sem os trâmites de praxe), para que o presidente Bush dê prioridade à formação da Alca, sugere um adeus às ilusões remanescentes no meio empresarial sobre o tema.

Na verdade, e, paradoxalmente, os Estados Unidos, que viviam a exaltar a Alca, de repente, mudaram o discurso e a prática. É compreensível. O maior temor da diplomacia americana era ter de negociar com os blocos regionais, do Mercosul até a América Central e o Caribe, passando pela Comunidade Andina. Mas as crises simultâneas de Argentina, Uruguai, Colômbia e Venezuela facilitaram as coisas para Bush.

Sem tempo para a América Latina, os Estados Unidos simplesmente trocaram o cronograma de implantação da Alca por ações diplomáticas bilaterais.

Dentro dessa nova ótica, elogiam o desempenho brasileiro, no cumprimento das metas acertadas com o FMI, mas, ao mesmo tempo, apertam o "parafuso" do protecionismo, com as sobretaxas às importações do aço, e a elevação dos subsídios agrícolas, incluídos na Farm Bill, que prevêem uma ajuda de nada menos do que US$ 180 bilhões ao longo dos próximos dez anos. Exaltam os esforços da Argentina para sair da crise, mas, via FMI, fazem exigências descabidas para a concessão de novos empréstimos.

Os riscos de um improvável, mas não impossível efeito Orloff, por conta do contágio argentino, já preocupam o governo brasileiro, que vai precisar, mais do que nunca, manter o atual esforço de ampliação das exportações, e iniciar uma reforma tributária de emergência ainda neste ano.

Em relação ao esforço exportador, a diplomacia brasileira tem sido bem atuante. Vai recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os subsídios recebidos pelos produtores americanos de soja e também já realizou algumas viagens pioneiras para abrir mercados alternativos, de grande capacidade importadora, como, por exemplo, a China, a Índia, a Rússia e os países árabes exportadores de petróleo.

Mas, adicionalmente, terá de apressar o fechamento de acordos comerciais estratégicos com a União Européia, o México e a África do Sul, dentre outros.

Quanto às reformas tributária e fiscal, não há dúvida de que ficarão para o sucessor de FHC, seja ele quem for. Mas isso não quer dizer que a atual administração deva cruzar os braços. Ao contrário. Já tramitam no Congresso projetos para excluir o PIS, a Cofins e o ICMS incidentes sobre insumos de produtos de exportação. É só aprová-los.

Ainda há tempo para retomar o controle da situação. Mas é preciso agir, com a necessária rapidez, inclusive na política da sucessão presidencial.


.

© 1996/2002 - Hífen Comunicação Ltda.
Todos os Direitos Reservados.