.
Autor:
Alex Monteiro
Qualificação:
Diretor da Thames Idiomas
E-mail:
[email protected]
Data:
17/06/03
As opiniões expressas em matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição do Empresário Online. Proibida a reprodução sem a autorização expressa do autor.

É Realmente Difícil Aprender Uma Língua Estrangeira?

No Brasil de hoje, de portas abertas para o mundo, aprender idiomas ainda é, para uma significativa parcela da população, um desafio.

Freqüentemente encontro profissionais, de grandes companhias a pequenas empresas, em todos os níveis hierárquicos , queixando-se que gastaram - em vão - dinheiro com cursos de línguas, pois não são capazes de simplesmente travar um diálogo inicial neste ou naquele idioma, ou pior ainda: não conseguem acompanhar com sucesso uma reunião de negócios ou realizar uma apresentação. Concluem que não nasceram para aprender línguas e muitas vezes culpam a escola - ou seu staff - pelo seu insucesso. Aborrecem-se diante da perspectiva de ter que se dedicar ao aprendizado durante anos, e acabam deixando de lado uma atividade que traz além dos benefícios práticos, um desafio que pode proporcionar prazer à atividade intelectual.

Aprender um idioma na vida adulta não é como quando se é criança. Sabe-se que durante a infância um indivíduo possui uma pré-disposição natural para aprender línguas, mais difícil de ser ativada no cérebro de um indivíduo adulto. Se for considerada a baixa qualidade do ensino de línguas nas escolas regulares, resta ao brasileiro dedicar-se ao aprendizado de línguas, talvez depois de passar pelo terceiro grau. O profissional inicia - ou retoma, pela enésima vez - um curso de idiomas, porém não consegue conciliar os horários, falta às aulas, não faz as tarefas, não revisa o conteúdo de aulas anteriores e gradativamente perde o entusiasmo. Um desenvolvimento que acontece naturalmente quando somos na infância é substituído, na vida adulta, por um inevitável trabalho intensivo de repetição e memorização, muitas vezes realizado de forma ineficiente.

Esta etapa do aprendizado envolve quatro habilidades básicas necessárias para se comunicar de forma fluente em qualquer língua: compreensão auditiva, fala, leitura e escrita. É justamente assim que todo indivíduo é, naturalmente, exposto desde o nascimento: primeiro ouvimos nossos pais, aprendemos a reconhecer os sons da língua; em seguida balbuciamos aquilo que ouvimos e formamos sílabas, que se transformam em palavras e posteriormente em sentenças; vamos à escola e descobrimos os signos gráficos que representam os sons e como decodificá-los, desenvolvendo a leitura; finalmente, somos levados a escrever e exprimir nossas idéias. As escolas de idiomas buscam, de forma análoga, imitar o processo de aprendizagem em um contexto artificial: a sala de aula.

Por ser artificial, a sala de aula priva o aluno de uma experiência absolutamente comum e muito importante, pela qual todos passam quando bebês: utilizar o idioma dentro de um contexto. Quando a mãe diz ao bebê que a comida é gostosa, por exemplo, a criança só aprende o significado das palavras "comida" e "gostosa" porque está provavelmente associando os sons destas palavras ao que vê diante de seus olhos (a comida) e as feições no rosto da mãe (expressando gostar). Algumas instituições tentam proporcionar a seus alunos a experiência de aprender idiomas em situações que os ajudem a memorizar mais facilmente, e para atingir este objetivo lançam mão de jogos, teatro, oficinas, música, etc. Estas atividades ajudam e muito, mas podem ser menos produtivas quando se trata de um profissional ávido por aprender dentro de sua empresa, mas que dispõe de pouquíssimo tempo para se dedicar. Não há, muitas vezes, número de alunos suficiente para realizar tais atividades e o espaço físico, as interrupções e o dia-a-dia do aluno interferem na forma de participar delas.

Além disso, um amplo conjunto de variáveis impõem barreiras para o bom aprendizado: valores, crenças, medos, dificuldades e experiências de vida interferem, em menor ou maior grau para o sucesso em desenvolver as habilidades individuais. Somada a elas, os adultos possuem uma variável especial: muitos se obrigam a usar a gramática com a precisão de um relógio suíço, provável influência de anos de escola regular, onde esta exigência fazia sentido, pois buscava-se ali o aperfeiçoamento da língua-mãe. Mesmo nesta etapa de nossa formação educacional, é difícil dominar as incontáveis regras impostas. Numa língua estrangeira, tal fenômeno repete-se em proporções ainda maiores, pela falta de intimidade com o idioma associada à necessidade do adulto - principalmente do profissional dentro de uma empresa que cobra resultados - de ser perfeito em algo onde perfeição inexiste.

Infelizmente, essas variáveis são ignoradas quando o aluno está diante dos livros e do professor. Na vida caótica de hoje, onde tudo é para ontem, o aprendizado de idiomas não é exceção: quanto mais rápido, melhor, poderá garantir a sobrevivência dentro de uma empresa. Saber duas ou três línguas de importância mundial num ambiente de alta competitividade significa estar à frente dos demais.

Esta angústia pode dominar a maioria dos alunos, frustrá-los e levá-los, muitas vezes, à busca incessante por cursos diferentes, em ambientes diferentes. O aprendizado de idiomas pode ser visto como investimento: os resultados nem sempre são conquistados a curto prazo, e alunos impacientes com um determinado tipo de método acabam pulando de galho

em galho. O problema é que existe um período mínimo entre o início do curso e o efetivo aprendizado que pode demorar alguns meses, dependendo da carga horária realizada. Ao abandonar um curso e partir para outro, o aluno nada mais faz do que adiar sua adaptação, num ciclo muitas vezes interminável. Pode-se afirmar que não existem cursos particularmente ruins, mas sim alunos que não se dão a chance de se adaptar àquilo que está sendo proposto por um método de ensino.

Se a paciência é a maior aliada do aluno de idiomas, o tempo é, sem dúvida, seu maior inimigo. Aprender idiomas (particularmente inglês) exige tempo para revisões constantes, dentro e fora de aula, leitura de revistas e livros - há centenas de títulos disponíveis em diversos níveis de conhecimento - muita prática, realização exercícios gramaticais e escritos que auxiliam para desenvolver o raciocínio e a coerência na língua estrangeira, obrigando o aluno a utilizar e fixar o novo vocabulário. Até mesmo assistir a canais de TV a cabo como CNN ou BBC World contribuem, desde é claro que o vocabulário do aluno seja, razoavelmente, compatível para acompanhar o que está sendo dito. O aluno que não tem isto tudo em mente ao optar por um curso de idiomas tende a gastar muito mais tempo e dinheiro do que o previsto, mesmo com um certo talento inato para aprender línguas, enquanto outros, com menos facilidade, poderão ficar eternamente patinando como iniciantes.

.

© 1996/2003 - Hífen Comunicação Ltda.
Todos os Direitos Reservados.