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Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing (FBM)
E-Mail
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Data:
17/08/01
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O Preço da Inércia

A aversão do governo para tratar de qualquer tema polêmico e capaz de contrariar interesses está custando muito caro para o País, o setor produtivo e a sociedade. A cômoda vocação de só fazer o mais fácil, leia-se arrecadar a qualquer custo, de todas as formas possíveis, e de postergar as reformas, indispensáveis para colocar o Brasil em caráter definitivo na economia mundial globalizada, transformaram a economia brasileira em refém permanente de todas as crises financeiras mundiais, originadas em nações emergentes ou nas mais avançadas.

No terceiro ano do seu segundo mandato, o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso já acumula dois pedidos de ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional (FMI), a atual escassez de energia e a possibilidade de uma crise muito maior, em 2002: a da falta de dólares, resultante do fraco desempenho das exportações, para cobrir ou, pelo menos, reduzir os déficits em transações correntes e no balanço de pagamentos.

Tudo isso poderia ter sido evitado se os ministros da equipe econômica de FHC tivessem tido a coragem de fazer uma reforma fiscal, por mínima que fosse, desonerando os setores produtivo e de exportação; dado prosseguimento às reformas política, administrativa, da Previdência Social e do Judiciário; diminuído o excesso de burocracia, que anualmente condena à morte milhares de micro e de pequenas empresas; e tomado algumas medidas concretas para diminuir a violência nos grandes centros urbanos.

Não é mera coincidência o fato de uma pesquisa feita pelo Banco Mundial (Bird) com investidores estrangeiros, a pedido do próprio governo brasileiro, ter apontado a alta carga tributária (32,6% do PIB em 2000), o excesso de burocracia e os crimes violentos, como os três principais fatores que inibem a entrada de mais capital estrangeiro de risco no País.

Ou seja, esses três fatores, apontados por investidores estrangeiros como os grandes limitadores do pleno desenvolvimento da economia brasileira, coincidem em gênero, número e grau com os problemas que mais afligem o setor produtivo, a classe média e os trabalhadores em geral. Só o governo não sabia disso. Ou melhor: fingia não saber.

O documento elaborado pelo Bird traz também algumas revelações surpreendentes, dentre as quais, a de que só a redução da burocracia, independentemente dos dois outros fatores, poderia atrair para o País um montante adicional de investimentos diretos estrangeiros estimado entre US$ 30 bilhões e US$ 40 bilhões, por ano. Esses dados baseiam-se em levantamento realizado pela consultoria Price Waterhouse Coopers.

Em outras palavras, se a administração FHC tivesse se dedicado pelo menos a diminuir o excesso de burocracia, principalmente aquela ligada diretamente ao dia-a-dia das empresas, o País não precisaria ter recorrido ao FMI, nem em 1999, após a desvalorização do real, nem neste ano para prevenir-se contra eventual "contágio" da economia argentina.

Lembro, aqui, só para refrescar a memória do leitor, que até mesmo os governos militares, principalmente a gestão Figueiredo (1979-85), tiveram o cuidado de atacar a "praga" da burocracia. Quem não se lembra da luta e das vitórias do saudoso ex-ministro da Desburocratização, Hélio Beltrão, contra os vendedores de facilidades de sempre?

Inexplicavelmente, contudo, desde o governo Sarney, essa campanha foi "esquecida". Não seria o caso de FHC relançá-la imediatamente? Nestes meses que lhe restam de mandato, a sociedade brasileira ficaria muito feliz com a retomada da cruzada antiburocrática.

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