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Autores:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente do Conselho Deliberativo da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB).
E-Mail
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Data:
18/04/02
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Mentes brilhantes

O americano Joseph Stiglitz, um dos três ganhadores do Nobel de Economia de 2001, voltou a fazer duras críticas às exigências que o Fundo Monetário Internacional (FMI) vem impondo para conceder novos empréstimos à Argentina.

Stiglitz não é um economista qualquer. Além do Nobel, ele é duplamente qualificado para dar suas opiniões: é americano, entusiasta da globalização, e sabe o que está dizendo, pois já foi diretor do Banco Mundial, que é o braço financeiro do FMI.

Em resumo, disse o seguinte: o que o FMI está pedindo à Argentina (mais arrocho fiscal e contenção dos gastos públicos) é um absurdo. Para ele, tudo o que os argentinos necessitam agora é de uma pausa nas pressões e de apoio financeiro para reorganizar a economia e voltar a crescer.

Em outras palavras, o FMI está cobrando a Argentina por erros cometidos no passado, com anuência e incentivo do próprio Fundo, antes de ajudá-la a sair da pior recessão de sua história.

Essa "receita", de acordo com Stiglitz, já não deu certo nas economias de países emergentes do Sudeste da Ásia, que também recorreram ao FMI, como Coréia do Sul, Tailândia e Indonésia. Ora, pergunta o economista, por que insistir em uma fórmula que não funciona?

Ainda sobre a situação da Argentina, acrescentou que se o governo local quiser adotar uma nova moeda será melhor trocar o peso por uma divisa comum aos demais parceiros do Mercosul e não – como, de repente, voltaram a insinuar "gurus" internacionais – pelo dólar.

Quanto à globalização, o Nobel de Economia foi ainda mais contundente: ela tem de ser uma via de duas mãos; por isso, seu sucesso vai depender de Estados Unidos, União Européia e Japão deixarem de lado as atuais práticas protecionistas, a começar pela retirada dos subsídios pagos aos agricultores americanos, europeus e nipônicos.

Ou seja, para ele, as nações mais desenvolvidas precisam abrir seus mercados às exportações provenientes dos países emergentes, sejam elas mercadorias agrícolas ou aço. Exatamente o contrário do que fazem: querem que os mais pobres abram seus mercados a seus produtos industrializados, alguns de baixa competitividade.

O diagnóstico feito pelo economista Stiglitz é simples, claro, direto, sem meias-palavras e isento de economês. Mais do que isso: é brilhante! E vale para nações ricas e pobres.

Mas se Stiglitz merece todos os elogios acima, por que então não é chamado para ocupar o cargo de secretário do Tesouro dos Estados Unidos ou de diretor do FMI?

A resposta óbvia é que o presidente Bush, republicano e protecionista, não pensa da mesma forma que Stiglitz. E isso faz a diferença.

Mas há outra razão para que mentes brilhantes, como a de Stiglitz, não sejam ouvidas. O poder detesta os gênios! Eles incomodam porque suas engenhosas soluções não levam em conta interesses contrariados.

Na história do Ocidente, só houve duas ocasiões em que os gênios foram ouvidos e suas sugestões acatadas pelos governantes.

Na Grécia antiga, cerca de 300 anos antes de Cristo, no período conhecido como o século de ouro da democracia ateniense. E ao longo do século 15, em Florença, quando a família Médici, que governou a cidade, chamou para a corte local um seleto grupo de 90 gênios em todas as áreas do conhecimento humano da época.

É bom lembrar que as populações de Atenas e de Florença eram de, respectivamente, 40 mil e 50 mil pessoas. As estimativas são do sociólogo italiano Domênico de Masi.

"Nunca tantos deveram tanto a tão poucos". A frase é atribuída a Churchill e foi dita quando aviadores britânicos resistiram bravamente a um grande ataque aéreo desfechado pela Alemanha nazista.

Atrevo-me a mudar o seu contexto, mas acho que ela cai como uma luva para definir o que o Ocidente deve a Atenas e a Florença.

O que o mundo mais necessita hoje é de um choque de genialidade!

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