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Autor:
Cláudio Peçanha
Qualificação:
Sócio Diretor da Brasilpar Private Equity, foi CEO da Metalac S.A. e Diretor do BNDES
E-mail:
[email protected], [email protected]
Data:
18/11/98
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Procura-se CEO

Uma operação de Private Equity é compreendida por três etapas básicas: o investimento, o monitoramento e o desinvestimento.

Tratando-se de uma operação de longo prazo, em média de cinco anos, ressalta-se que pelo menos em termos de tempo, a etapa de monitoramento do empreendimento é aquela na qual os administradores do Fundo de Private Equity mais se envolvem diretamente com a empresa contatando com os seus executivos, conhecendo os principais clientes e fornecedores e, quase sempre relacionando-se com os competidores, pois situações de análise de viabilidade de fusões e aquisições são características dos tempos atuais.

As etapas de investimento e desinvestimento são atividades bem conhecidas pelos administradores de Fundos, normalmente oriundos de experiências de consultoria em fusões e aquisições, e também dos executivos das empresas de médio e grande portes que já tenham passado por pequenas aquisições e mesmo já acostumados com opções de investimentos no curso natural de seus negócios.

O chamado monitoramento do investimento, no entanto, é uma nova experiência no Brasil, tanto para os administradores dos Fundos de Private Equity como, principalmente, para os executivos, em especial os chamados CEOs (Chief Executive Officers) das empresas do portfólio.

A rigor, os executivos brasileiros, que poderiam ser considerados extremamente competentes em administrar empresas em um ambiente totalmente instável e sem controle, mas altamente protegido e controlado pelo Estado, encontram-se hoje despreparados, em geral, para enfrentar a nova realidade de globalização, menor controle do Estado, quase ausência de subsídios e, mais importante, com acionistas totalmente diferentes do ambiente informal familiar anteriormente vigorante.

A capacidade de resolver crises, apagar incêndios, relacionar-se com órgãos governamentais, empregar funcionários baseado no Quem Indica, influenciar associações de classe para sustentar preços, eram importantes atributos do CEO de cinco anos atrás.

O CEO de hoje tem que ter capacidades totalmente diferentes: planejar estratègicamente os negócios, selecionar equipes profissionais e mantê-las altamente motivadas, comprometer-se com metas de geração de valor para a empresa no longo prazo, participar de reuniões de Conselhos de Administração com apresentações competentes, preparar análises de viabilidade das decisões de investimentos, liderar processo de elaboração de Plano de Negócios que envolva participação de todos os funcionários, coordenar elaboração de relatórios financeiros e gerenciais transparentes e objetivos.

Representando investidores sofisticados, que a rigor dispõem de opções bem mais maduras para alocação de seus recursos (estamos nos referindo a fundos de pensões americanos e europeus, companhias de seguros, grandes bancos internacionais de investimentos), os administradores de Fundos de Private Equity precisam fundamentar suas recomendações de investimentos em empresas brasileiras que possam contar com equipe de gerentes liderados por CEOs que necessáriamente preencham os requisitos básicos descritos no parágrafo anterior.

E esta tem sido a maior dificuldade para a concretização de operações de Private Equity no Brasil, que dispõe de recursos significativamente crescentes, mas se entrava na análise de Plano de Negócios futuro que justifique a operação, pois não temos encontrado CEOs com habilidade para prepará-los, defendê-los, e nos dar confiança que serão capazes de executá-los. A alternativa de se contratar equipe específica de consultores para elaborar o Plano de Negócios que justifique o investimento não é adequada, pois não contempla uma condição essencial para o sucesso do negócio, que é exatamente o envolvimento da equipe gerencial na elaboração e o seu comprometimento direto com sua execução.

O desafio está lançado para nossos executivos: crescentemente os acionistas das empresas serão representados por Fundos de Private Equity, ou em estágio posterior, pelo mercado de Bolsas de Valores, com exigências de comportamento e habilidades claramente convergentes com os princípios que enumeramos acima. Acreditamos que nossos executivos chegarão lá. Mas precisamos que sejam rápidos!


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