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Autor:
Dorival Jesus Augusto
Qualificação:
Advogado e Jornalista
E-mail:
[email protected]
Data:
19/05/00
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Memória Empresarial, Insumo da Modernidade

A comunidade empresarial brasileira não é uniforme e está dividida como o resto da sociedade: não apenas em setores de atividade mas também em poder econômico, em capacidade gerencial e até mesmo em termos de tradição e modernidade. Como deve ser abordado, portanto, o aspecto coletivo desse universo de pessoas que dedicam a vida a uma tarefa difícil: gerar negócios, empregos e riqueza num país ainda tão amarrado a velhos vícios da burocracia, da corrupção e do corporativismo? Um dos caminhos é, sem dúvida, a memória empresarial.

Não a memória como tem sido abordada normalmente, ou seja, a história vivida dos empreendedores e de sua saga. Mas aquela que tece a enorme teia da ação empresarial ao longo do tempo, no que ela tem de mais valioso: a estratégia adotada em cada época para superar dificuldades, sobreviver e crescer. Nesse enfoque, a tecnologia deve estar a serviço da memória empresarial, especialmente nesta época de mudança radical de paradigmas.

Novas soluções, reunidas no grande acervo eletrônico das novas mídias computadorizadas, acabam virando o álibi perfeito para apagar importantes informações sobre o passado das empresas. Mas essa é uma abordagem equivocada. Tudo do que dispomos hoje - Internet, discos de grande poder de armazenagem, especialistas em levantamento e disponibilização de dados etc. - pode e deve ser colocado a serviço da experiência viva das empresas, que serve de exemplo e orienta para novos passos.

Isso não significa ficar voltado para o passado. Memória costuma ser palavra carregada, refém da pressa do presente, especialmente aqui, naquele que foi chamado até há pouco de país do futuro. Há uma espécie de vergonha de invocar, guardar, buscar inspiração nas experiências passadas. Mas, se
somos hoje o que decidimos ser ontem, nada mais natural do que a memória ser tratada como insumo importante na estratégia empresarial.

A criação desse ente vivo, a empresa, passa não apenas pelas decisões do empreendedor mas também pelas mãos dos colaboradores, pelas diversas fases da tecnologia utilizada, do espaço físico que se transformou, dos serviços que prestou, dos produtos que criou ou negociou, dos clientes que acabou conquistando, das dificuldades por que passou, das vitórias e derrotas, das lições apreendidas, das contribuições ao universo da produção, da comercialização ou dos serviços etc.

Esse vasto espectro não deve, entretanto, desanimar aqueles que estiverem interessados na memória empresarial. Assim como existe uma estratégia para a empresa, existe também uma estratégia para selecionar, planejar e desenvolver o acervo disponível. Afinal, qual o aspecto que deve ser o vetor principal de um trabalho pró-memória empresarial? Como ele vai definir prioridades, quais produtos e serviços vai gerar, quais os benefícios vai trazer, qual sua influência no treinamento do pessoal e na conquista de mercado?

Vemos muitas vezes um recém-chegado numa empresa simplesmente assistir a um vídeo institucional sobre determinada corporação. Os vícios do marketing costumam mais encobrir do que revelar. O novo colaborador vai acabar descobrindo a identidade da empresa no dia-a-dia, na base do acerto e do erro. Multiplique-se esse processo pelo número de pessoas que circulam dentro de um processo
Empresarial, e podemos avaliar a perda que isso causa. Já uma empresa com uma política de memória definida sabe como atingir a alma do seu colaborador ou cliente, porque consegue passar os fundamentos da sua atividade, sua credibilidade conquistada arduamente, às vezes por muitas
gerações.

Uma empresa antiga que souber tratar bem desse acervo pode até mesmo eliminar o ranço que pode haver na percepção externa de suas atividades. Aquele amargor passadista some por encanto diante de uma empresa que sabe colocar sua história com critérios, totalmente inserida na política de marketing e de vendas.

Para isso, é preciso ter duplo cuidado, pois a memória empresarial tem o poder de impor seus princípios - especialmente suas virtudes - sobre qualquer ação nova que for desenvolvida. Isso impede que medre na corporação campanhas enganosas, por exemplo. Assim, a memória empresarial serve de parâmetro para atividades como lançamentos de produtos ou até mesmo as negociações entre
empresa e colaboradores.

Como se vê, existe toda uma abordagem moderna, eficaz e eficiente, da memória empresarial. Para que ela deslanche no nosso país, é preciso convocar as pessoas para o grande trabalho de catequese nesse sentido. Precisamos de uma organização que convoque, oriente, estimule as empresas a tratar sua memória. Esse é um passo fundamental para enriquecer o perfil da atividade empresarial em nosso país.

O programa Sala do Empresário tem-se dedicado, desde 1987, a abordar a memória empresarial como um setor não só da comunicação e do marketing mas também das próprias atividades produtivas. Esse enfoque dá coerência ao programa, que transcende o aspecto individualista dos empresários e destaca sua obra coletiva.


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