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Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing (FBM).
E-Mail
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Data:
19/05/01
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Expansão Racionada

O racionamento de energia elétrica e de água nas regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, previsto para começar no início de junho e com duração de, no mínimo, até novembro, deverá causar graves prejuízos à economia do País e à sociedade, em particular. Num balanço preliminar, o governo já admitiu a perda de receita tributária federal de R$ 15 bilhões. Além disso, a estimativa inicial de crescimento do PIB para este ano, que era de 4,5%, terá de ser revista para baixo. Cortes adicionais terão de ser feitos no Orçamento Geral da União para adequá-lo às exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Trabalho extra que poderia ter sido evitado se o governo tivesse - até mesmo por precaução - tomado algumas medidas exaustivamente sugeridas por especialistas do setor de águas e energia elétrica. Ao contrário, a burocracia oficial nada fez e preferiu apostar todas as fichas na ocorrência tardia das chuvas de março, abril e maio. Perdeu e, a contragosto, pressionada pela mídia e opinião pública, estarrecida com a incúria, corre contra o tempo para definir em duas semanas de que forma pretende racionar água e eletricidade.

Como sempre acontece em tais casos, a sociedade aguarda, ansiosa, a definição do esquema do duplo racionamento com uma certeza: os prejuízos decorrentes acabarão sendo arcados pelo consumidor. Pede-se a ele que reduza o tempo gasto no banho, que veja tevê no escuro e que troque todas as lâmpadas de sua casa por outras, mais econômicas, como se tudo isso dependesse apenas da sua boa vontade. Em outras palavras, de junho a novembro, os trabalhadores e a classe média deverão abster-se do banho diário e do lazer doméstico porque nos últimos dez anos o governo nada fez para expandir a geração e a distribuição de energia.É claro que também o comércio e a indústria, principalmente os pequenos estabelecimentos, arcarão com o ônus dos racionamentos. Imagine só, leitor, o que poderá acontecer em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, se ocorrer um apagão em pleno horário de rush nos respectivos metrôs. E em que horários teremos que economizar água e energia? Nem o governo sabe.

Uma coisa, porém, é certa: teremos um segundo semestre de expansão econômica medíocre, causada exclusivamente pela incúria oficial. Por tal motivo, deixo aqui uma sugestão aos analistas internacionais do risco Brasil e dos demais emergentes: trata-se do IDG (Índice de Descaso Governamental). Esse indicador varia de zero a dez e serve para medir o tratamento que cada governo dos países emergentes dá a questões estrategicamente importantes, como o suprimento de energia elétrica e água, mas que exigem planejamento de longo prazo.
Nem é preciso dizer que nota os burocratas brasileiros teriam nesse quesito! Em artigo, datado de março de 1999, intitulado "Blecaute da Cidadania", abordei as causas de dois apagões ocorridos na época: o primeiro deixou a metade da população de Buenos Aires às escuras; o segundo atingiu nada menos do que dez estados brasileiros, no período entre 20h30 e 23h30. Infelizmente, desde então, ao menos por parte da burocracia, nada foi feito, a não ser mentir ao Presidente.


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