.
Autor:
Dorival Jesus Augusto
Qualificação:
Advogado e Jornalista
E-mail:
[email protected]
Data:
20/01/00
As opiniões expressas em matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição do Empresário Online. Proibida a reprodução sem a autorização expressa do autor.

Educação Para a Vida Empresarial

Embora o sol tenha nascido para todos, a tarefa de empreender um negócio está longe de se tornar uma atividade capaz de ignorar as diferenças individuais, principalmente em relação ao talento e à vocação empresarial. Vivemos tempos difíceis em que "ser dono do próprio nariz" perdeu o sabor espontâneo da aventura para se transformar em um desafio permanente de reconstrução e atualização. Nesse contexto, é praticamente impossível ficar alheio ao bombardeio de tendências expostas todos os dias pela mídia e por especialistas que buscam apontar as mudanças inexoráveis de um futuro permeado pelas relações cibernéticas.

Ora, não é preciso ser mágico e nem visionário para perceber que as inovações tecnológicas estão descortinando uma série de possibilidades e oportunidades nunca antes imaginadas do ponto de vista empresarial em todo o mundo. No entanto, é fundamental encarar também o nosso passado em suas origens mais longínquas para compreender os motivos que levam tantos negócios à falência neste país ainda nos primeiros anos de vida. A história brasileira nunca refletiu, em sua essência, uma ação empreendedora de fato por parte dos seus protagonistas. Muito pelo contrário, a marca do oportunismo se faz presente desde os tempos remotos da descoberta, em detrimento de uma política de incentivo à vocação empreendedora.

O individualismo exacerbado vinculado à prática social da "troca de favores", característica típica das colonizações ibéricas, favoreceu um ambiente hostil ao florescimento de empresas no Brasil. Prova disso está no perfil dos nossos heróis, enaltecidos, em geral, pela coragem desbravadora e pela conquista isolada de feitos prodigiosos na exploração das riquezas naturais da terra. Tendo em vista essa perspectiva histórica de uma cultura imediatista que não cultivou o espírito de equipe e muito menos valorizou o trabalho diário como a forma elementar de atingir o sucesso, fica mais fácil entrever as dificuldades que se impõem ao cotidiano do empresário brasileiro, cercado de limitações e restrições por todos os lados, a começar pelo seu próprio despreparo.

Como não se forma um empreendedor do dia para a noite, é preciso que tenhamos consciência dessa falha estrutural para que possamos repensar um processo de educação empresarial. Educação não no sentido didático de mostrar os procedimentos necessários à abertura de um negócio ou à obtenção de linhas de financiamento, pois seria como iniciar a construção de uma casa pelo telhado. Educação, sim, porém com objetivos mais amplos e comprometidos com a busca de saídas por meio de reflexões baseadas na experiência humana concreta sobre a capacitação gerencial dos nossos empresários inseridos na complexa e conflituosa realidade brasileira.

De nada adianta falar em tendências mundiais para a economia, tomando como parâmetro apenas o senso comum que prevalece nos países desenvolvidos. É preciso reconhecer as diferenças, interpretar os fatos e adequar esses indicadores à cultura empresarial predominante neste gigantesco território, que mantém sua unidade lingüística, mas sofre as influências brutais decorrentes das desigualdades regionais e sociais. Acima de tudo, é imprescindível estabelecer a devida oposição entre ousadia e oportunismo. A primeira característica está relacionada ao talento e à criatividade indispensáveis ao sucesso de qualquer negócio nos dias de hoje, enquanto a segunda sobrevive e persiste de forma atávica, como herança genética do nosso processo histórico. Somente quando o empresário brasileiro adquirir maturidade suficiente para compreender a necessidade de correr riscos de maneira hábil, com o objetivo de sobreviver e de crescer no competitivo cenário global, estarão prontos os alicerces da atividade empresarial no Brasil, sem os quais não existe sustentação possível para o desenvolvimento continuado. O restante certamente estará a cargo das transformações inerentes ao advento da tecnologia, anunciadas todos os dias como o prenúncio de um nova ordem econômica e mercadológica.


.

© 1996/2002 - Hífen Comunicação Ltda.
Todos os Direitos Reservados.