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Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing (FBM).
E-Mail
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Data:
20/04/01
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Alca Sob Controle

O cronograma de implantação da Alca (Associação de Livre Comércio das Américas) aparentemente está sob controle. Na recente reunião preparatória de Buenos Aires, a diplomacia brasileira conseguiu neutralizar a manobra dos Estados Unidos e do Chile, que tentavam antecipar a criação zona de livre comércio para 2003. Na visão dos ministros Celso Lafer e Alcides Tápias, daqui para frente, a questão mais importante não será mais quando, mas sim como será feita a negociação entre os futuros 34 membros da Alca.

Algumas questões internas da política americana em relação a esse assunto tendem a fortalecer mais a posição do Brasil. Por exemplo, a recusa de George W. Bush em cumprir o Protocolo de Kyoto, que prevê a redução das emissões de carbono na atmosfera, das quais os Estados Unidos sozinhos respondem por 25% do total mundial, colocou os ambientalistas de lá contra a Alca.
Além dessa, há ainda duas outras: as enormes dificuldades que Bush terá para fazer aprovar o fast track (via rápida) no Congresso americano, após algumas trapalhadas na política externa (divergências com a União Européia e o Japão, sobre subsídios à agricultura e questões ambientais; e o recente episódio dos aviões de espiões com a China); e a aberta oposição do sindicalismo americano, por temer o agravamento do desemprego, com a ampliação para todo o continente da experiência vivida até agora pelo Nafta.

Curiosamente, o medo de redução dos postos de trabalho em nível continental é até o momento o único ponto em comum entre trabalhadores americanos, brasileiros e argentinos: todos eles temem a redução do mercado de trabalho, caso não haja salvaguardas contra tal tendência e a implantação da Alca seja apressada. Isso ficou muito claro no encontro de Buenos Aires.

No tocante às posições dos governos americano e brasileiro sobre a criação da Alca, de acordo com as negociações realizadas na Argentina - e que deverão nortear também os próximos eventos já agendados sobre o tema - , elas tendem a se aproximar no médio prazo. Hoje, negociadores de ambos os lados já aceitam janeiro de 2006 como ponto de partida para o efetivo rebaixamento das alíquotas de importação de determinado número de produtos.

Daí em diante, a diplomacia americana quer fixar um prazo de dez anos para a transição de zona de livre comércio para mercado comum americano. Os brasileiros, por sua vez, defendem um período adicional de mais cinco anos para os futuros membros da Alca menos desenvolvidos. Portanto, pelo menos em termos de fixação de tempo, as diferenças são pequenas.

Já entre o empresariado brasileiro, as divergências em relação a prazos para a Alca são maiores. Existem quatro posições diferentes: os que defendem cinco, dez, 15 e 20 anos para a fase de transição Obviamente, os que querem prazos menores (dentre os quais se inclui o setor têxtil) crêem que até lá já tenham adquirido a competitividade necessária. No outro extremo, estão os segmentos cuja competitividade ainda é considerada baixa, como, por exemplo, o setor de máquinas e equipamentos.

A fase mais importante, contudo, qualquer que venha a ser o cronograma da Alca, deverá começar em outubro deste ano, conforme advertiu o ministro Celso Lafer. É que daí em diante e até o início de 2003, começarão a ser definidos os produtos industriais que terão reduzidas as tarifas alfandegárias de importação.

O prazo para que governo e iniciativa privada possam aferir a competitividade de produtos e setores industriais do País é extremamente curto. Aumentá-lo é o desafio da nova diplomacia comercial brasileira.

E, ao Poder Legislativo brasileiro, um chamamento patriótico: superem divergências e façam as reformas que a Nação espera e exige!


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