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Autor:
Mário César de Camargo
Qualificação:
Presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf).
E-mail:
[email protected]
Data:
20/09/03
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O Óbvio e o Indesejável

A Nação tem assistido, com muita preocupação, a invasões de propriedades públicas e privadas. Em paralelo, o IBGE divulgou que, "tecnicamente, já se configura recessão no setor industrial". Entre esta constatação óbvia, há muito identificada pelo instinto de sobrevivência de todos os brasileiros, e os indesejáveis atos de vandalismo contra o direito de propriedade, há uma direta relação de causa-efeito. A retração do nível de atividades já não é resultado exclusivo dos juros altos, da falta de liquidez na economia, da dependência da poupança externa e do gargalo da dívida estatal transformada em papéis de alta lucratividade para uns e elevadíssimos ônus para quem produz. Dentre as causas da retração, inclui-se o temor de investidores, nacionais e multinacionais, quanto à conseqüência das invasões no País.

Mais uma vez, o Brasil expõe ao mundo seus paradoxos e contradições. Os segmentos que mais deveriam estar comprometidos com a governabilidade da Nação, pois sempre mantiveram-se ideologicamente alinhados ao PT, são exatamente os que fomentam o caos, despertam insegurança e dificultam a agenda da retomada do crescimento. Isto não é engajamento político-social; é falta de visão histórica, demonstração explícita de vazio ideológico e ausência de compromisso com a Nação.

Felizmente, há segmentos — de empresários e trabalhadores — comprometidos com a produção e o trabalho, que deixaram de lado as questões ideológicas e se engajaram num partido chamado Brasil: a Administração Lula, que parece estar paulatinamente entendendo o que significa governar, ganha o respaldo dos setores produtivos no tocante às medidas capazes de contribuir para crescimento. Exemplo disso foi a aprovação dos empresários, no Fórum Nacional da Indústria, órgão consultivo vinculado à CNI, a documento de apoio às reformas tributária e da Previdência.

De fato, é responsabilidade da indústria apoiar o governo na busca de soluções. Isto, porém, não significa simplesmente dizer sim a todas as medidas, mas também reivindicar, sugerir e argumentar, no exercício lícito da liberdade de expressão e do direito e do dever de interagir com os poderes constituídos. Nesse sentido, embora reconheça que a austeridade fiscal e monetária do Governo Lula tenha sido necessária para resgatar a confiança e manter a estabilidade, os setores produtivos apontam a demora na adoção de medidas de fomento, preocupam-se com a deterioração da economia e advertem que reverter o quadro recessivo é tão prioritário quanto foi combater a inflação.

Mais uma vez, o País precisa de medidas urgentes no plano político e na gestão da economia, para evitar um mergulho mais profundo na recessão. Queda dos juros, redução do compulsório dos bancos, mais recursos para financiar produção/crédito e exercício legítimo da autoridade, inclusive dos governos estaduais, contra a baderna são ações iniciadas ainda de forma tímida, que precisam ser mantidas e aprofundas. A elas, jamais faltará o apoio de quem produz e trabalha.

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