.
Autor:
Magali Costa Guimarães
Qualificação:
Psicóloga, pós-graduada em Didática do Ensino Superior (UCB), mestrando em Gestão Estratégica de Negócios (CNEC), prof. de Psicologia Aplicada à Administração e Comportamento Organizacional (INESC – Unaí/MG)
E-mail:
[email protected]
Data:
23/03/01
As opiniões expressas em matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição do Empresário Online. Proibida a reprodução sem a autorização expressa do autor.

Trabalho e Prazer – Um Desafio para as Empresas do Novo Milênio

Segundo estudiosos, a palavra trabalho é etmologicamente derivada da palavra tripalium (latim) que se referia a um instrumento de tortura; "torturar". No "Aurélio" alguns de seus sinônimos são: esforço; fadiga. Para a palavra trabalhar aparecem como sinônimos: atormentar; afligir; preocupar; esforçar-se; labutar... Percorrendo ainda o dicionário e buscando o significado da palavra labutar, encontramos: trabalhar penosamente e com perseverança; esforçar-se; suportar; viver...

Podemos perceber que trabalho esteve sempre associado ao sofrimento, ao castigo. Na Grécia antiga, por exemplo, apenas os pobres escravos trabalhavam, enquanto que os mais ricos "filosofavam". Na idade média, época dos nobres senhores feudais, nos lembra Domenico De Masi em "O futuro do trabalho", o trabalho ficava por conta dos servos, enquanto aqueles apenas cobravam sua parte. Os negros brasileiros então? Estes sim! Labutaram; suportaram; "sobreviveram"...

Nos dias atuais, entretanto, o sofrimento, a labuta deixou de ser exclusividade dos pobres e, desde a revolução industrial, faz parte da vida dos mais abastados cidadãos. O trabalho passou a apresentar-se ao mesmo tempo como sinônimo de sofrimento e de prestígio social, pois o status social depende agora do tipo de trabalho que executamos.

Infelizmente, e apesar de todas as transformações tecnológicas, sociais, culturais e econômicas, o trabalho ainda continua a constituir-se em fonte de sofrimento para uma grande massa de trabalhadores. Nas fábricas, escritórios, lojas, nos bancos, nas organizações públicas ou privadas, o sofrimento, o desgaste físico ou emocional, a tensão, o stress parece igualar todos os trabalhadores, pois o sofrimento é indiferente à posição hierárquica, ao cargo ocupado, ao nível social - do executivo ao motorista, há sofrimento.

Como transformar este trabalho, este esforço, este labutar, em prazer?

O desafio para os gestores atuais de pequenas, médias ou grandes organizações é transformar o trabalho em fonte de prazer para seus colaboradores.

Estudiosos do trabalho como Dejours, Codo, dentre outros, têm enfatizado a necessidade de resgatar o significado do trabalho pelo homem. A necessidade de uma nova organização do trabalho que permita a participação, a autonomia e crescimento psicossocial do trabalhador.
Na prática isto pressupõe uma mudança de visão de natureza humana por parte dos gestores e de toda organização. Há que se acreditar no ser humano, apostar na sua capacidade crítica e inovadora, saindo do modelo behaviorista de punições e recompensas proposto pela maioria dos modelos administrativos, que contribuiu apenas para a reprodução nas organizações da passividade e da submissão.

A busca pelo prazer no trabalho exige esta mudança radical de paradigma, impõe a necessidade de proporcionar espaço para o diálogo e participação do trabalhador, exige a busca contínua de facilitar o processo de desenvolvimento cognitivo, transformando a organização em um ambiente de aprendizagem. É uma mudança difícil que leva tempo para ser incorporada nas atitudes e práticas diárias organizacionais. Pressupõe uma relação justa e ética entre capital e trabalho não muito fácil de ser conseguida, mas tal mudança tem como contrapartida o desenvolvimento de sujeitos ativos, criativos e inovadores, e não é isto que as empresas desejam?


.

© 1996/2002 - Hífen Comunicação Ltda.
Todos os Direitos Reservados.