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Autores:
Jadir P. dos Santos e Denis Donaire
E-mail:
[email protected], [email protected]
Data:
24/02/99
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Uma visão geral sobre S&SO (Saúde e Segurança Ocupacional)

Confome afirmam ANSELL e WHARTON (1992), o risco é uma característica inevitável da existência humana. Nem o homem, nem as organizações e nem a sociedade podem sobreviver por um longo período sem a existência de tarefas perigosas.

Assim após a Revolução Industrial, as relações entre o homem e seu trabalho sofreram drásticas mudanças. O homem deixou o risco de ser apanhado pelas garras dos animais, para submeter-se ao risco de ser apanhado pelas garras das máquinas.

Junto com a evolução industrial proporcionada pelas novas e complexas máquinas, surgiram os riscos e os acidentes da população trabalhadora. Face às exigências de melhores condições de trabalho e maior proteção ao trabalhador, são dados os primeiros passos em direção à proteção da saúde e vida dos operários. A Engenharia de Segurança toma forma e com os estudos de Ramazzini - o Pai da Medicina do Trabalho -, passando por Heinrich, Fletcher, Bird, Hammer e outros evolui e muda conceitos, ampliando sua abordagem desde as filosofias tradicionais até nossos dias.

O processo tradicional de segurança baseado em trabalhos estatísticos, que servem para determinar como o trabalho afeta o elemento humano, através de um enfoque altamente filosófico, mas sem tomar atitudes concretas frente ao alto índice de acidentes, dá lugar à novos conceitos, e os acidentes deixam de se tornar eventos incontroláveis, aleatórios e de causas inevitáveis para tornarem-se eventos indesejáveis e de causas conhecidas e evitáveis. Sem desmerecer as filosofias tradicionais, pois elas são um instrumento valioso e o passo inicial para buscar eficazmente não apenas a correção mas a prevenção dos acidentes, torna-se imperativo para o desenvolvimento e crescimento social e econômico de uma nação, que tanto os órgãos governamentais quanto a iniciativa privada vejam no homem sua riqueza maior e compreendam que investir em segurança é um ótimo negócio.

A evolução dos princípios de segurança do trabalho, que praticamente começaram de forma bem modesta e rarefeita no início do século XX, atingiram na atualidade dimensões globais, com a gestão ambiental.

Nos tempos modernos, uma das grandes preocupações nos países industrializados é com respeito à saúde e proteção do trabalhador no desempenho de suas atividades. Esforços vem sendo direcionados para este campo, visando uma redução do número de acidentes e efetiva proteção do acidentado e dependentes. Não é sem motivos que as nações vem se empenhando em usar meios e processos adequados para proteção do homem no trabalho, procurando evitar os acidentes que o ferem, destroem equipamentos e ainda prejudicam o andamento do processo produtivo.

Segundo HEMÉRITAS (1981), a Segurança do Trabalho, para ser entendida como prevenção de acidentes na indústria, deve preocupar-se com a preservação da integridade física do trabalhador e também precisa ser considerada como fator de produção. Os acidentes, provocando ou não lesão no trabalhador, influenciam negativamente na produção através da perda de tempo e de outras conseqüências que provocam, como: eventuais perdas materiais; diminuição da eficiência do trabalhador acidentado ao retornar ao trabalho e de seus companheiros, devido ao impacto provocado pelo acidente; aumento da renovação de mão-de-obra; elevação dos prêmios de seguro de acidente; moral dos trabalhadores afetada; qualidade dos produtos sacrificada.

De acordo com SOTO (1978), as cifras correspondentes aos acidentes do trabalho representam um entrave ao plano de desenvolvimento sócio-econômico de qualquer país, cifras estas que se avolumam sob a forma de gastos com assistência médica e reabilitação dos trabalhadores incapacitados, indenizações e pensões pagas aos acidentados ou suas famílias, prejuízos financeiros decorrentes de paradas na produção, danos materiais aos equipamentos, perdas de materiais, atrasos na entrega de produtos e outros imprevistos que prejudicam o andamento normal do processo produtivo.

Tradicionalmente as nações são competitivas se suas empresas também o são. Para isso deverão estar sempre acompanhando os avanços tecnológicos, a fim de obterem o sucesso desejado.

O embrião da segurança do trabalho, que se desenvolveu de forma tão ampla, contribui de forma decisiva para que as empresas atinjam suas metas, vencendo os desafios. O aumento do interesse pela gestão ambiental, que ocorreu de forma gigantesca na última década se tornou um fator importante de gerenciamento estratégico. A tecnologia da produção industrial que tradicionalmente focava a melhoria da qualidade e o aumento da produtividade, com pouca atenção dedicada ao meio ambiente e aos custos sociais, teve significativa mudança com o progresso do conhecimento da área ambiental .

Os países mais desenvolvidos, através de suas empresas de um modo geral, utilizam com mais intensidade, desde a organização da segurança do trabalho até a gestão do meio ambiente, pois acima de tudo, já comprovaram a validade dos seus bons resultados. A grande dificuldade no Brasil é ainda a falta de conscientização de uma parcela dos dirigentes, para os benefícios que isso pode trazer para a organização. Além disso, temos muitos tipos de incertezas atuando sobre governantes, trabalhadores e empresários, que sentem mais dificuldade em manter programas de melhoramentos contínuos, do que ocorre em países de economia mais estável.

Em termos de publicações internacionais, quase não existem dados ou referências sobre o nosso país no setor de saúde e segurança, apesar de certas empresas brasileiras ou multinacionais aqui estabelecidas, que surgem como ilhas de excelência, já praticarem várias técnicas modernas, entre as quais se inclui controle total de perdas e proteção ambiental.

Quanto aos sindicatos no Brasil, o dos trabalhadores nas indústrias automobilísticas, chamados de forma simplificada, de sindicatos dos metalúrgicos, tem sido um dos mais atuantes e foco de atenções e estudos no que diz respeito aos seus impactos sobre o capitalismo industrial, dada a adoção de inovações tecnológicas de processos e produtos, e de políticas de relações industriais para a gestão de mão-de-obra. Assim sendo, era de esperar cobranças também na área de segurança e meio ambiente.

Mas somente em 1977 , que pela primeira vez, incluíram um item relativo à segurança do trabalho, no dissídio coletivo, onde ficou estabelecida a obrigatoriedade do fornecimento gratuito aos empregados, de óculos, luvas, capacetes e outros equipamentos de segurança. Este fato permite avaliar que com quase meio século de atraso, os trabalhadores brasileiros começaram a reivindicar a solução de problemas tão importantes.

Atualmente alguns desses sindicatos evoluíram bastante nos conhecimentos do setor chegando próximo ao nível dos similares, de países mais avançados, com os quais na maioria das vezes mantém intercâmbios. Em certos casos, possuem equipes de assessores e técnicos para fornecerem instrução aos sindicalizados, em centros de treinamento para assuntos como segurança do trabalho e condições ambientais, tendo até mesmo um laboratório de toxicologia, com a finalidade de avaliar as reais situações dos locais de trabalho.

Com a tendência da globalização da economia mundial, os países e suas empresas deverão ter políticas compatíveis para galgar o sucesso. A regulamentação, por exemplo, das normas NBR ISO 14000 e ISO 18000, vai exigir um grande esforço de todos para o aprimoramento e respeito de questões ligadas ao meio ambiente e segurança do trabalho, pois caso contrário o comércio internacional não aceitará a concorrência de produtos, cujos países de origem não obedecerem a esses princípios.

O governo brasileiro tem procurado juntamente com empresas mais expressivas de vários setores, se adaptar a essa nova realidade, para além de tudo, não sofrer sanções ou ficar marginalizado. A tendência então, é que também as empresas menores mesmo que não pretendam competir no mercado externo, venham com o tempo seguir essas regras, pois acabarão percebendo as vantagens que isso proporciona.

As estratégias modernas de manufatura não podem se restringir apenas a prioridades conflitantes, como custos, qualidade e flexibilidade, pois a concorrência exige continuadamente da empresa, novos meios de diferenciação. Assim o gerenciamento da segurança das instalações, processos e produtos, e a preservação da saúde ocupacional dos trabalhadores, além da proteção do meio ambiente por parte das empresas, ao longo da cadeia produtiva, é uma fonte valiosa de vantagem competitiva.

As organizações perdem de 5 a 10% do lucro de vendas com problemas relacionados com doenças causadas por exposição a agentes tóxicos; acidentes; fadigas psíquicas ( Stress) e física e outras conseqüências de insegurança e deficiência na organização do trabalho. Comprometem assim um de seus maiores bens: seus funcionários. Por estes e outros motivos, organizações de todos os tipos estão sendo, cada vez mais, conscientizadas a alcançar e demonstrar um desempenho satisfatório em relação à segurança e saúde de seus colaboradores.

Porém estatísticas ainda indicam que há um elevado número de acidentes. A maioria deles, por não levarem a danos pessoais, quase sempre é desprezada. Contudo sabe-se que os acidentes materiais, com danos à propriedade e ainda os quase acidentes, somam uma quantia considerável de custos adicionais. Acredita-se que esses acidentes, se devidamente analisados podem ser prevenidos e/ou controlados podendo tornar-se um fator importante na competitiva economia desta década.

Bibliografia

ANSELL, Jake, WHARTON, Frank. Risk: Analysis assessment and management.
England: John Wiley & Sons Ltda., 1992. 220p. ISBN 0-471-93464-X.

HEMÉRITAS, Ademar Batista. Organização e normas. São Paulo, Atlas, p.89-104, 1981.

SOTO, José Manoel Gama. O problema dos acidentes do trabalho e a política prevencionista no Brasil. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v.6, n.21, p. 23-28, jan./fev./mar., 1978.


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