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Autor:
Roberto Brizola
Qualificação:
Presidente da ANEFAC - Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade e Gerente da Unidade de Negócios Novos Associados da Associação Comercial de São Paulo (ACSP)
E-Mail
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Data:
24/08/02
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Onde é que fica o eleitor?

A campanha eleitoral mal começou e o eleitor já se sente excluído e objeto de manipulação. Espectador passivo de um jogo de cartas marcadas, ele se vê, muito a contragosto, obrigado a tomar partido em brigas de agremiações até recentemente aliadas, das quais sabe apenas o que a mídia publica.

Nesse cenário de faz-de-conta, a sociedade e o País são os grandes perdedores. O folclore da estratégia militar - e as nossas campanhas políticas não passam de simulações grotescas de guerras - registra, com humor, que, no campo de batalha, a primeira vítima é sempre a verdade.

A encenação vai se tornando mais clara à medida que se aproxima o último ato. É aí que entram as pesquisas de opinião pública. Encomendadas às pressas, para testar a eficácia das estratégias eleitorais, elas nos informam o placar parcial dos participantes do jogo: o candidato A subiu, o B despencou e o C começou a crescer.

E assim seguem as campanhas até um ou dois meses antes da eleição, quando, por pressão da sociedade, e do horário eleitoral gratuito, constrangidos, os partidos políticos se vêem obrigados a esboçar o seu programa de ação, do qual são sistematicamente omitidas quaisquer propostas que possam provocar polêmicas ou contrariar interesses de minorias.

É difícil um país avançar desse jeito!

Levando-se em conta que ainda falta algum tempo para as eleições - dois meses - e que no período não haverá clima para debater qualquer tema mais sério, deixo, aqui, uma sugestão às agremiações partidárias e aos candidatos: aproveitem esse tempo para uma reflexão crítica sobre a realidade de nosso País.

Essa é, a meu ver, a única forma de conquistar o respeito do eleitor.

Antes de pensar em quem vai dar seu voto, ele quer ver, na mídia, a discussão, em alto nível, e a mais democrática possível, dos reais problemas do País. Por exemplo: a saúde pública. Por que motivo nada foi feito para combater a dengue, se, desde o início da década passada, o ex-ministro da área, Adib Jatene, já alertara as autoridades sobre o risco de epidemia?

O eleitor também está ansioso para saber se, com a adesão à Alca, o desemprego, a exclusão social, a criminalidade e a violência vão aumentar ou diminuir.

Mais do que isso: quais são as propostas claras dos partidos políticos para as questões das reformas tributária e fiscal, da previdência pública, política e do Judiciário. Que fazer para conter a dívida pública interna, que já é mais do que a metade do PIB?

Mas, passando da economia à política, há questões igualmente urgentes. Por exemplo, ao invés de ficar se lamentando, os partidos poderiam refletir sobre recente decisão do TSE, que os obriga a fazer coligações verticais, ou seja, a manter em nível regional as alianças feitas em nível nacional.

Ora, não seria esse um bom motivo para debater a adoção do voto distrital misto, da repartição mais justa da receita tributária, que só tem crescido nos últimos anos, entre União, estados e municípios?

E, por último, mas não menos importante: até quando viveremos divididos entre cidadãos de primeira e de segunda categoria?. Refiro-me ao tristemente famoso "pacote" que impôs piso e teto às representações de parlamentares na Câmara de Deputados.

É balela falar em cidadania quando se comparam os números de habitantes e de eleitores de cada estado e as respectivas bancadas de parlamentares na Câmara dos Deputados.

Isto é uma afronta à brasilidade!

Para corrigir tal distorção, será necessário estabelecer um número mínimo de eleitores ou de habitantes para se eleger um deputado federal. Por exemplo: cada grupo de cem mil, duzentos mil (eleitores ou habitantes) não importa elege um deputado. Sem piso, teto, nem exceções para quaisquer unidades da Federação.

Sobre temas de tamanha importância, infelizmente, todos (agremiações políticas e candidatos), radicais e moderados, de esquerda e de direita, se calam. Por que será?

Em vez de tratar de coisas sérias, preferem debater coligações e alianças, algumas delas mais do que estapafúrdias. Até quando, meu Deus?

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