.
Autor:
Frederico José Straube
Qualificação:
Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing (FBM).
E-Mail
[email protected]
Data:
24/10/01
As opiniões expressas em matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição do Empresário Online. Proibida a reprodução sem a autorização expressa do autor.

Gato por Lebre

Mercator caveat, diziam os romanos, para caracterizar as relações entre quem compra e quem vende alguma coisa. A expressão significa, em tradução literal, o mercador (comerciante) desconfia. Neste caso, obviamente, o comerciante está desempenhando o papel de comprador. Mas, afinal, de que desconfiava - e desconfia até hoje - a pessoa que compra alguma mercadoria ou serviço? Ora, ser enganado e, por exemplo, e comprar gato por lebre.

No início de outubro, a Academia Real de Artes e Ciências da Suécia concedeu o Prêmio Nobel de Economia de 2001 a três acadêmicos americanos que, decorridos mais de mil e seiscentos anos após a queda do Império Romano, fizeram estudos, no contexto da economia globalizada de hoje, exatamente sobre o mesmo tema, ou seja, a desconfiança de quem compra e de quem vende alguma coisa.

George Akerlof, Michael Spence e Joseph Stiglitz vão dividir quase um milhão de dólares por, na opinião do conceituado The Wall Street Journal, terem colocado em dúvida o pressuposto básico da teoria de Adam Smith, um dos clássicos da literatura econômica, de que os mercados operam de maneira eficiente. Para esses três scholars rebeldes, nem sempre isso acontece por um motivo bem simples: compradores e vendedores nem sempre têm as informações de que necessitam para fazer as melhores escolhas.

Stiglitz, o mais conhecido e polêmico dos três, atraiu a ira de tecnocratas americanos e europeus, ao acusar o Fundo Monetário Internacional (FMI) de empregar economistas incompetentes, adotar modelos econômicos ultrapassados, de insensibilidade social e ainda de "receitar" remédios errados. Tudo isso combinado, de acordo com Stiglitz, que, dentre outros cargos, foi economista-chefe do Banco Mundial (Bird), que é muito ligado ao FMI, de 1996 a 1999, colocaria em risco a democracia nos países emergentes.

Antes de continuar, preciso informar o leitor de que Joseph Stiglitz não é simpatizante do PT, nem é militantes de qualquer ONG de tendência socialista. Dentre seus ex-alunos brasileiros, destacam-se o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e Sérgio Werlang, professor da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro.

A questão levantada pelos três ganhadores do Nobel de Economia - como corrigir as imperfeições do mercado - remete o foco do debate para a necessidade da intervenção estatal na economia por meio de agências reguladoras, tema que ainda é considerado tabu por economistas adeptos do monetarismo puro, da assim chamada Escola de Chicago, para os quais o Estado provocaria apenas novas distorções no mercado.

Apesar das divergências entre esses dois grupos de acadêmicos - os neokeynesianos, defensores da ação reguladora do Estado e da sociedade, e neoliberais, contrários a quaisquer tipos de intervenções no mercado, as imperfeições deste são reconhecidas por economistas de todas as tendências.

Na minha maneira de ver, essas duas opções não são excludentes. Dependendo das prioridades e das dificuldades de cada país, eventuais soluções podem ser achadas tanto na intervenção estatal como no monetarismo neoliberal. Pragmatismo e bom senso são sempre as melhores atitudes.

Uma coisa, contudo, é essencial ao menos para economias emergentes como a brasileira: é preciso dar força ao consumidor porque ele mantém o mercado em funcionamento e o oxigena.

A atividade de pós-venda e o intercâmbio empresa vendedora-consumidor são fatores indispensáveis para o bom relacionamento entre os agentes do mercado.

O capitalismo é, por essência, o regime do risco. Com disciplina e ética, todos ganham.

.

© 1996/2002 - Hífen Comunicação Ltda.
Todos os Direitos Reservados.