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Autor:
Tasso T. Pinheiro
Qualificação:
Presidente da Sindipedras - Sindicato da Indústria de Mineração de Pedra Britada do Estado de São Paulo.
E-Mail
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Data:
24/12/03
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Falta de Política Habitacional Agrava Crise na Construção Civil

Além do desemprego, cai também a demanda de consumo de areia e pedra britada, insumos básicos para a construção civil

A falta de uma política habitacional por parte do governo tem gerado forte crise para a construção civil, um dos setores de maior empregabilidade do país. O déficit habitacional no Brasil em 1990 que era de 5 milhões de moradias passou para 6,6 milhões em 2000. Como resultado da ausência de investimentos em obras públicas, temos estradas esburacadas, favelas, cortiços e construções de alto risco em pleno crescimento; esgotos a céu aberto, rios poluídos e mortos; falta de água tratada, urbanização desenfreada, transporte coletivo sem qualidade, trânsito caótico. Educação precária, mortalidade infantil, epidemias e endemias, desemprego, subemprego e alta criminalidade.

Com forte retração da demanda dos insumos básicos para a edificação de obras, importante indicador da situação econômica e social de um país, os setores que consomem agregados acabam não retendo ou absorvendo a mão-de-obra disponível no mercado, aumentando o índice de desemprego no setor. Só a cadeia construtiva poderia criar metade do número de postos de trabalho prometidos pelo governo Lula, caso investimentos fossem feitos neste sentido.

A pedra britada, insumo básico para a produção do concreto e asfalto betuminoso, dentre outros, teve este ano o pior desempenho desde 1996, no Estado de São Paulo. Deveremos fechar 2003 com um consumo de pedra britada no Estado de São Paulo de 46 milhões de toneladas, cerca de 12% inferior a 2002, que registrou um desempenho de 51,6 milhões e 53,2 milhões em 2001.

Em 2002 foram produzidas no Brasil 386.0 milhões de toneladas de agregados para construção civil, montante 3,26% inferior a 2001. Deste total, 156.4 milhões de toneladas são de pedra britada e 229.6 milhões de toneladas de areia, sendo São Paulo o principal produtor, respondendo por 32,8% da produção nacional. Os fabricantes de material de construção em geral movimentam 52 bilhões de Reais por ano e o mercado de agregados cerca de 6 bilhões de Reais. Areia e pedra britada caracterizam-se pelo baixo valor e grandes volumes produzidos. O transporte é o item mais caro e mais importante, chegando a representar cerca de 2/3 do preço final da areia e 30% da brita, o que impõe a necessidade de produzi-las o mais próximo possível do mercado consumidor.

O consumo de areia e brita está diretamente ligado à qualidade de vida da população, considerada sua importância como base para a indústria da construção civil, como elementos estruturais para a construção de moradias, alimentação (construção de silos e armazéns para os programas de abastecimento), saúde e saneamento básico (construção de sistemas de captação, adução, tratamento e distribuição de água e esgoto), educação (edifícios e equipamentos escolares), transporte (pavimentação e construção de rodovias, vias públicas, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos, pontes, viadutos, pátios e estações) etc. No Brasil, esse consumo é bem menor do que nos países desenvolvidos. A média anual brasileira de consumo per capita de areia e brita somados é de 2,3 toneladas, enquanto que nos EUA é de 10,0 e na União Européia 7,5.

O número de empresas produtoras de pedra britada é da ordem de 450, gerando 15 mil empregos diretos e mais 2 mil empresas dedicadas à extração de areia, responsáveis por cerca de 45 mil empregos diretos.

Apesar das restrições cada vez maiores, o setor vem se desenvolvendo continuamente, modernizando e produzindo a custos compatíveis dentro de sua nobre função social de supridor de matéria-primas fundamentais para os programas de transporte, saneamento básico e outros, indispensáveis à melhoria de vida das populações urbanizadas. Para tanto, são requeridos investimentos em modernização tecnológica, em recursos humanos e em profissionalização que garantem a qualidade e durabilidade dos produtos. Por ser uma atividade de extração de matérias-primas minerais feita necessariamente dentro ou no entorno do ambiente urbano, uma série de exigências e altos investimentos são feitos face à legislação de proteção ambiental, recuperação da área minerada e sustentabilidade ambiental. No reverso da medalha, entretanto, o governo ( nas 3 esferas ), que em última instância é seu maior beneficiário, simplesmente não assume a importância vital dos agregados para a sociedade, desprovendo o setor de políticas cujas linhas mestras seriam destinadas ao planejamento da atividade e, em conseqüência, a preservação e o uso racional destes recursos para as gerações futuras. Se, em curto espaço de tempo, as autoridades governamentais não assumirem plenamente o seu compromisso social, certamente a cadeia construtiva está fadada a mergulhar numa crise sem precedentes.

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