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Autor:
Alfried Karl Plöger
Qualificação:
Presidente da Abigraf Regional São Paulo e da Associação Brasileira de Companhias Abertas (Abrasca).
E-mail:
[email protected]
Data:
25/10/03
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Erro na Dose

Considerados os indicadores da produção e do comércio, o agravamento do desemprego e a inconsistência das perspectivas de retomada do nível de atividades, soou com certa ambigüidade a frase do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na coletiva às emissoras de rádio do País, no início de outubro, de que "o tempo das vacas magras acabou". Pergunta-se: acabou por que finalmente assistiremos ao espetáculo do crescimento, ou por que as pobres bovinas sucumbiram, dando fim ao seu tempo?

Ironias à parte, a verdade é que as taxas de juros reais brasileiras ainda estão num patamar que dificulta o início do espetáculo do crescimento. O presidente também disse que "os empresários serão chamados para ver quem está disposto a fazer parceria com o governo para realização de grandes obras pelo País". Qual a parte do Estado nesta parceria: juros suportáveis pela atividade econômica produtiva industrial e comercial, acompanhados por maior disponibilidade de crédito para investimentos? Reforma tributária de verdade, que reduza e não aumente impostos?

Os empresários estão mobilizados e prontos a atender à convocação presidencial, pois dependem da produção e trabalho para manter seus negócios e os empregos de milhões de brasileiros. As empresas não defendem subsídios, incentivos fiscais e outros benefícios anacrônicos. Querem, apenas, uma política econômica que possibilite o crescimento, reduzindo-se a obsessão monetária. Desejam, sim, condições menos desiguais em relação aos concorrentes do exterior, para participar de forma mais competitiva da economia global.

Quando a inflação recrudesceu, houve coragem para elevar a taxa básica em três por cento numa só reunião do Copom. Quando a inflação cai, levando junto a atividade econômica, não há a mesma decidida contrapartida para reduzir os juros. Claramente, temos uma inflação de custos, localizada nos preços administrados, cujos aumentos situam-se acima das metas. Até quando teremos que ter deflação no setor privado competitivo, que acarreta um verdadeiro martírio para as empresas, os trabalhadores, seus empregos e seus salários, de forma a que a média do aumento de preços permaneça no nível mirado?

Excetuando o agronegócio, no momento favorecido pelo realismo cambial e sempre beneficiado pela fantástica capacidade empreendedora do empresário do campo, assim como pela atenção governamental no aspecto creditício, a atividade empresarial no Brasil nos últimos 20 anos tem trazido resultados pífios. O último ano, entretanto, mais do que qualquer outro, está ensinando que empreender não compensa. Os investimentos e esforços raramente se transformam em resultados devido a uma incomum redução da demanda. Com perdão pelo "economês", tudo isso se deve à fixação de taxas de juros reais acima da rentabilidade sobre ativos das empresas. O crescimento sustentado da economia é absolutamente inviável nessas circunstâncias. A dose da alta dos juros está exagerada.

O Governo Lula começa a perder a credibilidade dos três primeiros meses, conforme demonstra a última pesquisa do Ibope, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O aumento da desaprovação (de 13% em março, para 24% em setembro) é sintomático. Assim, é preciso que o presidente fique alerta a todas essas questões e exercite sua capacidade analítica e inconteste liderança. É fundamental compreender que, a exemplo das críticas que fez à diretoria do Corinthians, seu clube de coração, pela venda de jogadores no meio da temporada, todos nós, torcedores deste grande Brasil, queremos ganhar o campeonato do desenvolvimento, da prosperidade e da justiça social. Por isso, fazemos nossas críticas, particularmente ao patamar das elevadíssimas taxas de juros reais.

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