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Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing (FBM).
E-Mail
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Data:
26/06/01
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Bônus para a Água

Além da escassez de energia elétrica, os brasileiros das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste ainda estão sob ameaça de terem a água de suas residências racionada, no período compreendido entre julho e novembro próximos. As concessionárias estaduais de captação e distribuição de água daquelas regiões estudam três medidas, que, eventualmente, poderão ser tomadas: a elevação linear (igual para todas as categorias) das atuais tarifas que incidem sobre os consumidores - industriais, comerciais e residenciais - ; o racionamento puro e simples, de acordo com médias de consumo a serem calculadas; e a terceira, e pior delas, o rodízio da água por bairros e dias da semana, combinado com a majoração das tarifas.
Não é difícil o leitor imaginar o desconforto que qualquer uma dessas medidas acima mencionadas poderá causar-lhe. Some-se a isso a necessidade de todos terem de economizar, no mínimo, 20% de energia no mesmo período de julho e novembro e teremos então uma pálida idéia do inferno em que se transformará o já penoso cotidiano de milhões de brasileiros. Além de ficar menos tempo debaixo dos chuveiros, menos tevê, freezers e fornos microondas, em alguns dias da semana, as pessoas terão de privar-se até mesmo do banho diário.

É como se, de repente, mais de cem milhões de brasileiros, moradores das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, entrassem em um filme de ficção científica cuja ação se passasse dois ou três séculos atrás, quando, a humanidade não dispunha ainda de dois fatores básicos da comodidade moderna: água potável encanada e luz elétrica. Sem qualquer sombra de dúvida, um pesadelo!
Também não é novidade para ninguém que os mananciais que abastecem a região metropolitana de São Paulo, onde vivem cerca de 16 milhões de pessoas, estão esgotados. A capacidade máxima de atendimento do conjunto desses mananciais, inclusive o Sistema Cantareira, que capta água muito além dos limites dos 39 municípios que compõem a Grande São Paulo, é de dez milhões de habitantes.
Além disso, comércio e indústria já pagam hoje mais por metro cúbico de água do que o consumidor residencial. Por tal motivo, o desperdício de água nesses dois segmentos é bem menor ou é, na prática, inexistente, principalmente no setor industrial. Bem, deve estar se perguntando o leitor, se comerciantes e industriais fazem bom uso da água, quem são os responsáveis pelo enorme desperdício dela? São os consumidores da classe média alta.

Estudos realizados recentemente pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo mostram que os desperdícios de água são inversamente proporcionais ao perfil de renda dos consumidores residenciais. Ou seja, quanto maior a renda familiar, maior o desperdício.
Por todos esses fatores e, levando-se em conta que o aumento puro e simples de tarifas teria peso maior no bolso das famílias mais carentes, tomo a liberdade de deixar para consideração das autoridades do setor uma sugestão que, a meu ver, é muito mais justa do que as três que estão em estudo. Trata-se de apurar-se uma média de consumo, nos moldes daquela feita para a energia elétrica, para todos os tipos de consumidores. A partir daí, estabelecer-se-ia pesada multa para quem excedesse a média e um bônus para quem consumisse abaixo dela.
Obviamente, tal medida teria de ser precedida de campanha institucional e didática, principalmente no rádio e na tevê, pelo uso racional de água, mesmo em períodos de intensas chuvas de verão. Também ajudaria muito a economizar água uma ação forte e vigilante da sempre tão atuante Sabesp proibindo, o termo é esse mesmo, a lavagem de calçadas e fachadas dos prédios, com pesadas multas para os infratores. Hoje, como todos sabem, faxineiros, mal orientados por síndicos irresponsáveis, "varrem" todos os dias calçadas apenas com água, sem o uso de uma vassoura sequer! Isso é um crime, além de desperdício de um bem essencial à toda a comunidade.

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