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Autor:
Marcelo Alcides Carvalho Gomes
Qualificação:
Doutor em Contabilidade e sócio-diretor da GBE Peritos & Investigadores Contábeis.
E-mail:
[email protected]
Data:
26/07/03
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Motivação e Respeito, Alternativas para a Fidelidade Corporativa e Combate às Fraudes

Na década de 80, ao ingressar numa empresa, era freqüente ao recém chegado encontrar funcionários com 15, 20 anos de organização. Isto era ainda mais comum em empresas familiares nacionais, de médio e grande porte. Hoje, isto é praticamente raro. Atualmente, os funcionários não têm mais expectativa de permanecer na companhia por longos anos e, conseqüentemente, a fidelidade corporativa cede lugar a sentimentos de insegurança, insatisfação ou até mesmo ao surgimento de fraudes. O funcionário, ao se deparar com um ambiente instável, sente que o emprego funciona como um ponto de passagem: vou aprender e levar o meu conhecimento para outro lugar.

O 2º Relatório sobre Fraudes e Abusos Ocupacionais nas Empresas no Brasil / 2002. Um Estudo sobre 43 Casos, desenvolvido pela GBE Peritos & Investigadores Contábeis, revela que a incidência de fraudes é maior entre os funcionários com faixa etária de 36 e 40 anos. O avanço da idade e as diversas mudanças organizacionais aliados à falta de perspectiva de continuar na organização criam um ambiente propício para a ocorrência de atos ilícitos.

Em todo o mundo, crimes contra as empresas constituem hoje a segunda maior fonte arrecadadora ilícita de dinheiro, perdendo apenas para o narcotráfico, segundo o estudo Fraud without Frontiers, elaborado pela Deloitte Touche Tohmatsu International. Há de tudo: corrupção, falsidade ideológica, furto de informações, espionagem, tráfico de drogas, chantagem e extorsão. Os crimes são praticados em todos os níveis hierárquicos, individualmente, em pequenos grupos ou em quadrilhas com dez pessoas ou mais.

Especialistas na análise e combate ao crime organizado têm apontado como cada vez maior o envolvimento das máfias italiana, russa, chinesa e japonesa no controle de organizações empresariais, não mais como fachada, mas para a perpetração de crimes. Segundo a Association of Certified Fraud Examiners (ACFE), o equivalente a 6% da receita bruta das empresas dos Estados Unidos é desviada em crimes de fraude e abuso ocupacional, correspondente a US$ 400 bilhões anualmente, ou 6% do PIB (Produto Interno Bruto).

No Brasil, a análise sobre respostas de 1511 empresas entre as 500 Melhores e Maiores de 1996 indicaram que as fraudes internas causaram perdas equivalentes a 1% do faturamento em 85,48% das companhias pesquisadas. Os dados não conferiam com a experiência da GBE Peritos. Nos contatos com clientes, quando questionados sobre quanto perdem com fraudes, as respostas indicavam a média de 6% do faturamento.

Uma política eficaz da área de Recursos Humanos pode ajudar a motivar o funcionário e coibir o risco de incidência de fraudes. Investimentos em cursos de aperfeiçoamento pessoal e profissional são ferramentas que mantém o funcionário motivado e fiel a organização. Mas o empregado que já ao ingressar na corporação não recebe estímulos chega aos 30, 35 anos desmotivado. Em muitos casos, o RH só proporciona cursos que estão em voga no mercado como os de sobrevivência na selva, de relações interpessoais em detrimento de cursos que poderiam ajudar a cultivar a auto-estima e a motivação. Efeito: estes funcionários não têm a chance de fazer cursos de interesse próprio e, com isto, tornam-se alvos mais fáceis da fraude.

Toda esta atmosfera de insatisfação acaba trazendo resultados maléficos para as empresas. Um funcionário desmotivado está mais propenso a aceitar propinas, por exemplo. Dificilmente, pode-se esperar fidelidade dos funcionários oferecendo um ambiente de intranqüilidade, com políticas de fusões, aquisições, privatizações, enfim, com medidas que geram insegurança. A ocorrência de fraudes está intimamente relacionada com a forma como a empresa trata o seu empregado. Se a empresa respeita e incentiva o funcionário, este, por sua vez, também respeita e veste a camisa da corporação.

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