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Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing (FBM).
E-Mail
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Data:
26/09/00
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A vez da América pobre

O resultado prático do recente encontro dos 12 presidentes sul-americanos, realizado nos dias 31 de agosto e 1º de setembro, em Brasília, poderá ser o começo efetivo da integração física do subcontinente, independentemente da política de blocos dentro e fora da América do Sul. As reuniões anteriores pouco avançaram nesse sentido porque, em geral, ou abordavam apenas entraves técnicos ou eram limitadas ao âmbito de cada um dos blocos subregionais (Mercosul, Comunidade Andina, Mercado Comum Centro-Americano, do Caribe etc.).

Ao conseguir reunir líderes políticos tão díspares como, por exemplo, os do Suriname, do Chile, do Paraguai e da Colômbia, a diplomacia brasileira mostrou toda a sua habilidade e capacidade de liderança. Evitadas as questões mais polêmicas e potencialmente explosivas, dentre as quais a mais importante foi, sem dúvida, a do envio de forças militares de países da região para combater o narcotráfico colombiano, sobraram os interesses comuns. Em outras palavras, a ênfase dada às semelhanças superou - de longe - as tradicionais diferenças.

Emblematicamente, os dois dias de conversações transcorreram como se Simon Bolivar mantivesse um diálogo imaginário com o barão do Rio Branco. Este lembrando ao libertador que, a despeito da diversidade dos caminhos escolhidos para se chegar ao progresso, a convergência de interesses comuns acabaria por prevalecer. Aquele admitindo, quase dois séculos depois, a possibilidade de ter exagerado em sua profecia de que a América ibérica seria ingovernável.

Um avanço extraordinário!

É necessário, contudo, não dormir sobre os louros, ainda mais quando eles foram conseguidos no "campo de batalha" das intenções e dos comunicados oficiais e fugazes. Em breve, os mesmos 12 presidentes sul-americanos deverão encontrar-se em La Paz, para consolidar os avanços obtidos em Brasília. Para tanto, nada melhor do que definir, já na Bolívia, os megaprojetos de interesse estratégico para a integração física do subcontinente. Rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e logística para o transporte intermodal são obras que, quando prontas, falarão mais alto do que quaisquer eventuais divergências políticas.

Ainda em Brasília, antecipando-se à velha cantilena de que não há recursos disponíveis para obras de tal envergadura, o Banco Interamericano do Desenvolvimento (o BID) já dispôs-se a financiar os megaprojetos que vierem a ser definidos como prioritários para a integração da América do Sul. Portanto, a questão de agora em diante é escolher as obras que sejam importantes à Comunidade Andina, ao Mercosul e também aos blocos centro-americano e do Caribe.

Neste contexto, gostaria de lembrar a iniciativa pioneira desenvolvida ao longo dos últimos três anos pela ADVB, ao servir de "ponte" entre empresários brasileiros e peruanos, com a realização de dois fóruns Brasil-Peru, o primeiro em São Paulo, o segundo em Lima. A terceira versão desse evento já está marcada para o mês de setembro, em São Paulo, onde estarão autoridades brasileiras e peruanas, em conjunto com empresários de ambos países, buscando firmar ações que possibilitem a integração física e o aumento do fluxo comercial.

Sou daquelas pessoas que acreditam no diálogo. Em pouco tempo, se debatermos, com seriedade e responsabilidade, nossos problemas comuns (a pobreza, a disparidade de renda e a exclusão social), tenho certeza de que aquela atávica desconfiança mútua entre pessoas latino-americanos que falam castelhano e as que falam português será rapidamente superada.

Quando isso acontecer, e espero que não demore muito, Bolívar, San Martin e Pedro I poderão sorrir porque seus povos estarão no caminho do desenvolvimento pleno, da cidadania e do bem-estar social.


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