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Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing (FBM).
E-Mail
presidê[email protected]
Data:
26/10/01
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Subsídios dos Ricos

A vitória obtida pelo Brasil contra o Canadá, na Organização Mundial do Comércio (OMC), em razão dos subsídios concedidos pelo governo deste país à Bombardier, fabricante de aviões e concorrente da nossa Embraer, abre uma perspectiva estratégica de fundamental importância para a diplomacia comercial brasileira. Mais do que os US$ 4 bilhões em subsídios fornecidos às exportações de aeronaves fabricadas pela Bombardier, o que está em jogo é o acesso das economias emergentes aos grandes mercados internacionais de manufaturados.

Em primeiro lugar, é preciso destacar-se o caráter emblemático desse triunfo do Itamaraty: pela primeira vez na história recente da briga por espaço nos mercados internacionais, ficou explicitada a hipocrisia dos países desenvolvidos, que costumam acusar as nações mais pobres de subsidiar suas exportações. Na verdade, são eles que o fazem rotineiramente. Além disso, nas reuniões dos organismos multilaterais que tratam do tema, seus porta-vozes vivem reclamando do pretenso protecionismo dos pobres. Puro jogo de cena. Os freqüentes duelos verbais travados entre diplomatas de nações desenvolvidas e emergentes foram finalmente superados pela realidade: o protecionismo, escudado em sutis barreiras não-alfandegárias (sanitárias, quotas de exportação e preferências tarifárias na troca de mercadorias entre membros de um mesmo bloco comercial, dentre outras práticas); e a concessão de subsídios às exportações de manufaturados têm sido as duas armas mais usadas pelos desenvolvidos para manter sua participação no comércio internacional.

Só para refrescar a memória do leitor, lembramos a campanha de boicote à carne bovina brasileira, realizada por Canadá, Estados Unidos e México (membros do Nafta) no primeiro semestre do ano. Como costuma dizer o ex-ministro da Fazenda e atual deputado federal, Antônio Delfim Netto, "o desenvolvimento econômico é uma guerra". E, como em todas as guerras, conforme notou, com extrema lucidez, o grande Winston Churchill, "a primeira vítima é sempre a verdade". A decisão da OMC, tomada em meados de outubro, com certeza, deverá estimular ainda mais a diplomacia brasileira a defender as exportações do aço e do suco de laranja, dois produtos duramente atingidos pelo protecionismo das nações mais ricas. Além disso, ela não poderia ter acontecido em melhor hora para o Brasil. É que, em novembro próximo, a China, um mercado de um bilhão e 200 milhões de consumidores, cuja economia tem crescido ao longo da última década à média de 7% ao ano, vai entrar para a OMC.

Essa é uma oportunidade única para o agrobusiness brasileiro ganhar em definitivo a liderança de nossa pauta de exportações, o que poderá ajudar - e muito - o País a trazer os dólares de que tanto necessita em substituição à entrada de capital de risco, que deverá declinar substancialmente a partir de 2002. De fato, o agrobusiness é único setor que tem elevado substancialmente sua participação em nossa pauta de exportações, apesar de todas as dificuldades da economia. Se o governo brasileiro der um empurrãozinho e desonerar as exportações, que é o que todo o setor produtivo espera, a julgar pelas iniciativas que vem sendo tomadas pelo ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, o Brasil transformar-se-á, em curto espaço de tempo, em um dos maiores supridores de alimentos (soja, açúcar, café, cacau, suco de laranja, frango, carne bovina e suína, dentre outros) para a China.

Não nos devemos esquecer também que, além de alimentos, a China é grande compradora de manufaturados como, por exemplo, calçados, aço e aviões.

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