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Autor:
Eduardo Botelho
Qualificação:
Consultor e diretor da Treinamento Eficaz
E-mail:
[email protected]
Data:
27/10/99
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Desafiando o poder

Todas as vezes em que um ser humano é, ou se sente, encurralado e oprimido, parte para a vingança. Assim é quando, por exemplo, somos obrigados, por alguma razão, a fazer o que não gostaríamos de fazer, pois, imediatamente após o cumprimento dessa obrigação, procuramos, de alguma forma, nos recompensarmos com algo que nos traga satisfação. Vou exemplificar com um assalto. Enquanto estamos sendo agredidos pela violência do ato, temos que agir exatamente como determina o dono do poder naquele momento, ou seja, o assaltante; mas, no primeiro minuto em que nos vemos livre dele, se pudermos, partimos para a nossa vingança.

Em poucas palavras, nenhum, ou quase nenhum, ser humano é agredido e, passada a agressão, simplesmente se esquece dela e continua a sua vida como se nada houvesse acontecido.

Dizem que entre os cangaceiros de lampião vigia uma séria regra que é a seguinte : "Cangaceiro perdoa, mas não esquece"; e é isto exatamente o que acontece com todos nós.

Por que isto é importante ? Porque o pior de todos os sentimentos e a maior de todas as agressões que nós, seres humanos, podemos vivenciar chama-se : "medo", e porque é exatamente este o sentimento e agressão que os nossos esquemas e sistemas de administração colocam na vida diária de muitas pessoas. Resultado. Todos os que se sentem dessa maneira no trabalho, procuram de alguma forma, ou até de todas as formas possíveis, se verem livres do que, ou de quem, lhes agride através do mau uso do seu poder hierárquico ou financeiro.

Vejamos algumas situações para exemplificar o que estamos afirmando. O que você sente e como é que você se sente todas as vezes em que o seu chefe lhe diz que vai fazer a sua avaliação de desempenho ? O que você sente e como é que você se sente todas as vezes em que o seu chefe lhe diz : " Se você não fizer isto serei obrigado a lhe mandar embora"; ? O que você sente e como é que você se sente todas as vezes em que a sua empresa lhe diz que se não houver determinada melhoria, ela será obrigada a fazer alguns cortes ? O que você sente e como é que você se sente todas as vezes em que o seu chefe simplesmente está de mal humor, ou grita com alguém ? O que você sente e como é que você se sente todas as vezes em que o seu chefe, simplesmente, manda sem sequer se dar ao direito de ouvir uma única palavra sua, agindo como um semideus, ou até como um verdadeiro Deus ?

É claro que todas estas situações são habituais nos nossos ambientes de trabalho, mas a pergunta que faço é esta : "O que isto tudo desperta dentro de nós ?" Exatamente o medo. Resultado ? Imediatamente após o acontecimento, partimos para a nossa válvula de escape, ou seja, para algo que nos devolva o nosso astral e a nossa auto estima abalada por aquele acontecimento.

As consequências maléficas desses sentimentos se agravam muito quando são vivenciadas por um grupo de pessoas e se tornam muito mais desastrosas para a empresa. O que estou afirmando é que o medo une as pessoas contra o seu agente gerador, e todas as vezes em que um grupo de pessoas se sente ameaçado por um mesmo agente ou ato, ele se torna ainda mais forte e unido contra ele, e todos nós temos visto exatamente isto acontecer, por exemplo, nos momentos em que uma determinada empresa faz um número grande de demissões.

A mau uso do poder hierárquico ou financeiro une as pessoas, faz nascer o espírito de equipe, transforma um simples agrupamento em um forte e sólido grupo; só que contra os objetivos e os interesses de quem as uniu. Coloca-se então no ambiente o que conhecemos como "queda de braço", e ambos os lados vão, cada um a sua maneira e com os recursos que tiver, procurar derrotar o outro. Quem são os prejudicados com isso ? Todos os envolvidos. Quem paga essa conta ? A empresa.

Em momento algum estamos afirmando que a hierarquia ou o dinheiro são ruins ou desastrosos e que trazem, portanto, consequências ruins e desastrosas para a empresa. O que estamos afirmando é que o mau uso disso, ou a inabilidade para lidar com isso, é que é desastroso. Temos, todos, assistido a isso em alguns momentos da nossa vida profissional.


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