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Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing (FBM).
E-Mail
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Data:
28/04/01
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Corrupção Jurássica

Algumas mazelas têm sido obstáculos poderosos para que países emergentes encurtem suas distâncias em relação ao mundo desenvolvido. Concentração de renda, miséria, desemprego, exclusão social, informalidade, ensino de baixa qualidade, evasão escolar e criminalidade crescente, potencializada pelo uso de drogas entre jovens, formam um conjunto de indicadores sociais negativos que contrabalançam e, em alguns casos, chegam até a neutralizar os fatores positivos típicos dessas mesmas economias (dinamismo comercial, competitividade da mão-de-obra, boa rentabilidade do capital investido e mobilidade social).

Além desses, existe um fator que serve para medir o grau de civilidade de qualquer país, independentemente de ser desenvolvido, emergente ou pobre. Trata-se da corrupção. De forma geral, segundo a "Transparência Internacional", uma ONG alemã especializada no assunto, ela é endêmica no conjunto de nações emergentes e pobres. O curioso é a corrupção ter demorado tanto para ser classificada como fator impeditivo para o acesso ao pleno desenvolvimento econômico e social.

A meu ver, essa demora deveu-se a duas razões de ordem cultural corriqueiras em todo o mundo: a aceitação generalizada de que para se ter um serviço público com rapidez (a emissão de um passaporte, por exemplo) deve-se pagar uma taxa de urgência; e a absolvição do corrompido, como se ele fosse uma vítima indefesa do corruptor. É aquela história de criar problemas para vender soluções. Quando e onde tal prática começou ninguém sabe ao certo, mas estará próximo da verdade quem disser que, na civilização ocidental, ela existe pelo menos desde a Grécia e o Império Romano.

Isso talvez ajude a entender, embora não justifique, os níveis jurássicos da corrupção em nosso País. A sociedade civil brasileira (a banda saudável e pensante na nação) deu-se conta, de repente e perplexa, de que atravessamos o século 20, durante o qual aconteceram mais mudanças do que em toda a história da humanidade, sem que a corrupção tenha ao menos diminuído. Ao contrário, ela deve ter crescido em relação ao século 19. Por isso, chegamos ao século 21 como um dos países mais corruptos do mundo, juntamente com a Nigéria, a Indonésia e o Haiti, dentre outros. Um triste recorde!

No Brasil, esse quadro terá de mudar rapidamente, caso contrário passaremos a ser vistos pelo resto do mundo como um "jardim zoológico" ou "reserva natural" da humanidade. Nesse sentido, o episódio em que a ex-diretora do Prodasen, Regina Célia Borges, deixou os senadores José Roberto Arruda e Antônio Carlos Magalhães em situação delicada, perante a opinião pública, é emblemático. Daqui para frente, a única iniciativa que a sociedade exige do Senado é que se apure toda a verdade e que os culpados sejam punidos. O mesmo vale para o presidente do Congresso, Jader Barbalho, na questão da liberação de recursos da SUDAM para empresas controladas por familiares seus.

Uma das teorias para o desaparecimento dos dinossauros, na era jurássica, é a de que um meteorito tenha caído na região conhecida hoje como Golfo do México. Com o impacto, uma nuvem de poeira impediu que os raios solares chegassem à Terra, devastando-a em pouco tempo. Para pôr fim aos "dinossauros" de hoje, que vivem da corrupção e da miséria do País, nem será necessária a repetição de tal fenômeno. A globalização da economia será suficiente.
Limpeza já!


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