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Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing (FBM).
E-Mail
presidê[email protected]
Data:
28/09/01
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Exportar é Preciso

Finalmente, o governo parece ter percebido a importância da exportação para o equilíbrio das contas públicas do País. Antes tarde do que nunca! Para que a equipe econômica se convencesse disso, foi necessário que a economia americana aprofundasse a recessão, após os atentados terroristas a Nova York e a Washington. Antes disso, embora a desaceleração já estivesse bastante clara, nos Estados Unidos, na União Européia e no Japão, pouco foi feito além da prioridade retórica ao setor exportador. Diz a sabedoria popular que há males que vêm para o bem. De tal sorte que o choque causado pelos atentados aos americanos e ao resto do mundo desviou a atenção do governo brasileiro até então concentrada exclusivamente na política de gerar superávits fiscais para o FMI ver e elogiar. No melhor estilo da crise de energia, da qual o governo só tomou conhecimento quando ela já estava prestes a paralisar todo o setor produtivo, uma reunião, convocada, às pressas, para o dia 24, duas semanas após os atentados, deu carta branca ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Sérgio Amaral, para, segundo suas próprias palavras, "cortar as amarras da exportação".

Apesar da demora, a Comissão Executiva do Comércio Exterior, presidida pelo ministro Sérgio Amaral, e da qual fazem parte também o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, dentre outros, é bem-vinda e, sem dúvida, contará com total apoio do empresariado. No mesmo dia em que foi criada essa comissão, cujo nível de decisão está acima do dos demais ministérios, o governo anunciou o superávit comercial das três primeiras semanas de setembro: mais de 450 milhões de dólares, o que elevou o superávit anual até agora para um bilhão e 250 milhões de dólares. Aviões, automóveis, derivados de petróleo e açúcar lideraram as exportações brasileiras em setembro. Se o superávit mensal das exportações se mantiver no mesmo nível do de setembro, e há boas razões para se acreditar nisso, a balança comercial poderá fechar o ano com um superávit acumulado próximo dos três bilhões de dólares. Nada mau se levarmos em conta que até julho e início de agosto acreditava-se que a balança comercial fecharia equilibrada ou, na melhor das hipóteses, com um superávit pequeno, de no máximo 300 milhões de dólares.

Se o governo mantiver de forma permanente o empenho no esforço exportador, o País poderá, já a partir de 2002, retomar a política de geração de grandes superávits comerciais, adotada, com sucesso, durante a primeira metade da década de 90, e abandonada logo após o Plano Real. Os dólares, a serem carreados para o País, via esforço de exportação, serão imprescindíveis nos próximos anos para ajudar a equilibrar as contas nacionais, cujos déficits nos últimos anos (inclusive em 2001) vêm sendo financiados pela entrada de capital estrangeiro, sob a forma de empréstimos do FMI e de capital de risco. Três fatores ajudam, neste último trimestre do ano, a retomada do esforço de exportação e servem para contrabalançar a recessão generalizada em conseqüência dos atentados terroristas aos Estados Unidos e das retaliações americanas.

São eles: o câmbio, que é extremamente favorável aos exportadores (a desvalorização do real em face do dólar, no acumulado do ano, já é equivalente à de janeiro de 1999), o empenho oficial na necessidade de diminuir o excesso de burocracia (o ministro Sérgio Amaral apontou nada menos do que 14 obstáculos, com algumas exigências desnecessárias e absurdas que datam de 1959) e a possibilidade de ampliar rapidamente a base de exportação, composta hoje por cerca de 50 empresas. Resta saber se, passada a conjuntura favorável à exportação, o governo terá a coragem necessária para eliminar os tributos que ainda oneram nossas mercadorias destinadas ao exterior (o PIS, a Cofins, a CPMF e, em alguns produtos, o ICMS).

Do mesmo modo que para Portugal, na época dos grandes descobrimentos, navegar era mais importante do que viver, nos versos de Fernando Pessoa, hoje, para o Brasil, exportar é uma questão de sobrevivência.

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