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Autor:
Miguel Ignatios
Qualificação:
Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e da Fundação Brasileira de Marketing (FBM).
E-Mail
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Data:
30/06/01
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A Decolagem Mexicana

ASem alarde, bem ao estilo mineiro, trabalhando em silêncio, o México, em uma década, ultrapassou o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, multiplicou por quatro o valor de suas exportações em relação às nossas (ele exporta US$ 200 bilhões por ano), enquanto nós mal conseguimos enviar para o exterior US$ 50 bilhões, e, recentemente, o país foi escolhido pelas consultorias internacionais, que avaliam o desempenho e os riscos dos países emergentes, como o de menor risco dentre eles. Em outras palavras, para americanos, europeus e asiáticos, nossos irmãos, latino-americanos do Norte, lideram a classificação dos emergentes.
Na segunda e terceira colocações da lista, figuram a Coréia do Sul, em séria crise desde 1997, mas que se recuperou de forma rápida e vigorosa; e nosso vizinho de subcontinente, o Chile. Por sorte, nossa, a Indonésia e a Argentina passam, como todos sabem, por sérias crises política e econômica, respectivamente. Caso contrário, o Brasil perderia também para eles.
Essa busca e rápida queda do Brasil na preferência dos investidores estrangeiros (até o final do ano passado liderava, tranqüilamente, o ranking dos emergentes) é preocupante porque ocorre justamente no momento em que aumenta a dependência externa das contas nacionais em razão de três fatores combinados: as altas do dólar e dos juros internos, com conseqüências desastrosas no custo do giro da dívida pública interna; e o racionamento de energia elétrica.

O leitor mais atento já deve Ter notado que sempre que o Brasil ameaça pôr um pé no Primeiro Mundo, como aconteceu durante todo o ano 2000, com um desempenho que pode ser considerado brilhante, dentro das óbvias limitações da época (desequilíbrio crônico dos gastos públicos e efeitos da desvalorização cambial de 1999), acontece alguma coisa que nos manda de volta para o Terceiro Mundo.Fatalidade, azar, acúmulo de erros de administrações anteriores ou, nas palavras de Nelson Rodrigues, a permanência atávica da baixa auto-estima, que ele brilhantemente batizou de complexo de vira-lata? Uma mistura de todas essas coisas, acrescida da política de apagar incêndios. O Brasil passou praticamente todo o século 20 apagando incêndios. Assim que um problema era identificado, todas as energias do governo eram dirigidas para saná-lo. Enquanto isso, uma série de outros, em geral, menos urgentes, mas igualmente graves, eram deixados de lado.

Foi exatamente isso que aconteceu com o atual governo, que concentrou toda a sua ação em uma só prioridade: diminuir o déficit público, o que fez, com sucesso, no período janeiro de 1999 até maio passado, quando ficou patente que a escassez de energia abortaria a pujança do crescimento do setor produtivo. Mas voltemos ao México. Durante a década de 90, como qualquer outro país emergente, enfrentou diversas crises, tendo sido a pior delas no início de 1995, quando os Estados Unidos tiveram de injetar US$ 30 bilhões em um só dia na economia local para evitar desastre maior. Esse socorro emergencial seguiu-se à ajuda financeira do FMI, dada algumas semanas antes, mas que se mostrou insuficiente.Anteriormente, no início da década anterior, mais exatamente em 1982, o governo mexicano enfrentou a sua pior crise e teve de decretar moratória, por não agüentar os reflexos da alta internacional dos juros, que se seguiram ao segundo choque do petróleo, no período 1979-82. O episódio ficou conhecido, na crônica financeira da época, como "o setembro negro". Aos poucos, todavia, a economia mexicana refez-se, aderiu ao Nafta (Mercado Comum da América do Norte) e, mais recentemente, promoveu as primeiras eleições presidenciais livres, após mais de 70 anos de domínio absoluto do PRI, elegendo o atual presidente, Vicente Fox. De 1995 até hoje, as exportações deram um salto espetacular graças ao intercâmbio mais fácil com Estados Unidos e Canadá e a um acordo preferencial, assinado com a União Européia, em 1999, ainda sob a administração Zedillo.

Mas, afinal, o que é que México tem que nós não temos? Uma coisa só: um governo que age em conjunto com o setor produtivo da economia. Quando, por alguma circunstância, governantes e empresários divergem, os primeiros têm o bom senso de não atrapalhar a ação empresarial. Aqui, ao contrário, nossos administradores públicos obrigam as empresas a fazer três ou quatro orçamentos em um só ano. Se não houver mudanças culturais na administração pública brasileira, estaremos condenados a sermos o eterno país do futuro.


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