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Autor:
Paulo Skaf
Qualificação:
Presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e novo presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-SP
E-mail:
[email protected]
Data:
01/02/05
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Nação de Empreendedores

Estudo da London School of Business demonstra algo que muitos brasileiros não sabem: nosso país tem um empreendedor para cada oito habitantes, contra um para 10 nos Estados Unidos. O número de pessoas que abriram negócio próprio no Brasil cresceu de 18 milhões para 23 milhões, de 1999 e 2003. No mesmo período, o volume de assalariados ficou estabilizado em 18 milhões. Outro dado importante: a participação das mulheres entre os empresários, de 30% na média mundial, aqui é de 40%. Contraponto: o Banco Mundial (BIRD), em pesquisa recente, ratifica alguns problemas que os brasileiros conhecem bem, a começar pela burocracia governamental, um empecilho ao empreendedorismo. Aqui, são necessários 152 dias para abrir uma empresa, ante dois na Austrália e quatro nos Estados Unidos. Neste item, o Brasil ocupa a 73ª pior posição (dentre 78 países pesquisados).

Quanto ao fechamento de empresas, são gastos, aqui, 10 anos para a quitação, contra seis meses no Japão e 18 na Rússia. As leis trabalhistas, anacrônicas e incompatíveis com a realidade da nova ordem econômica, são outro problema grave. Dentre 133 países incluídos no estudo do BIRD, a nota brasileira é 78, numa escala crescente em termos de inadequação das relações trabalhistas. Para comparar: Cingapura tem o sistema mais flexível e adequado, com nota 20. Seguem-se Estados Unidos (22) e Canadá (34).

Também há dificuldades quanto ao financiamento, representadas pelos altos juros, o superlativo spread bancário e a escassez de linhas de financiamento de longo prazo. Estes problemas é pertinente lembrar são ainda mais graves no tocante às micro e pequenas empresas. Completam o oceano de dificuldades, um sistema tributário, taxas, encargos e contribuições lesivos à produção, pois transferem ao Estado recursos em demasia, cerca de 35% do PIB. Parte expressiva desse dinheiro, ao invés de financiar o déficit público, poderia estar sendo investida para gerar superávit de emprego e renda.

O estudo do BIRD torna extremamente auspiciosas as estatísticas da London School of Business e demonstra o quanto os brasileiros são determinados e capazes de vencer desafios e adversidades. Contudo, também explicam, em boa medida, estatísticas do Sebrae quanto à mortalidade das empresas no Brasil, de 31% no primeiro ano de vida e 60%, após cinco anos.

Os números relativos ao falecimento precoce das empresas são elevados e totalmente incompatíveis com a realidade de uma nação que, como a nossa, ainda precisa conquistar o desenvolvimento. É preciso virar este jogo, melhorando cada vez mais as condições e reduzindo os obstáculos à criação e sobrevivência de pequenas e microempresas, responsáveis, segundo o Sebrae, por 41% dos 27 milhões de empregos formais do Brasil e 20% do PIB nacional. Há 5,5 milhões dessas empresas (99% do total do País), revela o IBGE. No Estado de São Paulo, há 1,3 milhão de micro e pequenas empresas, responsáveis por 67% do pessoal ocupado &Mac246; 7,4 milhões, incluindo funcionários e empresários, inclusive os que não têm empregados.

Neste exato instante, somente no Estado de São Paulo, informa o Sebrae-SP, existem 4,5 milhões de empreendedores e candidatos a empresários, sendo 1,3 milhão de empresas formalizadas, 2,6 milhões informais e 600 mil pessoas que pretendem abrir um negócio nos próximos meses. É preciso dar-lhes guarida e apoio em sua iniciativa de trabalho. Este ímpeto e capacidade de empreender devem ser encarados como grande oportunidade para vencer o desemprego, melhorar a distribuição de renda, forjar um mercado interno mais amplo e, portanto, uma economia para equilibrada. O País, como bem demonstra o estudo britânico, tem vocação e cultura para a abertura e desenvolvimento de negócios, em especial pequenas e microempresas.

Visando a contribuir para esse processo, a Fiesp passa a atuar de forma mais integrada e cooperativa com o Sebrae-SP, instituição que, a exemplo do nacional, tem cumprido missão relevante no desenvolvimento das pequenas e microempresas. A entidade da indústria paulista já tem programas significativos nessa direção, alguns em parceria com o próprio Sebrae. Um deles é o APL (Aumento da Competitividade de Micro e Pequenas Indústrias localizadas em Arranjos Produtivos Locais), cuja segunda etapa lançamos em dezembro último, nas cidades de Ibitinga e Mirassol. Nestas, o APL já propiciou aumento de produtividade de 30,6% e 13,4%, respectivamente. Em São José do Rio Preto, o ganho foi de 42,5% e o número de empregos cresceu 25% no universo das empresas participantes.

Os arranjos produtivos locais, bem-sucedidos em numerosas nações, demonstram todo o potencial e significado socioeconômico das micro e pequenas empresas. Os chamados clusters vêm florescendo em países industrializados e emergentes. Desde a década de 70 verificam-se mudanças na organização industrial, com a criação dos distritos da Terceira Itália, uma das experiências mais bem-sucedidas do gênero, na região Central e Noroeste da Bota, onde se instalou rede de pequenas fábricas de calçados, cerâmica, têxteis, motocicletas, equipamentos agrícolas, autopeças e máquinas-ferramenta. Também devem ser citados os sistemas produtivos locais na França, Alemanha e Reino Unido, Vale do Silício nos Estados Unidos e redes no Japão, Coréia e Taiwan. As pequenas e médias indústrias começaram a incorporar tecnologias de ponta e modificar estruturas organizacionais internas, buscando novos vínculos com a economia de suas regiões.

"O maior dos erros é a pressa antes do tempo e a lentidão ante a oportunidade", pondera um ditado árabe. Diante das tendências do mundo e das necessidades internas, o Brasil não pode esperar um segundo sequer para promover o definitivo desenvolvimento das micro e pequenas empresas, tornando-se, de fato, uma nação de empreendedores.

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