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Autor:
Paulo Nathanael Pereira de Souza
Qualificação: Educador e Presidente do Conselho de Administração do Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE.
E-mail:
[email protected]
Data:
17/01/2007
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O Avanço dos Estágios


Os dados preliminares do balanço de atividades do CIEE são altamente auspiciosos para aqueles que, por diversas razões, se preocupam com o capital humano que estamos formando hoje para utilização num futuro breve, que, todos esperamos, se apresente melhor do que o atual cenário socioeconômico do Brasil. Na ótica dos jovens estudantes, ávidos por uma oportunidade de ingressar no mercado de trabalho, o dado mais animador é o crescimento de 12,5% no número de contratos de estágio assinados ao longo dos doze meses do ano passado, totalizando marca recorde de 205 mil vagas preenchidas com candidatos selecionados no cadastro do CIEE. Somando-se os contratos ativos iniciados em 2005, o total de estágios administrados pela nossa organização atingiu um número próximo dos 270 mil. Em outras palavras, esse balanço significa que quase 270 mil estudantes estarão mais capacitados para enfrentar a competitividade do mercado de trabalho - seja como aspirante a um primeiro emprego, seja como empreendedor iniciante - graças ao apoio oferecido por mais de 20 mil empresas e órgãos públicos parceiros.

Vale lembrar que os jovens respondem a essa oportunidade com uma boa dose de esforço e dedicação, ao vencer o desafio de conciliar estudos e treinamento prático - tudo para atingir o objetivo de ser "descoberto" como um futuro talento. Alguns outros indicadores levantados ao longo de 2006 atestam que cada vez mais empresas - em especial as mais produtivas e modernas - identificam dois aspectos positivos nos seus programas de estágio. Um deles é a possibilidade de cumprir com sua responsabilidade social pelo caminho mais eficaz para a inclusão social e a criação de condições para a sustentabilidade do desenvolvimento (hoje um fator crítico, dada a péssima classificação brasileira no ranking internacional da qualidade da mão-de-obra), que é a preparação de profissionais aptos a enfrentar a realidade econômica de um mundo globalizado e acirradamente competitivo, no qual inevitavelmente apenas prosperarão os países mais preparados. Outro indicador é a crescente utilização do estágio como fonte de recrutamento de novos talentos, cuja eficácia é atestada pela efetivação, em empregos formais, de 64% dos estudantes em treinamento, conforme pesquisa do instituto TNS InterScience.

Não bastassem esses dois indicadores, a lista das melhores empresas para trabalhar, escolhidas na décima edição da pesquisa recentemente realizada pelo instituto Great Place To Work em parceria com a revista Época, traz um dado interessante que confirma o peso que os programas de estágio vêm ganhando nas políticas de RH das corporações: 68 das 100 eleitas incluem estagiários em seu quadro de colaboradores. Para confirmar, outra pesquisa conduzida pela TNS InterScience no segundo semestre do ano passado revela que 93% das 4.112 organizações consultadas consideram que a presença do estagiário é importante ou muito importante para a empresa. Primeira referência quando se trata de estágio para 70% delas, a pesquisa trouxe uma conclusão sobre o papel do CIEE na área do estágio que surpreendeu, por sua raridade, os próprios analistas da InterScience: índice de 100% de fidelidade entre as parceiras e 0% de rejeição no total das consultas.

A imagem positiva que consolidou no mundo corporativo e a tendência crescente de alta na contratação de estagiários não são apenas motivo de orgulho pelo resultado de 42 anos de atividade, que nos permitiram encaminhar mais de 6 milhões de jovens para treinamento prático. Constituem, também, uma renovação do compromisso do CIEE com o futuro dos estudantes e com sua missão de contribuir para assegurar às empresas o necessário capital humano que, segundo especialistas, será cada vez mais o diferencial vantajoso na nova realidade do mercado.

Para encerrar esse rápido balanço, não se pode ignorar o novo e desalentador cenário que começa a se desenhar no mercado de trabalho, não só do País mas também do mundo. Estudos mostram que os jovens de 15 a 24 anos constituem a faixa etária mais penalizada pelo desemprego - nas grandes periferias brasileiras, por exemplo, chega a 27% a parcela dos jovens que não trabalham nem estudam. Com esse quadro cinzento, coexiste um paradoxo, bem conhecido dos executivos de RH e que deveria preocupar os articuladores das políticas públicas de inclusão juvenil e levá-los a estimular todas as iniciativas voltadas para a inserção profissional: em que pese a decrescente, mas ainda elevada taxa de desemprego, todos os centros de recrutamento de pessoal registram um número significativo de vagas que permanecem abertas pela inexistência de profissionais preparados para ocupá-las, deficiência detectada até mesmo entre os universitários diplomados, que chegam ao mercado sem a prática das competências e posturas exigidas pelo ambiente corporativo (deficiência eliminada pelo estágio bem realizado).

Levando em conta, ainda, a tendência internacional de redução da oferta de empregos formais, todos os esforços deveriam ser aplicados na capacitação dos jovens tanto para disputar uma vaga como celetista, quanto para enfrentar o desafio de assumir uma atitude empreendedora e partir para a abertura de um negócio próprio ou para o exercício de formas alternativas de ocupação. O estágio, dada sua flexibilidade e sua eficácia, continua a ser um dos melhores instrumentos para abrir espaço ao jovem, ao mesmo tempo em que permite às organizações moldar os futuros talentos sob medida para atender a seu planejamento estratégico de curto, médio ou longo prazo.

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