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Autor:
Max Schrappe
Qualificação:
Presidente da Confederação Latino-Americana da Indústria Gráfica (Conlatingraf) e do Conselho Consultivo da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf)
E-Mail
[email protected]
Data:
01/07/04
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Prioridade do Emprego na América Latina

O "Relatório de Progresso Econômico e Social" do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), recentemente apresentado, demonstrou que o desemprego na América Latina é o mais alto dos últimos 20 anos. Paralelamente, a massa salarial cresceu muito pouco e até mesmo manteve-se estagnada em alguns países. No Brasil, especificamente, conforme números oficiais, o poder de compra dos trabalhadores caiu 12% em 2003. No tocante ao desemprego, nosso Continente retrocedeu ao início da década de 80. O índice médio está na casa dos 10%.

O estudo demonstra, ainda, que metade dos latino-americanos ganha menos do que um dólar por hora, permanecendo abaixo ou próxima da linha da pobreza. Além disso, também representa 50% do total de trabalhadores o contingente sem qualquer proteção social prevista na lei. Na maioria dos casos, essas pessoas mergulhadas na informalidade são subempregadas. Para elas, perder o emprego é muito mais grave, pois sequer têm como recorrer à rede de proteção social. Passam, na verdade, a engrossar as estatísticas da exclusão.

Estes números, não bastassem refletir a grande dimensão da dívida social no Continente e a premência do estabelecimento de políticas econômicas voltadas ao crescimento e à geração de empregos, têm impacto direto sobre a indústria gráfica. O setor é um dos mais sensíveis às oscilações da economia, refletindo de forma rápida e aguda o crescimento ou a retração.

É óbvio que os 50% de trabalhadores latino-americanos próximos da linha da miséria consomem muito pouco. Seu trabalho é praticamente de subsistência. Para esse expressivo contingente populacional, livros, revistas e jornais são supérfluos. Além disso, é muito limitado seu acesso a produtos industrializados, com rótulos, manuais de instruções e embalagens mais sofisticadas, com alto valor agregado. Da mesma forma, praticamente não usam talão de cheques ou cartões. Ou seja, são pessoas praticamente excluídas. Ou seja, a indústria gráfica também oferece dimensão precisa das conseqüências do desemprego e/ou a baixa renda no processo da exclusão social.

Como setor importante da economia e um dos mais significativos elos da cadeia produtiva da comunicação, a indústria gráfica, por meio de suas entidades de classe, deve engajar-se cada vez mais nos debates dos grandes temas, dentre eles a sensível questão do desemprego, que torna o desafio do crescimento econômico o mais premente na América Latina. As economias da região, que, com raras exceções, têm permanecido quase estagnadas nos últimos anos, precisam inverter este quadro. É preciso substituir o círculo vicioso da retração pelo círculo virtuoso da expansão, da geração de empregos e do proporcional resgate da dívida social.

Além dos benefícios intrínsecos desse processo no âmbito de cada Nação, é preciso ter consciência de uma questão fundamental: o estabelecimento de um verdadeiro mercado, constituído por milhões e milhões de habitantes com poder de compra e inseridos nos benefícios da economia, será o mais importante cacife nas mesas de negociação da Alca e de todos os fóruns da economia globalizada.

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